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A exótica Marajó
Heloísa Cestari
Do Diário do Grande ABC
02/09/2010 | 07:11
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Terra da cerâmica marajoara, da dança carimbó, de relíquias arqueológicas e de um povo tão simples quanto hospitaleiro, a Ilha de Marajó constitui um irrecusável convite à aventura, seja em passeios por savanas sobre o lombo de um búfalo ou em expedições a canoa por rios e igarapés, sempre amparados pelo verde dos longos trechos de Floresta Amazônica, vez ou outra realçado pelo branco de uma garça ou pelo vermelho-vivo de um guará.

Maior ilha flúvio-marítima do mundo, Marajó atraiu os holofotes nacionais depois que serviu de cenário, em 2001, para o reality show da Rede Globo No Limite. Mas seu encantos são velhos conhecidos dos paraenses.

Com cerca de 50 mil quilômetros quadrados de extensão - área superior a de países como Bélgica (30.518 km²), Suíça (41.285) e Dinamarca (43.093) -, Marajó reúne praias selvagens e o maior rebanho de búfalos do País. Sua grandiosidade, no entanto, vai além de números e estatísticas.

Também é em Marajó que acontece um dos fenômenos mais intrigantes da Amazônia: a pororoca, quando as águas do rio chocam-se com as do Oceano Atlântico provocando ondas de até 6 metros de altura.

Devido ao fraco desnível da bacia amazônica, a ilha fica alagada de janeiro a julho, fazendo com que o aspecto de suas praias salobras se alterne, ao longo dos meses, entre o verde das águas salgadas do mar e o doce-barrento típico dos rios amazônicos.

Entre os 14 municípios pertencentes a Marajó, Soure e Salvaterra disputam o título não-oficial de capital da ilha. O primeiro é considerado a porta de entrada para quem vai de avião, enquanto que o segundo abriga o porto Camará, principal ponto de desembarque dos passageiros que vêm de Belém a navio, lancha ou ferry-boat.

Rivalidades à parte, as belíssimas praias e curiosidades próprias de cada cidade fazem qualquer uma das duas merecer ser incluída em roteiros turísticos pela ilha.

Soure conta com as praias fluviais de Barra Velha, Araruna, Céu, Cajuuna e a do Pesqueiro, que possui quiosques para o visitante pendurar sua rede e descansar à sombra gratuitamente.

A região dos campos guarda, ainda, várias espécies típicas da fauna marajoara, como mergulhões, pacas, cotias e os jacarés, que um dia inspiraram o nome do município contam os historiadores que a cidade já foi chamada de Monte-Forte e Menino-Deus antes de os colonizadores portugueses batizarem-na de Soure em alusão à enorme quantidade de sauriuns (jacarés).

Com o tempo, os répteis mudaram-se para áreas mais isoladas e o pequeno povoado cresceu, dando origem ao maior município em extensão da ilha, com cerca de 21 mil habitantes.

Salvaterra, por sua vez, ocupa apenas 2% da área total da ilha, mas é tão grandiosa em atrativos que ninguém contestaria o carinhoso apelido de Princesinha do Marajó. Muito pelo contrário: seus encantos já lhe renderam tantos elogios que até o poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade, num belo dia, debruçou-se sobre o papel para declarar seu fascínio: "Salvaterra é um segredo, um presente fechado, porta-jóias, senha maçônica. É preciso respeitar Salvaterra. É preciso amar Salvaterra. Ah, você não calcula..."

O saudoso poeta de Itabira, no entanto, está longe de ter sido o primeiro a descobrir as belezas da cidade. Vários estudiosos sustentam a tese de que o navegador espanhol Vicente Yañez Pizón, durante a expedição de Américo Vespúcio, teria aportado em Salvaterra no ano de 1498, dois anos antes de o Brasil ser oficialmente descoberto pelos portugueses da esquadra de Pedro Álvares Cabral.

Surpreendido pelas altas ondas provocadas pelo fenômeno da pororoca, o navegador teria buscado refúgio em uma ilha desconhecida, batizada por ele de Ilha Grande de Joanes hoje, uma das 47 vilas do município, com ruínas da primeira igreja erguida por jesuítas portugueses durante o século 17.




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