Cultura & Lazer Titulo
'A Espiral' coloca jovens em xeque
28/08/2009 | 07:00
Compartilhar notícia


Há um momento em "A Espiral do Tempo" em que a magia teatral se faz presente numa cena que consegue fazer o espectador, por alguns segundos, acreditar no impossível, ao lançar mão da liberdade que só a arte tem para reinventar a realidade. Esse espetáculo da Bendita Trupe dirigida por Johana de Albuquerque põe em celas contíguas, detidos pela Santa Inquisição, o cientista Galileu e Marina, uma jovem urbana do nosso século 21, que faz sem querer e sem entender direito o que se passa, uma viagem no tempo.

O humor dá o tom do diálogo construído sobre a confusão da ignorância, pois nenhum dos dois tem noção dos séculos que os separam, um achado da dramaturgia de Claudia Vasconcellos criada em processo colaborativo com os seis atores do elenco.

O espectador ri da sem-cerimônia com que a garota, interpretada por Vera Villela, fala de sua luneta e de suas observações de corpos celestes. Perplexo, Galileu se dá conta de que ela possui um instrumento ainda mais potente do que aquele que ele acabara de inventar. Embora divertida, a cena faz parte de uma montagem cuja ambição vai além do simples entretenimento.

Nem podia ser de outra forma, afinal se trata de uma montagem do já tradicional projeto de formação de público do Centro Cultural Fiesp, voltada para os jovens e com entrada grátis. A viagem no tempo é o ponto de partida. Durante um eclipse lunar cinco amigos decidem arriscar-se numa aventura perigosa: observar o fenômeno num bote surrupiado, sem a autorização de adultos.

Plínio Soares vive um personagem intitulado O Relojoeiro do Cosmos, que a um só tempo joga os meninos em situação de perigo - ao virar o bote e levá-los para diferentes dimensões do tempo e espaço - e os protege, porque, ao fim, todos terão vivido experiências transformadoras. "Pesquisamos muitos rituais de passagens, de diferentes tribos. Nelas não há a figura do jovem. Passa-se de criança a adulto e sempre por meio de uma experiência forte, um enfrentamento", diz Johana. "Talvez isso faça falta nos dias hoje."

Não nessa peça. Essa experiência de crescimento será comum às aventuras de todos, propositalmente separados pelo Relojoeiro. Toda essa viagem ganha tradução visual na cenografia de Daniela Thomas.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;