Economia Titulo
Metalúrgicos tentam
manter ganhos de 2010
Soraia Abreu Pedrozo
Do Diário do Grande ABC
19/08/2011 | 07:30
Compartilhar notícia


O cenário da economia brasileira no primeiro semestre, com o mercado interno bastante aquecido, apesar da enxurrada de itens importados, e o consumo crescente mesmo com as medidas de restrição de crédito e elevação da taxa básica de juros, fizeram com que os trabalhadores obtivessem reajustes salariais semelhantes aos de 2010, ano em que muitos setores, como o metalúrgico, conquistaram ganhos históricos. A intenção deles agora é, pelo menos, manter o aumento do ano passado.

Do total de 353 negociações salariais realizadas de janeiro a junho, 93% obtiveram reajustes iguais ou superiores à inflação (no ano passado foram 97%). A maioria, 298 acordos (84,4%), conseguiu superar o Índice Nacional de Preços ao Consumidor, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (em 2010, foram 87%). Os dados integram levantamento do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos divulgado ontem.

Os resultados só não foram melhores por conta da alta inflação. Para se ter ideia, o INPC/IBGE encerrou o ano passado com taxa de 4,29%, enquanto que, até junho, já estava em 6,4%. A inflação maior deixa tudo mais caro, inclusive para os empresários, que têm de despender mais recursos para adquirir matéria-prima e contratar os serviços, por exemplo. Com isso, sobra menos para elevar os ganhos reais dos trabalhadores.

Ainda assim, na avaliação do coordenador de relações sindicais do Dieese, José Silvestre Prado de Oliveira, os reajustes obtidos foram bastante positivos, e muito próximos dos de 2010. Neste semestre, a média de ganhos reais foi de 1,37% e, no mesmo período do ano passado, de 1,59%. "Os seis primeiros meses foram uma certa continuação de 2010, considerado o melhor ano de crescimento da economia do Brasil em 25 anos. E isso refletiu nas negociações."

O período, que concentrou os dissídios da construção civil, transportes e indústria química, entre outros, apresentou o segundo melhor resultado da série medida pelo Dieese, ficando atrás apenas do saldo de janeiro a junho do ano passado.

METALÚRGICOS - De qualquer maneira, os ganhos reais mais fortes são concedidos no segundo semestre, que é quando são definidas as datas-bases do segmento metalúrgico. A expectativa, segundo Silvestre, é que os bons resultados se mantenham.

No Grande ABC, as montadoras e as indústrias da cadeia automotiva vão decidir os reajustes, junto aos sindicatos, entre setembro e novembro.

O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Caetano (filiado à Força Sindical), Aparecido Inácio da Silva, o Cidão, afirma que a expectativa é que este ano supere os ganhos de 2010, já que a produção de veículos está a todo vapor, mesmo com a invasão de importados. "Pedimos 17,45% de reajuste, e esperamos PLR (Participação nos Lucros e Resultados) de R$ 13 mil, já que a primeira parcela paga foi alta, de R$ 5.800. De abono salarial, esperamos entre R$ 2.500 e R$ 3.000", conta. No ano passado, eles conseguiram acordar com a General Motors de aumento de 9%, PLR de R$ 11 mil e abono de R$ 2.000. Para as autopeças, que têm dissídio em novembro, depois da GM, que é em setembro, ele espera crescimento semelhante.

Para o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André (também filiado à Força), Cícero Firmino da Silva, o Martinha, a esperança é que, até outubro, a inflação recue, o que pode contribuir com o aumento de ganhos reais. A data-base da categoria é novembro, e ele espera que o reajuste supere os 9% de 2010.

Como a situação da CUT-SP (que inclui o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC) foi mais favorável que as demais, com aumento de 10,8% no ano passado, o presidente Valmir Marques, o Biro Biro, aponta que essa será uma meta difícil de se alcançar, já que as realidades são diferentes. "Não dá para usar o resultado do ano passado, que foi o melhor da história, como referência. Hoje a inflação é mais alta e o volume de importados, bem maior", diz. "Inclusive estamos apreensivos com a crise norte-americana, pois ninguém sabe ao certo o tamanho dela. O maior perigo é que, com a perda de mercados externos, o Brasil se torne um alvo ainda maior da entrada de importados." A data-base é em setembro.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;