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Colecionadores de plantão
Marcela Munhoz
Do Diário do Grande ABC
08/05/2011 | 07:04
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No dicionário, a palavra coleção possui vários significados, entre eles, reunião ordenada de objetos. "Um colecionador de verdade é aquele que não precisa ter milhares de itens, mas busca conseguir tudo sobre o assunto", explica Renata Lima, fundadora do Instituto de Pesquisa do Colecionismo (www.ipcolecionismo.com.br). Segundo ela, para iniciar uma coleção é preciso escolher um assunto, depois um tema e dentro do tema, itens. "Isso não impede que a mesma pessoa tenha várias coleções. Também não há idade para começar."

E por que é tão legal colecionar? Para a especialista, porque causa mistura de sensações. "Satisfaz, preenche um espaço. Estimula a adrenalina e a vontade de conseguir itens raros. É viciante." A fundadora do instituto reforça ainda que colecionar ajuda a preservar as tradições e a história. "É legal reciclar, mas não simplesmente jogar fora. As coleções também podem valer dinheiro." Além disso, colecionar é socializar. Várias redes de amizades são montadas pelo interesse em comum.

Hoje é mais fácil caçar oportunidades de aumentar a coleção. Na internet existem milhares de sites que fazem a ponte entre quem quer vender e comprar itens raros, além de ajudar na divulgação de encontros de colecionadores. Um exemplo é a Colnect (http://colnect.com), que reúne colecionadores de 194 países. Surgiu em 2002 com objetivo de criar o maior catálogo de cartões telefônicos do planeta e virou rede social que permite a divulgação e troca de coleções. "Não há nada de incomum para colecionar hoje em dia. Tudo é possível ser encontrado", observa Renata Lima.

 

De tudo um pouco

A principal coleção das irmãs Gabriela,11, e Beatriz Rossi Deodato da Silva, 13 anos, de Santo André, é de óculos de grau e de sol. O hobby nasceu da necessidade: as duas têm hipermetropia. "Antes trocava mais de armação dependendo da roupa, agora dá preguiça", assume Gabi. A menina tem vários óculos, mas usa mais um deles. "É o que me sinto mais confortável." Já Beatriz deixou um pouco as armações de lado porque passou a usar lentes de contato. "Mesmo assim uso óculos quando estou em casa. A vantagem é que eles incomodam menos, por outro lado, as lentes não quebram", compara.

E as coleções de Bia não param por aí: a menina também tem dezenas de itens da saga Harry Potter, não pode ver esmaltes novos que compra e também tem vários estojos repletos de canetas diferentes. "Todo mundo da família ajuda a aumentar a quantidade de itens. Eu me divirto com isso."

 

É preciso gostar

Ou começa-se uma coleção com algo que se gosta, ou passa-se a gostar daquilo por causa da coleção. Por ser trabalhoso, o hobby só vai para frente se a pessoa curte mesmo o assunto escolhido. Lucas Luiz Traçatto, 13 anos, de São Bernardo, só se interessou por carrinhos porque acompanhou o cunhado a um evento de colecionadores. "Quis ter também", conta. O garoto começou a coleção há 1 ano - já reuniu 54 itens - e está com fôlego para eternizá-la. "Quero dividir com meus filhos um dia." Para isso, conta com a colaboração da família. "Ganho sempre de aniversário e adoro, mesmo repetido."

A família de Isadora Patrício, 17 anos, de Santo André, também colabora com sua coleção de selos. "Tenho alguns da Itália por causa de parentes que moram lá", conta a garota, que tem mais de 120 itens. "Tornaram-se ainda mais valiosos depois que os e-mails começaram a substituir as cartas", diz.

Como todo colecionador, Isadora e Lucas buscam informações na internet. Além disso, sempre que pode, o garoto participa de encontros com outros colecionadores. Para manter seus carrinhos em ordem, Lucas limpa cada um com todo cuidado e os mantém em caixas com tampa de vidro. "Não deixo ninguém mexer."

 

Ele manja muito de avião

Desde que se conhece por gente, Lucas Escudero, 17 anos, de Santo André, gosta de avião. "Meu avô é apaixonado, depois a minha mãe. O primeiro brinquedo que ganhei na vida foi um avião", conta o garoto.

Antigamente, um dos passeios preferidos da família de Lucas era ir ao aeroporto observar as aeronaves decolarem e pousarem. Agora é admirar os malabarismos dos pilotos durante eventos da Esquadrilha da Fumaça. "Eles são incríveis mesmo."

Entre os 300 itens da coleção, o preferido de Lucas é uma réplica de um avião da Varig. Foi dado de presente pelo então presidente da extinta companhia aérea, após o garoto ter mandado um desenho. "Fui convidado para ir ao Rio de Janeiro pilotar simulador de um 747. Foi inesquecível."

Aliás, a paixão de Lucas é muito mais do que a coleção. Ele adora desenhar modelos, tanto que cursa Engenharia Espacial na UFABC (Universidade Federal do ABC). "Fico bravo quando culpam os pilotos pelos desastres aéreos. Eles treinam tanto para isso. É improvável que tenham errado."

 

É diferente de acumular

Colecionar deve ser saudável e divertido. Segundo a psicóloga Maria Luisa Guedes, quando vira mais do que obsessão é melhor parar. "A busca por novos itens não deve atrapalhar a vida da pessoa." Algo está indo errado quando pega-se toda bugiganga que se vê pela frente.

Os acumuladores não têm critério e enchem as casas de lixo. Muitos mudam para locais maiores só para que o novo espaço comporte as coleções. "A pessoa fica literalmente desesperada para conseguir mais coisas." As quinta, às 22h, o canal Discovery Home & Health passa o programa Acumuladores.

 

Como organizar a coleção

"Passar o tempo colecionando pode ajudar na noção de disciplina. A pessoa aprende a manter e cuidar das coisas, além de unir a família quando a coleção é passada de geração em geração", aponta Maria Luisa Guedes, professora de psicologia da PUC. O colecionador de verdade tem carinho especial por seus objetos e não os guarda de qualquer jeito.

O primeiro passo é descobrir qual é o melhor lugar para guardar cada tipo de coleção e mantê-la o mais longe possível da claridade e do pó para não estragar. Mas também não precisa escondê-la. Quem coleciona tem orgulho de mostrar o que está juntando. A saída é usar caixas transparentes de acrílico e armários de vidro. Quem não puder comprar, caixas de sapato, de camisas e latas servem. Selos e cartões telefônicos ficam bacana em pastas específicas para cada coleção. Canetas e lápis devem ser retirados da caixa original e guardados em outras, forradas com veludo.

A separação pode seguir diferentes critérios. Algumas opções são separá-los a partir da ordem em que os objetos foram adquiridos, por ordem alfabética ou numérica. Também é adequado classificar a coleção. Para isso, o ideal é abusar das etiquetas e divisórias.




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