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Cientistas desvendam como as emoções alteram julgamentos morais
Da AFP
21/03/2007 | 19:52
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Suponha que um vírus mortal cruzou o planeta e você, em seu laboratório doméstico, desenvolveu duas substâncias: uma é uma vacina e a outra é um líquido tóxico fatal, mas você não sabe qual é qual.

Você tem duas pessoas sob seus cuidados e a única forma de identificar a vacina é injetar em cada uma delas uma das substâncias. Você mataria uma das pessoas para salvar muitas outras vidas?

Segundo neurologistas americanos, se você se sente desconfortável com esta pergunta, isto se deve a uma região-chave do cérebro onde os julgamentos morais são processados, ressaltando o papel das emoções na determinação dos conceitos de certo e errado.

Cientistas chefiados por Ralph Adolphs, do Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech), recrutaram 30 homens e mulheres para responder 50 séries de perguntas hipotéticas cuidadosamente selecionadas.

As perguntas se dividiam em três categorias - escolhas não-morais, por exemplo, a respeito de compras; decisões morais impessoais (do tipo: você tiraria dinheiro de uma carteira que encontrou na calçada?); e cenários morais pessoais, do tipo descrito acima.

Seis voluntários apresentavam danos no córtex pré-frontal ventromedial, uma região muito pequena do cérebro, situada logo atrás da fronte. Doze apresentaram danos cerebrais em outras áreas cerebrais, enquanto outros 12 não tinham qualquer dano cerebral.

Não foi encontrada diferença na resposta dos voluntários em suas decisões morais e não-morais.

Mas os voluntários com dano no córtex pré-frontal ventromedial se destacaram nos cenários morais pessoais, escolhendo rapidamente opções "utilitárias", sem demonstrar ter problemas em ferir ou sacrificar um indivíduo em nome do bem comum.

Seus colegas se mostraram pouco propensos a fazê-lo e tomariam este tipo de decisão somente depois de um longo tempo de ponderação.

Normalmente, os humanos são impedidos de ferir uns aos outros pela aversão, um sentimento que o co-autor Antonio Damasio descreve como "rejeição do ato, mas combinado com a emoção social da compaixão por aquela pessoa em particular".

No entanto, as pessoas com lesões no córtex pré-frontal ventromedial se mostraram incapazes de sentir aversão.

"Por causa de seu dano cerebral, eles têm emoções sociais anormais na vida real. Eles não têm empatia e compaixão", explicou.

O estudo, que será publicado nesta quinta-feira na edição on-line da revista científica britânica Nature, não só aponta este tipo de lesão como algo crítico para o processamento de intuição e emoções. Também entra no debate filosófico sobre se os seres humanos fazem julgamentos morais baseados em regras externas, criadas pela sociedade, ou em suas próprias emoções.

Segundo os autores, os humanos podem ser neurologicamente incapacitados para o pensamento utilitário, porque a emoção e a razão não podem ser segregadas.




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