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'Comi mato, fiz exercícios e engordei'
Heloísa Cestari
Do Diário do Grande ABC
21/04/2005 | 18:05
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Para vivenciar na pele o dia-a-dia de um spaziano, internei-me em um spa no último fim de semana. O local escolhido foi o spa Fazenda Igaratá, a apenas 87 km de São Paulo. Embora já soubesse que a linha adotada pelo estabelecimento, inaugurado há pouco mais de um ano, era liberal, senti meu estômago roncar assim que pus o pé na estrada. Delírio psicológico de uma mente preconceituosa ou premonição de um estômago que pressente um futuro escasso em gorduras e açúcares pelas frente? É engraçado: a gente sempre fica com um certo receio de que vai passar fome e já começa a arquitetar mil e um planos para burlar as regras... Por via das dúvidas, como meus objetivos eram puramente jornalísticos, aproveitei um pit stop no posto de gasolina para abastecer também o meu corpinho com uma última reserva de calorias advindas de um picolé de coco da loja de conveniências.

Como é de praxe, assim que cheguei ao spa fui questionada na recepção quanto ao número de calorias de minha dieta – escolhi a de 600 – e encaminhada à pesagem: 48,7 kg. Apesar das medidas modestas, me senti enturmada logo no primeiro dia. Os spas, aliás, costumam ter essa característica: como todo mundo está no mesmo barco, compartilhando das mesmas atividades, anseios de renovação e, dependendo do lugar, passando “fome” juntos, as pessoas normalmente ficam bastante unidas. É fácil fazer amigos. E foi assim que conheci pessoas tão interessantes quanto simpáticas, como Gisela, 39 anos, internada havia uma semana com o objetivo de livrar-se do vício de fumar um maço e meio de cigarros por dia. A estudante de Jacareí Paloma, 20 anos, que engordou mais de 11 kg durante estadia nos Estados Unidos e, ansiosa, não se conformava em ter eliminado apenas 2 kg nos últimos 10 dias de spa. E a mineira Vânia, que já havia feito a dieta da sopa (de 300 calorias/dia) e exagerou tanto nos exercícios durante os primeiros dias que passou a sentir câimbras no abdômen, coxas, panturrilhas e pés. Resultado: fadiga muscular e a frustrante proibição de praticar qualquer atividade naquele fim de semana.

Fadiga esta que eu bem compreendi na manhã do dia seguinte. Depois de um café composto de duas torradas com margarina diet, uma xícara de leite e míseros pedacinhos de banana (fruta rica em potássio, que ajuda a aliviar câimbras), embarquei numa caminhada ecológica, de aproximadamente 9 km – de chinelos, porque esqueci de levar tênis – até a cachoeira Pedra Bonita, próxima ao spa. Na hora, não me dei conta do esforço, mas ao cair da tarde mal conseguia andar, tamanha a dor nas panturrilhas. Só depois que retornei do spa é que descobri que o meu tendão direito havia inflamado. Isso mesmo: tendinite por andar demais, dá pra acreditar?

Mas mesmo sentindo meus músculos e tendões repuxarem como se estivessem brincando de cabo-de-guerra, deu para assistir à palestra com o doutor João, dono do spa, sobre a dieta dissociada logo após o almoço (macarrão integral), participar de uma vivência místico-freudiana com a psicóloga Eloísa depois do jantar (como não como carne vermelha, deram-me meia omelete) e conversar com a dona Marina Silva do Carmo, 55 anos, o maior exemplo de que a dieta dissociada faz mesmo efeito. Mãe do baterista Fabinho, do grupo Negritude Jr., dona Marina deu entrada no spa há cinco meses com nada menos que 110 kg distribuídos pelos míseros 1,47 m de estatura. “Para mim, o mundo tinha acabado: não conseguia andar, tinha pressão alta (23 por 14), depressão, diabetes e toda hora ia parar no pronto-socorro. Hoje, com 42,5 kg a menos, Marina se orgulha de conseguir enxergar o próprio joelho e fala com otimismo dos 15 kg que ainda precisa perder para atingir o peso ideal. Afinal, o que são 15 kg para quem já perdeu mais de 40 kg?

No domingo, ainda com as pernas em frangalhos, relaxei na jacuzzi; troquei o arroz integral com feijão preto e couve (espécie de feijoada light sem carne nem tempero) pela sopa da dieta de 300 calorias; e fiz um tour pelos viveiros de aves, plantas medicinais e bichos – que andam soltos e parecem dispor de um menu bem mais farto em frutas e legumes do que o humano (dá até vontade de roubar a cenoura do coelho...). O spa, aliás, é muito bonito. Não fosse a ausência de pizzas e batatas fritas, seria uma espécie de paraíso daqueles que ainda não superaram o pecado da gula. Mas como tudo vale a pena se a alma ou o corpo não são pequenos, segui a dieta à risca e, antes de ir embora, fui me pesar ansiosa. Qual não foi a minha surpresa quando, diante da balança, vi o mostrador acusar 48,9 kg. Ou seja, comi mato, esculhambei as pernas e ainda ganhei 200 g. Frustrada, saí de lá e devorei um pacote de batatinhas na estrada. Afinal, como diriam os gordinhos, domingo é dia sagrado, segunda-feira eu recomeço o regime...

A repórter viajou a convite do Spa Fazenda Igaratá



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