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Indios iniciam protesto contra 500 anos de Brasil
Do Diário do Grande ABC
29/03/2000 | 17:08
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Um grupo de índios Ticunas deixou esta quarta a aldeia no alto do rio Solimoes, na Amazônia empreendendo caminho para a Bahia, onde se reunirao mais de 3.000 indígenas dia 17 de abril para protestar contra as celebraçoes oficiais dos 500 anos do descobrimento do Brasil.

O Conselho Indigenista Missionário (Cimi, ligado à Igreja progressista) informou nesta quarta-feira que numerosas comunidades indígenas se unirao aos Ticunas ao longo destes mais de 4000 km de caminho até chegar a Santa Cruz de Cabrália (sul da Bahia), onde desembarcou o navegante português Pedro Alvarez Cabral, dia 22 de abril de 1500.

Nao foi por acaso que os Ticunas escolheram o 28 de março para sair de suas terras. Há 12 anos, nesse mesmo dia, aconteceu o massacre de Capacete, no qual 14 índios desta tribo de 30.000 pessoas foram assassinados por madereiros.

A Marcha Indígena atravessará de ônibus os Estados da Amazônia, do Pará, além de Tocantins e Goiás até chegar a Brasília dia 13 de abril, quando o grupo apresentará um documento de protesto ao Congresso Nacional.

De lá, os índios se dirigirao ao sul do Estado da Bahia e, no dia 17 de abril, todos se reunirao simbolicamente no Monte Pascoal, terra sagrada dos índios pataxós e cenário de um grave conflito com o governo federal, que transformou o território em parque nacional em 1961.

Em seguida, começará a Conferência Indígena, que pretende denunciar ``a invasao do Brasil que começou em abril de 1500 e continua 500 anos depois'.

A pouca distância, em Porto Seguro e Salvador, o Governo prepara sofisticadas e caras cerimônias para celebrar o quinto centenário da chegada de Cabral, com a reproduçao, num grande espetáculo, de réplicas de caravelas e com a participaçao de mais de 1.500 atores.

Em meio às celebraçoes oficiais e aos protestos indígenas, que estao apoiadas por 150 organismos, a Fundaçao Nacional do Indio (Funai) desempenha um papel delicado.

Apesar de ter criticado os festejos organizados pelo governo e ter demonstrado desejo de nao participar deles, a Funai voltou atrás e suavizou o discurso. Seu presidente, Carlos Frederico Marés, informou que a Funai nao participará da marcha mas definiu a posiçao da Fundaçao com uma frase que pode ser interpretada como uma clara crítica ao Governo: ``O relógio indígena nao tem nenhuma relaçao com o relógio dos 500 anos'.

Para Sydney Possuelo, dirigente do Departamento que cuida dos índios que nao tiveram contato com os brancos da Funai e ex-presidente da instituiçao, o organismo deve sentar-se ao lado do Governo nas celebraçoes mas tem direito a nao estar de acordo com o dirigente da instituiçao.

``Se eu fosse presidente da Funai participaria das celebraçoes oficiais com uma braçadeira preta, em sinal de luto', assegurou.




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