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Palermo é a capital dos 1001 estilos
Heloísa Cestari
Do Diário do Grande ABC
18/06/2003 | 19:00
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Apesar de fundada por fenícios e dominada pelos gregos por um longo tempo, toda a estrutura urbana de Palermo, atual capital da Sicília, revela sua indisfarçável preferência pela cultura árabe. Afinal, foram eles que primeiro pensaram em utilizá-la como capital. E também deve-se aos muçulmanos o estilo arquitetônico que predomina em algumas das mais expressivas edificações da cidade. Os normandos até tentaram pôr um fim na influência moura depois que aproveitaram os embalos das primeiras Cruzadas para expulsar os árabes de todo o território siciliano. Mas não foram muito felizes na tarefa.

Os antigos templos de reverência a Maomé, por exemplo, foram reformados para ganhar ares de igreja católica, mas basta olhar o teto para constatar que ali, no passado, muita gente já se ajoelhou em direção à Meca. É o caso da capela de San Giovanni degli Eremiti, cuja cúpula rosada apresenta aquele formato semi-esférico típico das grandes mesquitas de culto ao Corão. Mesma situação da igreja de San Cataldo, que contrasta as cúpulas arredondadas do teto com os expressivos mosaicos normandos do piso. Já a Catedral de Palermo peca por sua cúpula barroca, que nada tem a ver com as torres, o portal gótico, as portas de bronze e outros detalhes da construção.

O Palazzo Dei Normanni foi construído pelos árabes no século IX para servir de residência oficial dos emires – líderes do povo mouro na época. E realmente serviu para recepcioná-los, mas só até o ano de 950, quando os normandos decidiram transformar o edifício num grande centro enaltecedor de sua própria cultura. Depois, vieram os espanhóis, que modificaram toda a fachada do palácio e ainda construíram grandes pátios ao redor, como o della Fontana, um dos mais importantes de toda a Sicília.

Outros palácios tiveram destinos bastante diferentes: enquanto o gótico Chiaramonte, construído em 1307, serviu de palco para a regional da Santa Inquisição condenar centenas de pessoas à fogueira – além de testemunhar a frustrada tentativa do tribunal palermitano de levar alguns mafiosos locais ao “xilindró” em 1960 –, no palácio Zisa (que em árabe significa esplêndido), o que prevaleceu foram as orgias do rei de Altavilla em pleno século XII. Nada modesto, o monarca resolveu fazer as vezes de sultão e tratou de rechear o magnífico palácio com as mulheres mais belas de Palermo, transformando-o no mais famoso harém de todo o Mediterrâneo.

Museus – Com tanta história para contar, não é de se estranhar que Palermo disponha de museus com os mais variados temas. A começar pelo Museu Arqueológico Nacional, um dos mais importantes do gênero em toda a Itália, com inúmeros achados de escavações subaquáticas, uma escultura púnica com mais de 2,6 mil anos, epígrafos em grego, estátuas de divindades mitológicas e diversas relíquias trazidas do sítio arqueológico de Selinunte, além de urnas funerárias e dois sarcófagos femininos do século V a.C..

Por falar em mortos, quem não tem medo de alma penada também pode visitar o Catacombe dei Cappuccini. Suas numerosas galerias subterrâneas guardam mais de 8 mil cadáveres de leigos e religiosos ilustres que viveram entre os séculos XVII e XIX. Alguns estão reduzidos a esqueletos, mas há outros, mumificados, que permanecem em perfeito estado de conservação, dando a incômoda impressão de que, a qualquer momento, eles poderão levantar e sair andando para puxar o pé dos visitantes. Alguns deles mantêm até as habituais roupas de gala que trajavam em vida, ora sentados, ora de pé.

O segredo para essa fórmula da eternidade – digna de causar inveja a muita socialite por aí – está no sistema natural de ventilação das galerias, que evita a decomposição dos corpos. Antigamente, um dos programas preferidos do palermitano era levar a família ao Cappuccini no domingo para checar se os entes queridos continuavam inteiros.

Mas se a preferência for por distrações mais leves e artísticas, outros três bons museus são a Galeria de Arte Moderna (com pinturas e esculturas de artistas sicilianos dos séculos XIX e XX), a Galeria Regional da Sicília, e o famoso Museu da Marionete, que conta com mais de 2,5 mil bonecos vindos de diversas partes do mundo, inclusive do Brasil.




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