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Pastrana vive momento crucial
José Antonio Pedriali
Especial para o Diário
09/12/2000 | 18:50
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  O presidente da Colômbia, o conservador Andrés Pastrana, enfrenta um momento crucial de seu governo, iniciado há dois anos. Apesar de todos os seus esforços e da iniciativa ousada de conceder um amplo território para a livre movimentaçao da organizaçao guerrilheira de esquerda Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), o processo de paz está estagnado. E por causa dessa estagnaçao, Pastrana enfrenta pressao cada vez mais intensa - tanto do setor militar quanto do civil - para interromper o processo de paz.

Promover a pacificaçao da Colômbia, além de constituir um objetivo ambicioso para um país que convive historicamente com a violência, foi a principal meta eleitoral de Pastrana, sobre a qual ele tem orientado seu governo. Se o processo fracassar, seu governo terá perdido a razao de ser. E os sinais de esgotamento do processo sao palpáveis.

Para complicar as coisas, a proximidade das operaçoes do chamado Plano Colômbia, previstas para o início do ano que vem, exaspera os grupos guerrilheiros, os paramilitares e os narcotraficantes, que têm respondido a este projeto com um aumento considerável de atos violentos e prometem, assim que ele for posto em prática, intensificá-los ainda mais.

O Plano Colômbia, concebido por Pastrana, é um conjunto de medidas repressivas a essas organizaçoes que serao implementadas com a ostensiva participaçao dos Estados Unidos que, além de ajuda financeira - U$ 1,3 bilhao já foram liberados -, fornecerao helicópteros, avioes, equipamentos de vigilância eletrônica e assessores para treinar os soldados colombianos.

Pastrana prorrogou, na semana passada, a zona desmilitarizada concedida às Farc até 31 de janeiro de 2001. Seu objetivo é desbloquear as negociaçoes com essa organizaçao, que as interrompeu unilateralmente em 14 de novembro, alegando que o governo nao agia com o necessário rigor para combater os paramilitares. A zona desmilitarizada foi uma concessao de Pastrana às Farc para permitir a conduçao do processo de paz.

A prorrogaçao do prazo de vigência da zona desmilitarizada, criada em novembro de 1998 e com uma extensao de 42 mil km² no Sul do país, foi criticada pela Human Rigths Watch, organizaçao nao-governamental sediada nos Estados Unidos e com ramificaçoes em todo o mundo.

O protesto expressa o quanto o processo de paz está abalado, pois a Human Rigths era uma crítica contumaz do que, segundo ela, constituía a política de dois pesos e duas medidas de Pastrana em seu programa de pacificaçao: rigor contra a guerrilha de esquerda e complacência com os paramilitares de direita.

"As Farc estao violando o direito internacional humanitário de forma brutal e sistemática dentro e fora da zona desmilitarizada", afirmou ao jornal El Tiempo, de Bogotá, o presidente da Human Rigths Watch na Colômbia, José Miguel Vivanco. Para ele, a prorrogaçao do prazo de vigência da zona desmilitarizada foi uma "atitude irresponsável" e "um grave erro" de Pastrana.

Ao participar de uma cerimônia militar na quinta-feira, um dia depois de ter concedido mais prazo para os guerrilheiros das Farc manterem seu território, Pastrana se viu obrigado a justificar-se. Segundo ele, a zona desmilitarizada existe "única e exclusivamente" para permitir a negociaçao para que a organizaçao guerrilheira se convença a depor as armas. Dentro do próprio governo, no entanto, já nao há mais consenso sobre o tema.

Luis Guillermo Giraldo, um dos negociadores do governo junto à guerrilha, afirma categoricamente que "já nao se justifica manter a zona desmilitarizada muito tempo mais, sem resultados concretos. Os colombianos exigem fatos de paz e estes nao aconteceram depois de dois anos de processo de pacificaçao".

As negociaçoes com outro grupo guerrilheiro, o Exército de Libertaçao da Colômbia, que age principalmente no Norte do país, estao estagnadas. O grupo exige as mesmas regalias concedidas às Farc, mas Pastrana, pressionado pela opiniao pública e pelos militares, ainda nao se atreveu a desmilitarizar a regiao - e criar a chamada "zona de encontro" - que seria destinada às negociaçoes de paz.




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