Economia Titulo
Mercados: pequenos batem redes
Hugo Cilo
Do Diário do Grande ABC
10/10/2004 | 16:04
Compartilhar notícia


Os pequenos supermercados e as grandes redes de hipermercados travam uma disputa silenciosa pela preferência dos consumidores, e nessa queda-de-braço entre David e Golias "o gigante está em desvantagem", diz João Carlos de Oliveira, presidente da Abras (Associação Brasileira dos Supermercados). Dados da entidade indicam que os estabelecimentos menores espalhados por bairros afastados dos centros comerciais crescem proporcionalmente mais do que as grandes redes. Em 2003, o setor movimentou R$ 87,2 bilhões e os pequenos supermercados foram responsáveis por 65% do total.

No Grande ABC, as vendas dos pequenos supermercados crescem impulsionadas pelo consumo médio das cidades da região, que é 12% superior à média nacional, conforme a Abras. "Além de crescer naturalmente com o reaquecimento da economia, os supermercados menores são grandes impulsionadores das economias nos bairros. Geram emprego e renda fora dos centros", disse Oliveira.

Essa tendência está destacada no último balanço da Abras. O levantamento indica que a concentração de venda das grandes redes, em âmbito nacional, está em queda livre. Em 2000, 41% de todo o volume de venda passava pelas caixas registradoras dos hipermercados. Esse porcentual recuou para 39%, em 2001, e 38,8%, em 2002. No ano passado, a participação das grandes redes cravou o menor porcentual da história: 38,1%.

O presidente da Abras atribui o desempenho positivo dos pequenos supermercados à mudança de conceito dos consumidores. "Nem só preço querem os clientes. A facilidade de encontrar marcas populares, o atendimento personalizado e a proximidade da residência são características que eles, em especial os de bairros da periferia, buscam na hora de se fidelizar a um supermercado", explicou.

Segundo a Apas (Associação Paulista dos Supermercados), a realidade do Estado de São Paulo se assemelha à tendência do resto do país. O último estudo da Apas aponta que a preferência do consumidor recai nos supermercados menores.

"Enquanto as grande redes tentam conquistar a simpatia de consumidores das classes C, D e E, os pequenos supermercados há anos comem pelas beiradas, e garantem a preferência de uma população durante muitos anos excluída da principal fatia do mercado consumidor", comentou Sussumu Honda, presidente da entidade.

Confiança - Os hábitos de consumo da dona de casa Eliete Amarante, moradora há 20 anos no Parque São Vicente, em Mauá, refletem o perfil do consumidor que promove o crescimento dos pequenos supermercados. Ela não troca a comodidade de comprar produtos a poucos quarteirões de casa, apesar da menor variedade.

"Conheço os donos desse comércio há mais de uma década. Sinto-me em casa, bem à vontade. Sei que minhas sugestões e reclamações são ouvidas, já que falo direto com o dono. Isso não acontece nos hipermercados."

O empresário Kenzi Era, proprietário de um pequeno supermercado no Parque Marajoara, em Santo André, afirma que o atendimento mais "íntimo" atrai cada vez mais clientes. "A gente já conhece o consumo da nossa clientela e, assim, adquirimos só o que sabemos que eles compram."

Segundo Era, a opção de abastecer as gôndolas com produtos populares atrai os clientes não apenas em razão do preço mais em conta. Outro fator destacado pelo comerciante é que essa estratégia não deixa o consumidor se sentir excluído. "Não adianta colocar nas prateleiras comidas muito caras, a preços absurdos, que somente uma parcela mínima de nosso público poderá comprar", afirmou.

Isso não significa, segundo Marcelo Kazuo Wada, filho de Era, que os clientes de baixa renda não consumam produtos caros. "Claro que não subestimamos nosso consumidor. Apenas disponibilizamos mercadorias que respeitam o bolso deles", explicou.

Administração - O sucesso dos pequenos está diretamente relacionado também ao bom gerenciamento, o que inclui parcerias. Segundo Alexandre Manzoli, comerciante do ramo em Mauá, essa é a fórmula do sucesso e da expansão dos serviços. Para ele, associar-se a outros pequenos mercados e supermercados é fundamental para sobreviver no disputado setor varejista. "Não temos a pretensão de querer o mercado dos grandes. Eles têm seus clientes fiéis e nós temos o nosso. Há espaço para todo mundo."

Manzoli destaca também como vantagem a qualidade dos produtos oferecidos. "Disponibilizamos produtos de boa qualidade com preço baixo porque podemos selecionar. Os produtos básicos são sempre os mais procurados e, por isso, incomodamos os hipermercados", disse.

Além da seleção das mercadorias e preços acessíveis, o empresário andreense Kenzi Era enfatiza que o trabalho em família cria laços de confiança com os clientes, além de contribuir para a redução de custos para manter o estabelecimento.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;