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Sabores da selva
Heloísa Cestari
Do Diário do Grande ABC
19/03/2009 | 07:00
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Com a maior bacia hidrográfica do mundo e mais de 2.000 espécies de fauna aquática, não é de se estranhar que a culinária amazônica tenha o peixe como a grande estrela dos cardápios. Todos de água doce, claro. E com nomes que exigem do turista um certo período de adaptação até se acostumar com as pronúncias, aromas e paladares típicos.

Leva um tempo, por exemplo, para reter na memória as diferenças de um prato à base de tucupi de outros feitos com taperabá, tucumã, jaraqui, tambaqui, matrinxã, mujeca ou quinhapira.

Para começar o batismo em água doce, peça logo um caldo de piranha. Só tome cuidado para não queimar a língua, pois os nativos têm o hábito de tomá-lo pelando mesmo nos dias mais quentes. É como se fosse o chimarrão de quem vive no Norte.

Depois, parta para os dez queridinhos das mesas amazonenses. No topo da lista, o célebre tambaqui, servido em caldeiradas, acompanhado de tucupi, ou assado na brasa. E na sequência um cardume de opções que chega a confundir os menos afeitos à pesca: tem caldeirada de tucunaré, pirarucu (também chamado de bacalhau amazônico quando é salgado e seco), filhote (ou piraíba, o maior peixe de couro brasileiro) e o espinhoso jaraqui, geralmente servido frito.

Talvez pelo excesso de especialidades tiradas da água, o amazonense tem verdadeira fissura por acompanhamentos secos. Quem deseja mergulhar no clima manauara pode pedir como acompanhamento a farinha de mandioca, seja a uareni (amarela e grossa) ou a d'água (branca).

Outra alternativa é o acari: peixe assado e socado em um pilão para dar origem ao piracuí, farinha utilizada como base para a confecção de bolinhos e caldos.

O amargo tucupi também aparece em várias receitas ao lado de temperos para lá de exóticos, como as pimentas de cheiro, murupi (amarelada e forte) e malagueta.

CABOCLO - Quem não gosta muito de peixe mas quer provar algo típico tem como alternativa o sanduíche de tucumã, conhecido como caboclo. Fruto de uma palmeira nativa da Amazônia, o tucumã - de consistência macia e oleosa - é fatiado e servido em pão de leite ou francês. Os que acham o sabor muito forte também podem misturar queijo coalho ao recheio.

GUARANÁ - Para acompanhar o caboclo, um guaraná bem diferente do que estamos acostumados a tomar. Foi o revigorante refresco feito com a semente seca, torrada e moída do guaraná - cuja receita segue preservada há séculos nas casas especializadas de Manaus - que inspirou a fórmula do refrigerante em 1921. A bebida original mistura o amargo pó de guaraná com o paladar adocicado do xarope da semente acrescido de frutas típicas da Amazônia, como camucamu e taperebá.

E as utilidades da planta não ficam só nos copos. No município de Maués, autointitulado a Capital Nacional do Guaraná, na Amazônia Central, a pasta do fruto é usada pelos índios, há centenas de anos, como alimento e remédio. Coisas de pajé.




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