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'Os Pobres Diabos' estreia na 5ª e traz as aventuras de um trupe de circo
04/07/2017 | 07:45
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A atriz Silvia Buarque relembra a própria surpresa, ao iniciar as filmagens de Os Pobres Diabos, há quatro anos. "Descobri o que seria o trabalho na prática. Antes de viajar para o Ceará, tentei me preparar no Rio de Janeiro: li muita literatura de cordel, tive aulas com uma fonoaudióloga para descobrir um sotaque nordestino, mas foi só chegando lá é que descobri que minha personagem, Creuza, estava muito distante de mim e que tinha muito o que aprender", relembra ela, uma das protagonistas do longa dirigido por Rosemberg Cariry, que estreia na quinta-feira, dia 6.

De fato, o cineasta desenvolve uma carreira muito autoral, em que o artesanato tem mais importância do que um produto industrial. "Um filme não é só um produto econômico ou exemplo de um modelo de produção - é um processo, uma alquimia no sentido humano, psíquico, cultural, da cumplicidade que se arma naquele momento", explica ele. Com isso, Cariry já explica seu prazer em trabalhar com dois grupos distintos que, unidos, formam um terceiro e sua opção pelo improviso, forma de ação repudiada em produções marcadas por um cronograma.

Assim, Silvia e um grupo de outros grandes atores (Chico Diaz, Everaldo Pontes, Gero Camilo, Zezita Matos e Sâmia Bittencourt) se uniram a artistas locais de circo para compor a trama de Os Pobres Diabos: juntos, eles perambulam por pequenas cidades dos sertões com o Gran Circo Teatro Americano, uma companhia mambembe e muito pobre. Eles vagueiam até chegar à cidade litorânea de Aracati, no Ceará, onde montam uma peça de teatro. São muitas as dificuldades, mas a arte ajuda a superar desventuras e tragédias.

"O que me motivou a rodar esse filme foi a possibilidade de fazer uma homenagem aos pequenos e pobres circos que perambulavam pelo sertão. E, por mais precário que fossem, eles provocavam uma grande motivação. Queria homenagear aquelas vivências difíceis, precárias, de pessoas que não sabiam como seria sua vida no dia seguinte", conta Cariry, que evitou resvalar em estereótipos ao optar por uma narrativa que se propõe simples, a exemplo das escritas da literatura de cordel.

Nesse sentido, ele optou por um cronograma aberto de filmagem, que abrigava com prazer os imprevistos - climáticos ou artísticos. "Realizamos um cinema que se coloca dentro da vida, um destino que se constrói junto ao acaso. No set, improvisamos muito e incorporamos cada dificuldade, cada chuva, cada dia de sol, cada talento ou idiossincrasias dos atores", explica Rosemberg.

O processo revelou-se estimulante, segundo os atores, que sentiram a experiência na pele. "A indústria exige uma forma de produção muito planejada e, nessa forma singular do Cariry de fazer cinema, não sabíamos o que aconteceria no dia seguinte", conta Chico Diaz. "O que norteava o diretor era o material pronto até então. Assim, tínhamos de estar sempre disponíveis ao que viria - desde dar cambalhotas ou andar na perna de pau até estar pronto para encenar a história de cordel, sobre a visita de Lamparina ao inferno."

E foi da decisão espontânea de rodar uma cena não prevista para aquele dia que surgiram os momentos de autêntica verdade do filme. Foi o que aconteceu com Silvia Buarque. "Creuza é uma impostora: canta mal, dança mal, interpreta mal e também é péssima ao fingir ser uma artista estrangeira, pois fala mal em espanhol", diverte-se ela, cujo portunhol foi incorporado graças a uma sugestão de Chico Diaz. "Ele ficou impressionado com minha cara de pau ao tentar improvisar em espanhol, quando viajamos para Colômbia e Costa Rica."

Assim, a atriz preparava-se dia a dia para uma cena que seria gravada dali a duas semanas, em que Creuza canta La Adelita, canção folclórica mexicana surgida durante a revolução daquele país, quando foi surpreendida pelo diretor. "Era uma hora da manhã quando o Rosemberg me convidou para rodar a cena. Eu nem tinha decorado a letra, mas, como ele disse que descartaria a cena se não ficasse boa, topei".

Silvia botou a peruca, passou rapidamente a letra e gravou duas tomadas. "Eles voltaram tão felizes para o hotel que tive a certeza que a cena tinha ficado muito boa", atesta Chico Diaz.

Passados quatro anos após o final da filmagem, elenco e diretor ficam entusiasmados com a atualidade cada vez mais impactante de Os Pobres Diabos. "A precária situação dos artistas está cada vez mais evidente, especialmente no Rio de Janeiro, onde moro e onde há uma lista imensa de teatros que foram fechando as portas nos últimos meses", lamenta-se Silvia. "A discussão sobre o significado de cultura e especificidade cultural continua como um dos grandes desafios para os quais devemos estar sempre atentos", completa Cariry.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.




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