Mais de dez mil partidários do Fatah e outros movimentos palestinos desafiaram o Hamas nesta sexta-feira rezando e protestando nas ruas de Gaza, nas maiores manifestações desde a tomada de controle do território pelo movimento islâmico.

Os protestos foram reprimidos pelos membros da Força Executiva, a polícia do Hamas. Doze pessoas foram levemente feridas nesses confrontos, entre elas dois jornalistas franceses do canal de TV franco-alemão Arte.

Trata-se do maior movimento de contestação na Faixa de Gaza desde que os radicais islâmicos tomaram o poder no território, em 15 de junho. A Cisjordâniam, por sua vez, ficou sob o controle do chefe do Fatah, o presidente Mahmud Abbas.

"O que aconteceu em Gaza nesta sexta-feira prova mais uma vez que o Hamas aplica um projeto golpista, cujo objetivo é impor uma ditadura cega e uma ideologia extremista", afirmaram em comunicado os assessores de Abbas em Ramallah, na Cisjordânia.

Participação - Milhares de moradores da Faixa de Gaza responderam ao apelo do Fatah e de vários outros movimentos palestinos, que haviam pedido a seus partidários para rezar das ruas em protesto contra o controle do Hamas sobre os locais de oração.

Em Gaza, milhares de pessoas participaram da tradicional oração de sexta-feira em uma grande praça, cercadas por centenas de homens da polícia do Hamas. Apesar dos apelos à "unidade nacional" lançados pelo imã, parte da multidão desfilou em seguida nas ruas da cidade para criticar o Hamas e o afastado primeiro-ministro Ismael Haniyeh.

"Haniyeh, miserável, vá embora! Seja bem-vindo, Mohammed Dahlan!", gritavam os manifestantes, referindo-se a um dos deputados do Fatah mais odiado pelo Hamas. "Xiitas assassinos!", clamavam outros, denunciando as ligações entre o Hamas e a República islâmica do Irã.

Repreensão - Segundo testemunhas, a polícia do Hamas espancou e prendeu vários manifestantes. Durante o protesto, uma bomba de efeito moral foi lançada na multidão, ferindo levemente dois jornalistas franceses do canal Arte, Barbara Lohr e Frédéric Bak, de acordo com uma fonte médica.

Em Rafah, no sul da Faixa de Gaza, quase cinco mil pessoas se reuniram para a oração. Dez pessoas foram levemente feridas por bombas de efeito moral lançadas pela Força Executiva, segundo uma fonte médica e testemunhas.

"Não houve detenções por causa da oração na rua, mas sim por causa dos tumultos e das infrações à lei", afirmou Ihab al-Ghassin, porta-voz da Força Executiva, durante uma entrevista coletiva.

Antes da manifestação, moradores de Gaza receberam mensagens de advertência em seus telefones celulares.

"Tua presença na oração com o Fatah te causará muitos problemas, e te aconselhamos a rezar em outro lugar. Você não merece ser espancado, detido ou morto por causa de um bando de corruptos que você conhece bem", dizia a mensagem, recebida por dezenas de pessoas.