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Maluco de amor

Filme 'Raul: o Início, o Fim e o Meio', que chega às
telonas na sexta, expõe relações do Maluco Beleza

Sara Saar
Do Diário do Grande ABC
21/03/2012 | 07:08
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Quando faz um filme o diretor Walter Carvalho mergulha inteiro no projeto. "Não sou de meias tintas. Eu me jogo mesmo independentemente de ser admirador ou não do personagem que eu esteja trabalhando", afirma o cineasta, que nunca foi fã ardoroso de Raul Seixas (1945-1989). Junto de sua geração, que acompanhou os festivais dos anos 1960, era apreciador mesmo de Chico Buarque e Caetano Veloso.

"Naquele momento, o que caracterizava Raul não era a sua posição na música brasileira. Eram exatamente a irreverência e a sacação extraordinária de cruzar Elvis Presley com Luiz Gonzaga", afirma Walter, que se diz escolhido pela lenda, e não o contrário. Na realidade, o cineasta recebeu o convite da Paramont em 2008 para dirigir o projeto de Denis Feijão. O documentário "Raul: o Início, o Fim e o Meio" chega às telonas na sexta-feira.

O que motivou o diretor a abraçar a ideia foi a identificação com o lado colonizado de Raul, que gostava de Elvis Presley. "A sacação de Raul foi não ter ficado na Jovem Guarda, apesar de ter feito versões para músicas norte-americanas", afirma Walter. Na contramão de nomes como Jerry Adriani, Wanderley Cardoso e Celly Campelo, o Maluco Beleza entoava a canção "Let me Sing" (algo como 'deixe-me cantar') e cruzava o rock com o baião.

Em comum com o mito, Walter assistiu ao filme "Balada Sangrenta"nas telonas, mas não de maneira exagerada como fez o artista que ficava no cinema das 14h às 20h para conferir todas as sessões. "Éramos da mesma geração. Eu também levantava a gola. Se eu tivesse talento musical, teria sido roqueiro. Até hoje não sei cantar uma frase do Hino Nacional. Sou zero de música", admite o diretor.

PROCESSO - Destinado a mostrar as facetas do maior ícone do rock brasileiro, o documentário começou a ser filmado em abril de 2009. Ao todo, Walter fez 94 entrevistas (50 integram o filme e 44 serviram de pesquisa) entre Salvador, São Paulo, Rio de Janeiro e no Exterior (Suíça e Estados Unidos). "Esse é um Raul que eu inventei a partir da memória das pessoas: o irmão, as ex-mulheres, as filhas, os amigos, os produtores e os parceiros", diz.

Primeira ex-mulher do roqueiro, Edith não concedeu entrevista. "Ela diz que já virou essa página e ama o homem que vive com ela agora", afirma o diretor. E completa: "Eu acho que Raul morreu por amor. Quando resolveu deixar Edith, achava que voltaria e estaria tudo certo, mas ela se mandou. Ele passou a vida inteira tentando voltar com essa mulher e ver a filha. Eu acho que isso ajudou no processo de boemia e autodestruição".

Para o diretor, Edith foi o grande amor do cantor. "Ela era aquela namorada da adolescência, paixão total. Ele saiu dos Panteras para se casar. Dizia que iria estudar para enganar o pai de Edith, pastor protestante, mas depois voltou para o negócio do rock", afirma Walter. "O parceiro Sylvio Passos, presidente do fã-clube, disse que várias vezes falava de Edith e Raul chorava copiosamente", afirma o diretor.

Durante as entrevistas, todas as ex-mulheres se mostraram apaixonadas por Raul. "Cada uma diz que era a mulher de verdade dele. É curioso isso. Queria eu ter tido esse charme", brinca o diretor. "Não vi ninguém com rancor ou ressentimento do Raul. Claro que há críticas porque ele faltou em encontro ou porque não foi em gravação, sempre com aquela coisa da irreverência", afirma.

Em 2010, Walter se dedicou à montagem do documentário, que demandou mais tempo: um ano e meio. Com mais de 400 horas de vídeo - entre filmagens e imagens de arquivo -, teve trabalho para encontrar cenas raras de Raul. Embora apresente momentos que todos conhecem, o documentário também traz informações que ninguém sabe, como a história da empregada Dalva.

Só em março estreiam pelo menos três cinebiografias ("Como Água", "Raul: o Início, o Fim e o Meio", e "Heleno"), seria tempo de homenagens? "Qualquer tempo é tempo de homenagens. Anderson Silva está sendo homenageado em vida. Heleno e Raul estão em outra esfera, mas eles estão sabendo", afirma o diretor, aos risos. "Se o filme é uma homenagem, eu preferia ter homenageado Raul em vida", conclui Walter Carvalho.




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