"Minha mãe me colocava vestido e eu arrancava"

Desde que Mari*, 19 anos, de São Caetano, se entende por gente, gosta de coisas de menino. "Brincava de carrinho e jogava futebol. Com 12 anos, notei que tinha algo diferente, que faltava alguma coisa em mim. Comecei a procurar na internet e fiquei ainda mais perdida", conta. Com a mesma idade teve a primeira experiência amorosa. Beijou uma menina. "Achei que tinha feito algo muito errado. Então, comecei a namorar menino, mas percebemos que era só amizade."

Aos 15, entendeu o que estava acontecendo e resolveu falar com os pais. A conversa foi aos poucos. "Chamei meu pai, escrevi num papel que era bissexual e saí correndo. Achei que assim não ficaria tão chocado. Ele chorou, mas compreendeu." Logo depois, assumiu a homossexualidade. "Quando achei que valia a pena, trouxe a namorada pra casa, mas sempre fui discreta. Não gosto de gente escandalosa nem dos meus amigos héteros que têm esse comportamento. Respeito gera respeito." Aos poucos, a mãe e as irmãs também entenderam a opção.

O problema mesmo, segundo Mari, é fora de casa. "Já vivi muitos momentos de preconceito, inclusive ser xingada na rua e ser revistada por policiais. Percebi que não vale a pena bater de frente. O muro é muito mais alto do que se imagina." Ela acredita que são essenciais força de vontade e se aceitar do jeito que é.

Hoje Mari - que é feliz com seu corpo, só queria ser mais gordinha - está sem namorada, mas tem estratégia de paquera. "Sempre fui extrovertida, então, chego conversando quando percebo algum sinal. Já aconteceu de a pessoa aparentar e não ser. Nesse caso, peço desculpas", diz a garota, que quer se casar e adotar um filho.