Você já ouviu falar em etimologia? O que é isso? É simplesmente a parte dos estudos linguísticos que se ocupa da origem e da evolução das palavras. É a etimologia que nos explica, por exemplo, que Eulália, nome de mulher, vem do grego e significa "boa maneira de falar", ou que Dulce, igualmente nome de mulher, vem do latim e significa "doce". Não é por acaso que o superlativo erudito de doce é dulcíssimo: "Seu beijo é dulcíssimo".

Você já ouviu falar do livro sagrado dos muçulmanos, não? Esse livro ora é chamado de Corão, ora é chamado de Alcorão. Qual será a forma correta? E que relação isso tem com o nosso assunto (a etimologia)? Vejamos: a palavra corão vem do árabe e significa "o que deve ser lido". Em árabe, o al é artigo. Ao pé da letra, portanto, Alcorão equivale a o Corão.

É por isso que muita gente afirma que não se deve dizer o alcorão, porque isso equivaleria a dizer o o corão. Que tal? É melhor não levar muito a sério essa tese, do contrário seríamos obrigados a chamar a alface (que também vem do árabe) de face, o alfaiate de faiate e o algodão de godão. O al de alface é o mesmo al de alcorão, de alcachofra, de algodão, de alfaiate e de tantas outras palavras que vieram do árabe e, depois de passarem por algumas alterações de pronúncia, acabaram ganhando registro escrito em nossa língua.

O caso da possibilidade de opção entre Corão e Alcorão talvez seja o único. De qualquer maneira, é bom saber que nossos dicionários registram as duas formas (Corão e Alcorão). A escolha é sua.
Por fim, é bom lembrar que não se deve achar que todas as palavras que começam por al têm origem árabe. Algum, por exemplo, não vem do árabe, não; vem do latim. Alma, alvo, alvorada e alto, entre tantas outras, também vêm do latim. Boa parte das palavras que começam com al, no entanto, vem mesmo do árabe, sim: aldeia, algazarra, alfinete, álgebra, algema, alfazema, alfafa, alfândega, alcaide, alcatéia, alferes, almofada, alqueire, alvoroço etc., etc., etc.

No próximo domingo, a gente volta a conversar. Até lá.