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Motorista monta cartaz no farol para pedir emprego

Silva vai diariamente a S.Bernardo com o filho de 10 anos; ele diz que não tem como pagar curso

Matheus Angioleto
Especial para o Diário
04/01/2017 | 07:15
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Claudinei Plaza/DGABC


Há cinco anos sem trabalho fixo, Adriano Ferreira da Silva, 48 anos, vai aos semáforos de São Bernardo com uma faixa, na qual pede por um emprego diariamente, das 8h às 20h, junto com o filho Ricardo, 10. “Eu fico com ele enquanto minha ex-mulher está trabalhando, nós dividimos um colchão de solteiro no lava-rápido onde eu moro”, conta. Seu sonho é voltar a atuar como motorista carreteiro.

Ele contou à equipe do Diário que estava apenas com um pacote de pão de forma na bolsa, com cinco fatias para o almoço e cinco para o jantar, as quais dividiria com o filho. Os dois passaram o Natal e o Ano-Novo dentro do lava-rápido.

Ele integra a estatística do desemprego no Grande ABC, que soma 227 mil pessoas em busca de ocupação nas sete cidades. Os dados são da PED (Pesquisa de Emprego e Desemprego) realizada pelo Seade/Dieese, referente a novembro, que considera todo tipo de trabalho. O percentual de pessoas sem emprego na região chega a 16% da PEA (População Economicamente Ativa).

Silva era motorista de carreta em uma empresa, mas foi demitido após seis meses de trabalho. Ele explicou que foi dispensado por conta de outro motorista com quem viajava junto, usuário de drogas, e chegou a atrasar uma viagem por um dia e meio.

Hoje, vive de bicos e enxerga na faixa que carrega a esperança de arrumar um emprego com carteira assinada. Silva lançou mão dessa estratégia porque acredita que, dificilmente, uma firma perderá tempo com candidato que parou de estudar na oitava série. “Já preenchi muitas fichas e fiz muitos testes, mas quando as recrutadoras veem que não têm condições, chamam outro candidato”. Outro obstáculo na busca por emprego é a falta do curso Mopp, específico para transporte de produtos perigosos. “Mas como é que eu vou pagar um curso sendo que estou vendendo o almoço para pagar a janta?”, desabafou.

EXPERIÊNCIA - Silva já trabalhou como caseiro, vendendo tapiocas na praia e, agora, quando volta da rua e nos fins de semana ele lava carros para ganhar R$ 5. Morador de Cidade Tiradentes há 12 anos, acredita que pode arrumar emprego no Grande ABC, onde ele crê que existem mais oportunidades, e conta que, se tivesse oportunidade, já teria saído de onde mora. A única ajuda que recebia era a da mãe, que morreu há cinco anos. “Vendi televisão, botijão de gás e fogão para pagar as minhas dívidas, e hoje só tenho uma mala de roupas”, relatou.

A solidariedade de algumas pessoas já beneficiou o motorista, que foi levado a Jaguariúna (Interior) para dirigir uma carreta, mas as condições do veículo eram preocupantes, e ele tinha medo por sua vida e pela dos outros. “Eu dirigia, mas o veículo estava sem freio e com pneus lisos. Além disso, eles atrasavam o pagamento e eu não recebia direito.”

O último trabalho com carretas foi há dois meses, mas nada fixo. Recebia R$ 700 para ficar um mês fora. Ele viajava para o Mato Grosso do Sul, mas disse que estava sendo humilhado pelo dono da carreta. “Ele viajava comigo e me colocava para dormir debaixo do veículo, e quando eu ia almoçar, me fechava para fora da cozinha.” 




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