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De olho roxo, Jefferson diz que 'mensalão' era sacado em shopping
Do Diário OnLine
Com Agências
30/06/2005 | 23:10
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Em depoimento à CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) dos Correios, o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) denunciou nesta quinta-feira o local de distribuição do ‘mensalão’, suposto esquema de pagamento de mesadas a parlamentares. Segundo ele, depois que a entrega do dinheiro em malas ficou arriscada, os pagamentos passaram a ser feitos de uma agência do Banco Rural no nono andar do Brasília Shopping.

Jefferson disse que "ali têm sido feito pagamentos depois que as malas pararam de chegar à Brasília". Segundo ele, assessores de deputados eram incumbidos de ir até a agência no shopping para fazer os saques. O deputado declarou ainda que é fácil fazer a identificação destas pessoas, pois teriam que assinar um documento para sacar o dinheiro.

O petebista reafirmou que teria conversado entre seis e oito vezes com José Dirceu, então ministro da Casa Civil, sobre o suposto pagamento de mesada a deputados da base aliada. De acordo com ele, no entanto, Dirceu só se preocupava em defender o tesoureiro do PT, Delúbio Soares, e o secretário-geral, Silvio Pereira, acusados por ele de participarem do esquema.

Jefferson também voltou a falar que recebeu R$ 4 milhões do PT de um acordo para financiar campanhas do PTB em 2004, em troca de apoio nas eleições municipais. O valor total seria de R$ 20 milhões, mas só os R$ 4 milhões foram liberados.

Confira alguns dos principais pontos do depoimento de Jefferson:

Valério e PT – No início do depoimento, Jefferson atacou o PT e acusou o partido de tentar evitar as investigações sobre o publicitário Marcos Valério, apontado como o operador do mensalão. Jefferson também classificou Valério como a "versão moderna e macaqueada de PC Farias", tesoureiro da campanha do ex-presidente Fernando Collor de Mello.

Jefferson referiu-se ao PT como "um partido que até ontem fazia da acusação a sua afirmação de luta". Mais tarde, ele disse que as denúncias de corrupção nos Correios surgiram depois que ele informou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre o mensalão. "Como eu não aderi ao mensalão, meu partido caiu em desgraça". O petebista afirmou também que os deputados que alegam nunca ter ouvido falar no esquema de pagamento aos parlamentares ou se omitem ou recebem o dinheiro.

Banco do Brasil - Ainda em relação ao mensalão, Jefferson disse que para descobrir o esquema é preciso investigar também supostos saques do Banco do Brasil, e não só do Banco Rural. Documentos do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) apontaram retiradas que totalizavam R$ 21 milhões em menos de dois anos das contas de Marcos Valério. Há suspeitas de que o dinheiro era usado para pagar parlamentares no esquema.

Correios - O deputado reafirmou que, quando assinou o requerimento para a CPI dos Correios, foi procurado pelos ministros José Dirceu e por Aldo Rebelo (Coordenação Política) pedindo para que ele retirasse seu nome. Os dois teriam alegado que as denúncias atingiram Lula.

Jefferson também desqualificou a gravação divulgada pela revista Veja em que o ex-funcionário dos Correios Maurício Marinho aparece recebendo R$ 3 mil e afirmando que o esquema de corrupção na estatal operava com o aval do petebista. Segundo Jefferson, "a fita é ilegal".

Abin - Jefferson contestou a versão do empresário Arthur Wascheck de ter encomendado a gravação e acusou a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) de ser a verdadeira mandante. Questionado sobre essa declaração, ele disse que é "é uma convicção intuitiva e também baseada em duas matérias publicadas pela imprensa - no jornal O Estado de S.Paulo, que em maio publicou que a Abin já tinha conhecimento da fita há 20 dias; e no O Globo, que em junho revelou que a agência tinha agentes infiltrados nos Correios há vários meses".

Bate-boca - O clima no depoimento esquentou quando o deputado Henrique Fontana (PT-RS) acusou Jefferson de ter tentado ser encobertado pelo governo após as denúncias de corrupção nos Correios envolvendo seu nome. Exaltado, Jefferson disse que "o PTB não tem Cachoeirinha, não tem Waldomiro Diniz".

"Essa intimidade zoológica é do seu partido. Sua ética funciona em mão única. Vossa Excelência tentou ontem, durante nove horas, evitar a quebra de sigilo de Marcos Valério. Não queira me dar lição de ética e moralidade", disse.

Reforma política – Jefferson falou sobre a necessidade de uma reforma política no país. No entanto, criticou a possibilidade de haver financiamento público para campanhas. "O financiamento público vai somar crimes, vai tirar do pobre em favor do vereador, do deputado, do senador, governador e prefeito".

Ele estimou que apenas 10% do dinheiro utilizado em campanhas é declarado. "Não há eleição de deputado federal que custe menos de R$ 1 milhão, mas a média das prestações de contas é de R$ 100 mil. As declarações à Justiça Eleitoral não traduzem a realidade."

Artista - Jefferson disse que não teme perder seu mandado e defendeu-se das acusações de que vem protagonizado cenas teatrais em suas declarações. "Não vim mendigar em favor do meu mandato. Ninguém vai me acanalhar e colocar de joelho e rabo entre as pernas. Não sou ator e não faço o papel de herói".

Olho roxo - Jefferson apareceu no depoimento à CPI dos Correios com o olho roxo. Segundo sua assessoria, o deputado se machucou quando um armário de madeira caiu sob seu rosto.




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