Economia Titulo Turbulência
Indústria tem pior fevereiro desde 2000

Setor perde 24 mil empregos em um mês na região e tem
menos trabalhadores ativos do que na crise econômica

Soraia Abreu Pedrozo
Do Diário do Grande ABC
29/03/2012 | 07:23
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O setor industrial mais uma vez está com o sinal vermelho aceso. Após as perdas de emprego geradas pela crise econômica internacional, eclodida em setembro de 2008, e a aparente recuperação ocorrida ao longo de 2010, as companhias da região demitiram 24 mil trabalhadores em fevereiro. Na comparação com fevereiro do ano passado, o efetivo em atividade nas indústrias foi reduzido em 18 mil. Esse é o pior mês para o ramo desde 2000.

Os dados integram a PED (Pesquisa de Emprego e Desemprego) do Seade/Dieese divulgada ontem no Consórcio Intermunicipal do Grande ABC. O estudo, que realiza entrevistas domiciliares todos os meses, abrange tanto pessoas com registro em carteira como informais e autônomos.

O cenário assusta principalmente quando se percebe que o estrago atual é maior do que o provocado pela crise. Em fevereiro de 2009, auge da turbulência, as indústrias do Grande ABC empregavam 332 mil pessoas, volume que supera em 3.000 trabalhadores o registrado no mesmo mês neste ano, 329 mil.

Quando as fabricantes da região esboçaram recuperação pós-crise, mesmo com contratações que ofereciam, em contrapartida, salários menores, o dólar baixo, na casa de R$ 1,60 (que se manteve durante quase todo o ano passado), e a consequente enxurrada de importações inviabilizaram a retomada do segmento.

Com real valorizado, elevada carga tributária e juros altos (a taxa básica só começou a cair em setembro, após atingir 12,5% ao ano) a concorrência com itens trazidos do Exterior, principalmente os chineses, ficou impraticável. Além disso, os preços dos produtos nacionais lá fora ficaram mais caros. O que, com as crises nos Estados Unidos e na zona do euro, limitou ainda mais a venda externa.

As boas-vindas da indústria a 2012 praticamente começam em fevereiro, pois em janeiro são concedidas as férias coletivas das montadoras. Porém, em uma delas, a Ford, que fica em São Bernardo, a volta foi parcial: desde então os funcionários só estão trabalhando três vezes por semana. A Mercedes-Benz, na mesma cidade, anunciou novas férias coletivas de dez dias em abril para ajustar a produção.

Com isso, todo o restante da cadeia, que depende essencialmente do setor automotivo, é prejudicado. Sem pedidos, fica difícil manter o quadro de funcionários.

É o caso da MRS, fabricante de componentes para caminhões e ônibus (como suspensão, câmbio e freio) de Mauá. "Cerca de 30% do nosso fornecimento vão para as montadoras. Mas, com esse ritmo, nossa produção está 40% menor do que no mesmo período do ano passado", revela o diretor Celso Cestari.

De fato, no primeiro bimestre, a fabricação de caminhões se retraiu 50%, enquanto a de ônibus caiu 47% frente ao mesmo período de 2011. Os dados têm maior reflexo no Grande ABC, onde se concentra 55% da produção nacional de caminhões. Cestari ainda não demitiu, mas afirma que a situação está difícil. "Meu faturamento no bimestre foi 8% menor do que o de 2011, que não foi grande coisa para nós."

Notícias como essas, de pessimismo no mercado de trabalho, se espalham rápido. E isso pode ter contribuído, na avaliação do gerente de pesquisas do Seade, Alexandre Loloian, para que houvesse algo inédito: a expressiva redução da população economicamente ativa, composta por quem está empregado e aqueles que estão em busca de ocupação. "Em fevereiro, 19 mil pessoas deixaram de procurar emprego."

Os indícios da desindustrialização que assola a região vêm de tempos atrás. O setor perdeu, de 1989 a 2009, 49.620 trabalhadores com registro em carteira.

 

Taxa de desemprego no Grande ABC sobe para 10,2%

A taxa de desemprego no Grande ABC encerrou fevereiro em 10,2%. Isso significa que 142 mil pessoas nas sete cidades estão sem ocupação. O montante supera em 9.000 o total de janeiro, quando estavam desempregados 133 mil e em 10 mil o volume de fevereiro do ano passado, 132 mil.

A taxa só não foi maior por conta da redução da população economicamente ativa, composta por 1,397 milhão de pessoas. Afinal, quanto menos gente à procura de emprego, menor é a PEA.

Diminuiu também significativamente o total de ocupados na região, que soma 1,255 milhão, 28 mil a menos que em janeiro. Desse total, além dos 24 mil a menos na indústria, tem-se 8.000 a menos em serviços e 4.000 a menos no comércio. "As vagas em serviços recuaram porque diminuíram os investimentos em empresas que necessitam do setor e, ao mesmo tempo, porque o rendimento do trabalhador está menor, por isso ele está gastando menos", diz Alexandre Loloian. Só o setor outros, que inclui construção e emprego doméstico, teve saldo positivo: 8.000 empregados a mais.




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