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Leme defende corte na área básica para 17,5%
Do Diário do Grande ABC
17/06/2000 | 15:51
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O economista Paulo Leme, principal analista do banco americano Goldman Sachs para a América Latina, prevê turbulências para a economia brasileira a partir do quarto trimestre deste ano, mas mesmo assim recomenda um corte de pelo menos 0,50 ponto porcentual na taxa de juro básica na próxima reuniao do Comitê de Política Monetária (Copom) na segunda e terça-feira. "Nao adianta tomar antibiótico agora para se prevenir contra uma epidemia de gripe que só vai ocorrer daqui a três meses", ele resume. Um corte de juros agora, que para Leme poderia chegar a 0,75 ponto porcentual, ajudaria a reativar a atividade econômica. "A recuperaçao brasileira murchou em abril e maio", ele diz.

Leme observa que, no momento, ao contrário da última reuniao do Copom, em maio,"quase todos os sinais estao verdes para um corte nos juros". A inflaçao está em baixa, nao só emrelaçao aos resultados recentes mas também às expectativas. O economista acha que oFederal Reserve (Fed), banco central americano, nao mexerá nas taxas básicas do país na próxima reuniao do seu comitê decisório de política monetária, o FOMC, nos dias 27 e 28, garantindo um cenário benigno de juros. E o risco Brasil melhorou consideravelmente desde a última reuniao do Copom, com uma reduçao de cerca de 1 ponto porcentual no "spread" acima dos juros dos títulos americanos pago pelos C-Bonds, papéis da dívida externa brasileiros mais negociados no mercado internacional. "O único sinal vermelho no momento", continua Leme, "sao os preços do petróleo". Na reuniao de maio do Copom, lembra ele, todos os sinais estavam vermelhos, com exceçao da inflaçao.

Dificuldades - O otimismo de Leme, porém, extingue-se no curto prazo. Ele prevê um período potencialmente conturbado, iniciando-se no quarto trimestre e esticando-se até meados do próximo ano. Para começar, o economista acha que o preço do barril de petróleo pode subir até o intervalo entre US$ 35 e US$ 38 no final do ano, um período de altoconsumo do combustível.Leme observa também que o último trimestre é sazonalmenteruim para as contas externas brasileiras, com um serviço pesado dadívidaexterna, exportaçao agrícola reduzida e aumento da demanda por importaçoes.

A sua maior preocupaçao, porém, sao os rumos da política monetária americana. Para o economista, Alan Greenspan, presidente do Fed, tem sido excessivamente benevolente com osuperaquecimento da economia americana. "No seu último discurso ele foi além da conta no endosso ao paradigma da nova economia", diz Leme. Em outras palavras, ao frisar publicamente sua fé nos ganhos de produtividade associados às novas tecnologias, Greenspan estaria sinalizando para o mercado que nao está tao preocupado com as consequências inflacionárias da alta velocidade da economia dos Estados Unidos.

Torniquete - Para Leme, há relutância do Fed em apertar o torniquete da liquidez na maioreconomia do mundo. E isto, se beneficia o Brasil no curto prazo, poderá trazer problemas maiores mais adiante. Ele acha que os riscos inflacionários nosEstados Unidosestao mascarados pelo desequilíbrio externo. O descompasso entre demanda e oferta está sendo aliviado por um alto déficit em conta corrente, com as importaçoes baratas (pela força do dólar) atuando como um tampao da pressao inflacionária. O problema, porém, é que este déficit em conta corrente pode vir a ser percebido como insustentável pelo mercado, o que derrubaria o dólar, fazendo com que a alta dos preços domésticos se transformasse no mecanismo de equilíbrio entre demanda e oferta. Em outras palavras, o déficit em conta corrente seria substituído pela inflaçao, o que poderia levar a novas e fortes subidas dos juros nos EUA. Leme acha que os sinais iniciais de "pouso suave" da economia americana estao distorcidos pela comparaçao com a base superpressionada do primeiro trimestre: "O ímpeto da economia nao arrefeceu nem um pouco".

Novas turbulências na economia americana e uma alta do preço do petróleo poderiam atingir o Brasil com mais intensidade segundo Leme, em meados do próximo ano, período que ele descreve como "o início do ciclo político das eleiçoes presidenciais". Ele observa que medidas drásticas para combater os efeitos de uma eventual crise sao sempre maisdifíceis detomar em períodos politicamente carregados, o que faz com que opossível"timing" de uma nova turbulência seja especialmente perigoso.

Reformas - Para reduzir os riscos à frente, Leme recomenda uma retomada da agenda de reformas. Ele lamenta que a reforma tributária e a questao da contribuiçao dos inativos estejam paralisadas, e critica o que chama de "modelo altamentepolitizado" da privatizaçao de Furnas. "A letargia em Brasília me preocupa", diz Leme. O economista defende também a montagem de uma "couraça protetora", ou um "fundo de caixa", nos próximos dois ou três meses, que ele acha que serao receptivos ao risco Brasil. "O BC devia ir logo ao mercado fazer uma captaçao de US$ 1 bilhao de bônus globais, com títulos novos e troca de dívida", ele aconselha.

Leme também acha que a privatizaçao deveria ser acelerada, assim como as concessoes da Banda C de telefonia celular, com as quais vê um potencial de entrada de recursos externos de US$ 5 bilhoes a US$ 8 bilhoes. Para o economista da Goldman Sachs, as concessoes já poderiam começar a render reservas para o governo a partir de novembro.




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