Política Titulo Editorial
Esgoto, político e estadista
Do Diário do Grande ABC
05/03/2017 | 09:56
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Aline Pietri/DGABC


Andam a passos de tartaruga, muito lentos, os investimentos em saneamento básico no Grande ABC. Dez anos depois da promulgação de lei federal que estabelece diretrizes para que toda a população brasileira tenha acesso ao abastecimento de água potável e ao recolhimento e posterior tratamento de dejetos, em 2007, apenas São Caetano, entre as cidades da região, pode se jactar de levar os serviços a 100% de seus moradores, condição alcançada ainda em 2009. As demais ainda patinam. E, a se crer nas expectativas oficiais, a batalha ainda está longe de ser vencida.

Há série de razões para explicar o ritmo vagaroso com que os municípios executam obras de saneamento básico, mas a principal delas certamente é a falta de visibilidade dos investimentos aos olhos da população. Entre construir um prédio que pode ser observado a quilômetros e enterrar tubulação para carregar esgoto a centrais de tratamento, não há dúvida de qual vai escolher o político interessado em impor sua marca.

Com essa maneira rasteira de fazer política, condenam gerações inteiras. O dinheiro não investido em saneamento básico será gasto, com juros e correção monetária, nos ambulatórios médicos e hospitais, para onde acorrerão os cidadãos infectados por doenças decorrentes do esgoto que corre a céu aberto e da falta de água potável. É triste ver prefeitos, governadores e presidentes da República se elegendo à custa da Saúde da população.

Ao sonegarem bens tão básicos, como a água pura e o esgoto tratado, os políticos brasileiros se apequenam e ficam longe de garantir seu lugar na história. Podem fazer sucessores, garantidos pela execução de grandes e vistosas obras, mas não deixarão legado. Essa estirpe de sujeitos já foi definida à perfeição pelo teólogo e escritor norte-americano James Freeman Clarke (1810-1888), que cunhou frase que ainda ecoa nos cérebros mais conscientes, estejam eles onde estiverem: “Um político pensa nas próximas eleições. Um estadista pensa nas próximas gerações”. O Grande ABC, pródigo em políticos, ainda deve um estadista. 




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