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Londres: psiquiatras nao entendem médico assassino
Do Diário do Grande ABC
01/02/2000 | 14:27
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Sua esquizofrenia e sua ambiçao pelo poder absoluto sao evidentes, mas os psiquiatras ainda tentam entender a personalidade do dr. Harold Shipman, um dos piores assassinos em série do mundo e que poderá levar consigo seu segredo para o túmulo.

Por falta de motivos evidentes, os psiquiatras deram um diagnóstico inicial de uma forma de necrofilia desprovida de qualquer conotaçao sexual, durante o processo do médico clínico geral condenado esta segunda-feira à prisao perpétua pelo assassinato de 15 pacientes. Na realidade, a polícia suspeita de 141 assassinatos.

Outras testemunhas evocaram explicaçoes do tipo ``vontade de exercer poder absoluto' e ``esquizofrenia aguda'. A eutanásia que nao era necessária em nenhum dos casos e a ânsia de lucro parecem estar descartadas, com exceçao em um caso no qual o médico tentou apropriar-se da herança de uma de suas vítimas.

Aluno estudioso, apesar de nao brilhante, esportista, mas pouco sociável, Shipman teria ficado traumatizado aos 17 anos pela morte de sua mae, a quem acompanhou até o último momento. Vera Shipman morreu aos 42 anos, vítima de câncer de pulmao, recebendo doses diárias de morfina.

Em suas 15 vítimas, mulheres entre 49 e 81 anos, o médico administrou doses mortais de morfina ou de diamofina, nome médico da heroína, da qual a polícia encontrou mais de mil ampolas em seu consultório.

O único especialista em doenças mentais que o interrogou, o dr. Richard Badcock, diagnosticou ``um caso clássico de necrofilia, no qual o paciente nao está obcecado pelo ato sexual com um morto e sim pelo ato de proporcionar a morte, de controlar o processo, de observar o momento em que a vida abandona o corpo'.

Em uma entrevista ao Daily Telegraph desta terça-feira, o especialista mencionou tratar-se ``mais do que uma doença, uma desordem pisquiátrica que trascende as disciplinas convencionais da medicina, da psicologia, da religiao (...) com algo demoníaco'.

O dr. Shipman confessou ``sua vontade de controlar a vida e a morte', declarou ao tribunal o superintendente Bernard Postes, convocado como testemunha de acusaçao. O inspector Mike Williams declarou que o médico teria lhe dito: ``Sou um ser superior'.

O médico, que ante o tribunal se declarou inocente, nao manifestou qualquer emoçao esta segunda-feira, ao ouvir a sentença. Durante 20 anos, Shipman enganou a todos, sua mulher, seus quatro filhos, seus colegas que o consideram um pouco arrogante, mas competente, e a seus inúmeros pacientes.

``O mais notável é que nao havia nada notável', comentou um estudante de medicina, Peter Costen. O caso do dr. Shipman colocou em evidência a preocupante falta de controle da atividade dos médicos particulares britânicos, problema em relaçao ao qual o governo deve explicar-se esta terça-feira ante a Câmara dos Comuns.

O médico assassino armazenava em seu consultório uma impressionante quantidade de morfina, da qual se servia para matar seus pacientes, sem qualquer justificativa médica e sem o mínimo controle.

Esta falta de controle é mais surpreendente porque Shipman já havia sido condenado nos 70 a uma multa por ter passado 70 receitas a fim de satisfazer seu consumo de drogas em um momento de depressao aguda.

Espera-se agora que o ministro britânico de Saúde, Alan Milburn, anuncie hoje a formaçao de uma comissao de investigaçao para tentar paliar as inúmeras deficiências do sistema de controle dos 2.847 médicos clínicos que exercem a profissao no país.




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