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Diários revelam espírito torturado de Kurt Cobain
Da AFP
23/10/2002 | 17:58
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Os diários de Kurt Cobain, vocalista do Nirvana, descrevem a sombria figura de um jovem espiritualmente torturado, que lutava com a heroína, a fama e a paternidade, e que pensava intensamente na idéia de suicídio.

Trechos de seus diários, publicados na última edição da revista Newsweek, mostram que Cobain - que se suicidou com um tiro em 1994 - lamentava profundamente sua dependência das drogas, atribuída a uma dolorosa doença estomacal.

"Decidi aliviar minha dor com pequenas doses de heroína durante três longas semanas", escreveu Cobain em uma carta aberta, nunca enviada, aos fãs do Nirvana pouco depois de seu casamento em fevereiro de 1992 com a cantora e atriz Courtney Love. "Foi uma coisa muito estúpida e nunca voltarei a fazê-lo, e sinto pena de qualquer um que pense que pode usar heroína como remédio, porque não vai funcionar".

A coleção de trechos de diários pessoais, cartas e rabiscos - com gramática e ortografia peculiares - vai de 1988 até a morte do cantor, e será publicada na íntegra em um livro (Journals) no mês de novembro.

Em sua carta aos fãs, Cobain descreve o esforço físico de divulgar o segundo álbum do Nirvana, Nevermind, que chegou ao topo da lista dos mais vendidos em 1991 e deu ao grupo fama mundial.

"Sou o produto de sete meses de gritos no limite de meus pulmões quase todas as noites, sete meses de saltos como um macaco retardado, sete meses de respostas para as mesmas perguntas todas as vezes".

Em uma passagem de seu diário dessa época, Cobain admite que havia usado heroína diariamente para aliviar a dor de estômago, que o fazia vomitar de forma constante.

"Decidi que me sinto como um viciado, então eu até posso ser um", destacou, acrescentando que duas semanas em uma clínica de desintoxicação foram minadas no mesmo instante que saiu do centro médico. "Imediatamente eu comecei a sentir aquela conhecida e ardente náusea e decidi me suicidar ou interromper a dor. Comprei uma arma, mas escolhi as drogas”.

A filha de Cobain e Love, Frances Bean, nasceu em agosto de 1992. Em uma carta a seu pai, que também não foi enviada, Cobain narrou a ansiedade que sentia como pai.

"Cada vez que vejo um programa de televisão com uma criança morrendo ou o depoimento de um pai que acaba de perder seu filho, não posso fazer outra coisa a não ser chorar (...) O pensamento de perder meu bebê me persegue".

Em fevereiro de 1994, o Nirvana seguiu para uma turnê européia. Em Madri, Cobain escreveu mais uma vez em seu diário sobre seu problema com as drogas, apenas três semanas antes de uma overdose quase fatal em Roma.

"Depois da primeira vez (do uso de heroína) sua mente diz isso foi muito prazeroso, a não ser que não faça todos os dias não terei problemas. O problema é que acontece o tempo todo (...) Até a pessoa com a maior fobia de agulhas encontra alívio em colocar uma seringa em seu braço."

Cobain se suicidou em sua casa de Seattle (Washington) no dia 5 de abril de 1994. Em uma carta de desculpas para sua mulher e sua filha, escreveu: "não sei para onde estou indo. Eu simplesmente não posso ficar mais aqui".

A editora Riverhead Books teria pago a Love, herdeira de Cobain, quase US$ 4 milhões para publicar "Journals".




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