Uma manifestaçao de cerca de 150 membros do Movimento dos Trabalhadores Urbanos (MTU), ligado ao Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), causou tumulto nesta sexta-feira no Rio de Janeiro. Os sem-teto atravessaram a cidade para uma visita a um shopping center da zona Sul e houve confronto com a polícia, quatro pessoas detidas e interdiçao em uma das principais avenidas do Rio por cerca de três horas.

Por volta das 9h15 desta sexta-feira, cerca de 150 pessoas deixaram o acampamento Araguaia, no bairro de Campo Grande (zona Oeste), em quatro ônibus fretados, com destino ao shopping Rio Sul, em Botafogo (zona Sul da cidade).

Os quatro veículos, escoltados por camburoes da polícia, foram parados duas vezes por excesso de velocidade. Mas a grande confusao ocorreu na avenida Brasil, na altura de Parada de Lucas, por volta das 10h30. Os policiais quiseram apreender os ônibus por causa de supostos problemas na documentaçao e os sem-teto reagiram, deixando os veículos e interditando a avenida.

Houve corre-corre e os sem-teto chegaram a apedrejar um camburao. O Batalhao de Choque da PM foi acionado para contornar o tumulto. Quatro sem-teto foram presos, inclusive o líder do grupo, Wellington Moreira da Silva, conhecido como "Eric Vermelho", 32 anos. Uma criança de 10 anos ficou ferida.

O congestionamento na avenida Brasil passou de sete quilômetros e a lentidao atingiu também a Via Dutra, estrada que liga o Rio a Sao Paulo. Durante o protesto na Brasil, os sem-teto chegaram a sentar na pista e gritar pelo nome de Eric Vermelho. Muitos carros tentaram furar o bloqueio, colocando em risco a vida dos manifestantes. Havia diversas crianças e mulheres, algumas grávidas, no meio do tumulto.

Depois de contornada a tensao, os sem-teto recusaram a proposta da polícia de seguir para o Centro do Rio nos microônibus do Batalhao de Choque e tomaram um coletivo interurbano para seguir até a Central do Brasil. De lá, divididos em grupos menores, os manifestantes seguiram em ônibus circulares até o shopping Rio Sul.

Vermelho, autuado por desacato à autoridade e resistência à prisao, e os outros membros do grupo, por obstruçao de via pública, foram liberados mais tarde, após prestarem depoimento na polícia e pagarem fiança de R$ 50 cada um.

Passeio - A escolta policial prosseguiu no shopping center. Cerca de 35 PMs acompanharam o grupo, que se limitou a olhar vitrines e ficar na praça de alimentaçao do centro de compras, no segundo andar. No final da tarde, o grupo comeu pao com mortadela nas mesas do local.

Além de integrantes do MTU, membros do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) e líderes sindicais participaram da visita ao Rio Sul.

Para dar um fim à manifestaçao, a administraçao do shopping center se ofereceu a pagar as passagens de ônibus dos sem-teto. O grupo recusou, assim como fez com os quatro microônibus que a Polícia Civil ofereceu para conduzi-los de volta a Campo Grande.

O protesto foi uma repetiçao da "visita" realizada pelos sem-teto ao mesmo shopping em 4 de agosto deste ano. A manifestaçao condena o consumo, visa expor a pobreza da periferia aos centros de compras da classe média da zona Sul e pedir soluçoes para o problema da habitaçao.

Segundo Eric Vermelho, foi com protestos como o desta sexta-feira que os sem-teto conseguiram benefícios como cestas básicas e cessao de terras para serem ocupadas.