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Um hatch médio ligadão
Vagner Aquino
do Diário do Grande ABC
08/06/2011 | 07:00
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Em plena segunda-feira, sob um frio que rondava os 10ºC, lá vou eu em direção a um famoso parque de diversões da Capital paulista. Mas, diferentemente das excursões de escola, da época da adolescência - quando pegava carona nos carrinhos da montanha-russa, mergulhava no barco-viking ou via São Paulo inteira do alto do Sky Coaster - desta vez me aventurei em outro brinquedo: o Nissan Leaf.

Sim, já ouvimos falar muito em carros elétricos e soluções ecologicamente corretas para veículos, mas aqui, a novidade é que o modelo é o primeiro carro movido 100% a eletricidade produzido em larga escala.

Após, praticamente, um curso de mecânica, aliás, de eletrônica, lá fomos nós rumo ao trabalho. Uma fila de veículos Leaf nos esperava no estacionamento do parque.

Por fora, nada tão gritante. Aparentemente um carro comum, salvo as lanternas brancas e o narigão, que abriga as tomadas de recarga das baterias de íons de lítio, que possuem 48 módulos e garantem até 160 quilômetros de autonomia com uma única carga. Para isso são necessárias oito horas em uma tomada de 220 volts, ou ainda ter 80% de capacidade em 30 minutos, quando usado um carregador de 400 volts.

Mas da porta para dentro, a história do Leaf é outra.

A cabine é espaçosa, e a sensação aumenta graças ao revestimento em tom claro.

Ligo o painel por meio de um botão no console (a chave é presencial). Aperto novamente, e é a vez de o painel de instrumentos (totalmente digital) se iluminar, me mostrando o velocímetro, indicador de temperatura e tempo de vida da bateria, medidor de energia, indicador de nível de capacidade, display de autonomia, entre outras funções. Ao terceiro toque, o carro está em funcionamento. O silêncio é total! Para ter a certeza de que o carro está em funcionamento, é necessário prestar atenção em um ícone no painel, que exibe a imagem de um carro verde.

Para acompanhar o silêncio do motor, outros componentes do carro precisaram ser mudados, como os faróis dianteiros, por exemplo, que são, propositadamente, saltados para redirecionar o fluxo de ar dos retrovisores externos e reduzir o barulho do vento.

Câmbio não há. Apenas uma espécie de joystick, que, curiosamente, move o carro para frente se colocado para trás e engata a marcha à ré quando movido para a frente.

Agora é só acelerar - o freio de estacionamento é liberado automaticamente - e colocar o motor de 80 kW, que equivale a 107 cv, para trabalhar. O torque máximo de 28,5 mkgf já está disponível a parir de 1 rpm.

É impressionante como os 290 quilos das baterias não deixam o Leaf com aquele aspecto pesadão. A docilidade de condução é digna de sedãs de luxo com câmbio automático.

A cada frenagem, as baterias são recarregadas pelo motor elétrico, que atua como um gerador. E o modo Eco pode ser acionado por uma tecla, garantindo maior autonomia (principalmente no trânsito urbano) e ainda mais economia de energia, ilustrada por ícones em formato de árvore que aparecem no painel (quanto mais árvores, maior a economia).

Apesar de o carro chegar aos 144 km/h de velocidade máxima (160 km/h quando as baterias estão 100% carregadas), não pude passar dos 20 km/h durante os dois quilômetros de trajeto do test drive... Uma pena, mas já deu para ver do que o carro é capaz. O jeito foi controlar a ansiedade do pé direito, estacionar (com o auxílio da câmera de ré) e apertar o botão (P) que fica sobre a transmissão, para colocar o veículo em ponto morto.

Falta incentivo no Brasil

Um veículo com emissão zero, que não exige troca de óleo, disco ou velas e possibilita reciclagem de 85% dos materiais usados em sua produção após o término da vida útil. Este é o Nissan Leaf.

Mas com tantos atributos, o que o Brasil espera para trazer este carro para as ruas daqui? "Antes de tudo, são necessários incentivos do governo e infraestrutura", afirma Yochio Ito, gerente de engenharia da Nissan.

Ele explica que, no Brasil, os postes públicos não são permitidos pelas companhias de energia. Há um estudo para que a AES Eletropaulo disponibilize o serviço em São Paulo, mas "ainda há um longo caminho pela frente", afirma Ito.

Nos Estados Unidos, o Leaf (que foi lançado por lá em dezembro de 2010) custa U$S 25.280 sem contar o incentivo de U$S 7.500 dado pelo governo. Aqui, de acordo com a Nissan, o carro não sairia por menos de R$ 160 mil.

Fica a pergunta: será que não está na hora de o governo se inspirar nas iniciativas internacionais e custear parte da compra de carros elétricos? Além de possiblitar que mais pessoas optem por modelos ecologicamente corretos, o brasileiro ainda gastaria um terço do valor que desembolsa com os carros tradicionais, pois o Leaf gasta R$ 0,08 de energia elétrica por quilômetro rodado, enquanto um Tiida 1.6 gasta R$ 0,23.




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