Primeiramente, os especialistas verificaram com familiares quantos dos pacientes tinham sintomas e diagnóstico de demência, chegando a 480. Ao analisar o tecido cerebral dessas pessoas, os pesquisadores descobriram que em 50% dos casos a doença era causada pelo mal de Alzheimer, mas que em outros 35% a demência era do tipo vascular, ou seja, associada a episódios de derrames geralmente causados por doenças evitáveis, como a hipertensão.
"A demência vascular pode ocorrer após um derrame grande, mas também acontece após repetidos episódios de pequenos derrames cerebrais, que muitas vezes não têm nenhum grande sintoma e podem passar despercebidos. Na maioria dos casos, esses derrames podem ser prevenidos com uma boa saúde vascular, ou seja, controlando a hipertensão, não fumando, praticando atividades físicas", explica Claudia Suemoto, professora da disciplina de geriatria da FMUSP e uma das autoras do estudo, publicado no periódico Plos Medicine.
O que chamou a atenção dos pesquisadores foi que a proporção de demência do tipo vascular é maior no Brasil do que em outros países. "Estudos internacionais feitos principalmente nos Estados Unidos e na Europa mostram que a demência vascular corresponde a 20% dos casos nessas populações, o que indica que, no Brasil, as falhas na assistência à saúde podem deixar a população mais suscetível a esse tipo de demência que poderia ser evitada", diz.
O estudo descobriu ainda que, dos 612 pacientes que não tinham sintomas de demência, 25% apresentaram, nos exames de imagem, lesões cerebrais indicativas do problema. "Pode ser que a doença estivesse na fase pré-clínica (sem sintomas) ou que os familiares achassem que os sintomas eram comuns da velhice", diz Claudia.
Esquecimentos. Com hipertensão, sobrepeso e pré-diabete, Gilda Quartim Barbosa, de 88 anos, teve a demência diagnosticada há quatro anos. Além da causa vascular, o problema foi agravado pelo mal de Alzheimer, detectado na mesma época. "Ela sempre foi esquecida, trocava o nome das duas filhas, então só notamos quando ficou mais intenso. Nunca tivemos coragem de contar. Ela morria de medo de ter algo assim porque a irmã dela teve o mesmo diagnóstico", relata a filha Maria de Lourdes Quartim Gotilla, advogada de 60 anos.
Mesmo morando com uma empregada e um cuidador, Gilda começou a se perder dentro de casa e a ligar pedindo ajuda para a filha, que a buscava, levava para dar uma volta no quarteirão e a trazia de volta para a residência. "Só depois desse ritual, ela percebia que estava mesmo no apartamento dela", diz.
Atualmente, a idosa está com um diagnóstico de demência de moderada para avançada, de acordo com a geriatra Elaine Biffi Alonso Vera, médica da unidade Butantã do Lar Sant?Ana, onde Gilda passou a morar, na zona oeste de São Paulo. "A doença é degenerativa, então o avanço é inevitável. Mas ela está muito bem, até menos agitada do que quando chegou. Entende alguns pedidos, mantém pequenas conversas", explica a médica, que também aponta a participação da idosa em atividades como a pintura e encontros semanais com crianças de uma creche da região.
"É uma doença muito ruim para os familiares. Mas, quando a visito, veja que ela está feliz. Ela sempre foi muito carinhosa, mas agora se tornou puro amor, abana e manda beijo para todo mundo", relata a filha, que vê na atual vida da mãe quase uma lição de como a alegria pode estar nas pequenas coisas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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