Política Titulo Descaso
Prestação de contas de
Aidan é obra de ficção

Promessas na Saúde ainda estão longe de serem cumpridas;
Diário visitou equipamentos públicos e constatou problemas

Fábio Martins
Do Diário do Grande ABC
25/03/2012 | 07:33
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A prestação de contas na área da Saúde apresentada pelo prefeito de Santo André, Aidan Ravin (PTB), é obra de ficção. O material publicitário do governo, distribuído em outubro, aponta que haveria 20 unidades com reformas concluídas ou em andamento. Porém, o cenário é diferente do retratado e as promessas estão bem distantes de serem cumpridas: 17 desses equipamentos públicos destacados no informe sequer sofreram intervenção no espaço físico pela gestão petebista.

A equipe do Diário visitou cada uma das unidades de Saúde durante toda a semana e identificou problemas de manutenção e estrutura. Mesmo depois de cinco meses da impressão do panfleto, somente três tiveram avanço na reforma, mesmo assim não estão 100% em condições de funcionamento. Prova disso é que nenhuma das duas dezenas de equipamentos foi inaugurada por Aidan - que é médico - até hoje. Os atendimentos continuam, mesmo em situação precária.

Mesmo em diferentes horários do dia, no tour pelas instalações municipais, não se registrou qualquer indício de trabalho relacionado à reforma de alguma unidade. O ex-coordenador-geral de manutenção das unidades de saúde Hélcio Nossa argumentou que não tinha aval do governo para realizar as obras durante o período de cinco meses no cargo na gestão Aidan - dezembro de 2010 a abril de 2011. "Se pedíamos reator ou caixa de lâmpada éramos chamados de chatos. Não era dado suporte para essas coisas simples só de manutenção."

O denunciante e ex-comissionado, que atuou no mesmo posto durante toda a segunda administração de João Avamileno (PT, 2005-2008) no Paço, relata que, ao ser convidado a participar do governo petebista, Aidan enfatizou que "pretendia executar ampla mudança no setor". "Disse-me que não queria ‘sapo seco' da época do PT, vislumbrando ‘a reforma', mas, na prática, nunca deu chance de isso ser efetivado. Não há reforma de fato." Ele assegura, porém, que na gestão petista, houve intervenção em 42 unidades num período de dois anos e meio.

A verba para aplicar na área não é baixa. Os recursos para a reforma de equipamentos de Saúde são oriundos do governo federal, pelo SUS (Sistema Único de Saúde). No Orçamento de 2012 de Santo André - peça de previsão de investimento e despesa anual -, há perspectiva de repasse fundo a fundo no valor de R$ 96,6 milhões. Além disso, está colocada transferência direta de outros R$ 6,9 milhões.

A peça, produzida pela Prefeitura, informa também que as unidades de Saúde da família Jardim Irene 2 e Jardim Sorocaba terão montante de R$ 360 mil direcionado para reforma de cada uma. O Orçamento cita ainda que a administração terá mais R$ 622 mil para outras intervenções.

Aidan, desde o início da gestão, fez três trocas no comando da Secretaria de Saúde, que vai gerenciar cerca de R$ 393 milhões neste ano. Antes de Antônio de Giovanni Neto assumir a titularidade, passaram pela Pasta Leonardo Carlos de Oliveira, Arnaldo Augusto Pereira e Nilson Bonome.

A Prefeitura não se posicionou sobre o assunto.

 

Após rompimento, prefeito oferece ‘trabalho' a ex-aliado

Ex-diretor de manutenção das unidades, Hélcio Nossa foi exonerado em abril. Desde então, nunca recebeu retorno do Executivo sobre as razões de seu desligamento. Coincidência ou não, após acompanhar parte do trajeto com a equipe do Diário e ser reconhecido por comissionados do Paço, logo recebeu uma ligação do prefeito Aidan Ravin (PTB).

Sem delongas, o petebista fez proposta ao ex-aliado. Por meio do telefone da Prefeitura, Aidan sugeriu a Hélcio trabalhar junto ao governo pela sua reeleição, procedimento refutado na mesma hora. "Queria me dar um cala boca. Fiquei muito tempo fora (da administração). É cena errada, na hora errada. O prefeito acha que eu penso (só) em cargo, mas eu apenas queria trabalhar." Hoje no PSDC, quando atuava na administração ele era filiado ao PSL.

No dia seguinte, o vereador Israel Zekcer (PTB), integrante do partido de Aidan, protocolou na Câmara requerimentos de reformas urgentes em unidades de Saúde.

Outro fato curioso é que, após a passagem da equipe do Diário, o então coordenador de manutenção Paulo Afonso foi exonerado da Prefeitura. Ele evitou polemizar o assunto. "A informação procede, mas não quero comentar. Não vou correr atrás para saber o motivo. Vou deixar nas mãos do PMDB (sigla à qual é filiado)."

 

Governo paralisou condições de unidades

Ao contrário da situação exposta no material de prestação de contas do governo Aidan Ravin (PTB), distribuído em outubro, são escassas as unidades de Saúde em Santo André apresentam sinais de reforma. A grande maioria conta com cores já extremamente desgastadas verde e laranja, do SUS (Sistema Único de Saúde), ainda da época do PT, diferentemente do azul adotado pela administração em outros equipamentos. O ponto principal, entretanto, é a falta de placa indicativa. Há unidades que passam despercebidas pela população.

Caso contundente pode ser constatado na unidade de Saúde João Ramalho. Alvo de pichadores e com portões deteriorados, não possui qualquer tipo de identificação. "Faz anos que não vejo reforma sequer na unidade", retratou Maria José das Neves, 54 anos. O posto Vila Guiomar é outra unidade sem sinalização.

A ausência de manutenção e fiscalização na área denunciam depreciação dos equipamentos públicos, demonstrando não ser prioridade do governo. A unidade Saúde da Família Parque Miami contém portão totalmente enferrujado, sem pintura e com totem com slogan do ex-prefeito petista João Avamileno: "Novo tempo de fazer mais." Dezoito unidades permanecem com a placa fincada pelo PT, o que indica que não houve conclusão de obra, como as de Vila Lucinda, Centro de Especialidades 1, Bangu, Utinga, Jardim Sorocaba, Jardim Irene 2, Centro e Paranapiacaba.

A unidade de Saúde e o pronto atendimento Vila Luzita estão depredadas, com estrutura estragada, placa rasgada e pintura desfigurada. Em atendimento médico em ambas as unidades é que Aidan ganhou notoriedade, concentrando seu reduto eleitoral na região, densamente populosa. Antes de ser prefeito, ele atuou como ginecologista e clínico-geral, respectivamente.

No CREM (Centro de Reabilitação Municipal), no Parque Novo Oratório, o mato tomou o espaço da unidade. A placa escondida entre as árvores mostra indicação de reforma da época do então prefeito Celso Daniel, morto em 2002. A unidade Centreville está ‘maquiada'. Só a carcaça foi retocada, pois internamente continua desgastada. "Eles (governo) pintaram apenas por fora porque disseram que o prefeito faria uma visita por aqui, mas acabou nem vindo", revelou Maria Cristina dos Santos, de 48 anos.

Ex-coordenador de manutenção, Hélcio Nossa, que chegou a assumir por um mês e meio mandato de vereador nesta legislatura, avalia que contar aos munícipes no panfleto que há processo de reforma em andamento é mentira. "São três anos e três meses de governo e não consegue inaugurar nenhuma unidade. É dinheiro mal gerido, jogado fora em outras coisas."

Somente a unidade Paraíso, o NAPS (Núcleo de Atenção Psicossocial) 1 e o Centro Hospitalar Municipal mostram sinais de vitalidade no município.




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