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Mãe da menina Isabella chora em depoimento
Do Diário OnLine
Com AE
22/03/2010 | 08:38
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Da AE/Arquivo


Em cerca de duas horas e meia de depoimento, Ana Carolina Oliveira, mãe da menina Isabella, chorou ao menos quatro vezes. Primeira testemunha a depor, ela foi ouvida das 19h30 às 22h desta segunda-feira no Plenário do Fórum de Santana, Zona Norte da Capital paulista, onde ocorre o julgamento de Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, acusados pela morte de Isabella. Amanhã, mais quatro testemunhas devem depor, a partir das 9h.

Ana Carolina se emocionou pela primeira vez ao lembrar da noite em que recebeu uma ligação de Jatobá dizendo que havia acontecido um acidente com Isabella. A mãe afirmou que não conseguia entender aquilo, e chegou a pensar que a filha havia caído na piscina do condomínio. Neste instante, o juiz Maurício Fossen, do 2º Tribunal do Júri de São Paulo, chegou a interromper a sessão para que Ana tomasse água.

Segundo os jornalistas que acompanharam o depoimento, o momento mais emocionante foi quando Ana Carolina foi questionada sobre qual era o maior sonho de sua filha. Aos prantos, ela disse que a menina sonhava em aprender a escrever. Ao menos uma das juradas também aparentou estar emocionada.

Durante o seu testemunho, a mãe de Isabella apontou Alexandre como um pai ausente e Anna Jatobá, com quem tinha uma relação tumultuada, como uma pessoa agressiva e bastante ciumenta. Dos avôs paternos da menina, ela disse não ter nenhum tipo de reclamação.

Alexandre Nardoni permaneceu praticamente o tempo todo sem esboçar reação, e aparentemente sem prestar atenção no que estava sendo dito. Sua apatia, porém, foi quebrada no momento em que Ana Carolina contou que em 2003 foi ameaçada com uma arma por querer matricular a filha, de então 1 ano e 4 meses, na escola. Ele olhou fixamente para Ana Carolina e fez sinal negativo com a cabeça

Além de Ana Carolina, interrogada pelo promotor Francisco Cembranelli e um assistente de acusação, devem ser ouvidas 15 testemunhas, a maioria delas de defesa. Inicialmente, haviam sido convocadas para o júri 23 testemunhas, mas, após o início do julgamento, a defesa do casal dispensou seis pessoas: Paulo Vasan, escrivão do 9º DP (Distrito Policial), no Carandiru; Luiz Alberto Spinola de Castro, investigador de polícia do 9º DP; Claudio Colomino Mercado, agente policial do 9º DP; Adriana Mendes da Costa Porusselli, escrivã do 9º DP; Walmir Teodoro Mendes, investigador do 35º DP, no Jabaquara; e Geralda Afonso Fernandes, vizinha de frente do prédio onde morava o casal Nardoni. Já a acusação dispensou o testemunho da avó materna da vítima, Rosa Cunha de Oliveira.

O julgamento começou às 14h17, com atraso de mais de uma hora e, após pausa para lanche, foi retomado por volta das 17h10 com a leitura da sentença de pronúncia. No início da sessão, a madrasta de Isabella sofreu um mal estar passageiro, mas não chegou a ser removida do local.

Após sorteio do júri, composto por quatro mulheres e três homens, os advogados dos réus voltaram a pedir o adiamento do julgamento, que foi negado por Fossen.

Entenda o julgamento — O julgamento que se inicia hoje deve durar de quatro a cinco dias. Alexandre e Anna Carolina estão desde maio de 2008 em presídios em Tremembé, no interior paulista. Os réus já perderam 11 decisões de habeas-corpus nas três instâncias da Justiça. Eles alegam inocência.

De acordo com as investigações, foi encontrado um rastro de sangue que começava na porta de entrada do apartamento do casal, passava pela sala, onde havia vestígios de uma poça grande, seguia pelo corredor de acesso aos dormitórios e terminava no quarto dos irmãos da vítima.

Segundo mostram os laudos, também havia sangue na maçaneta e no interior do carro da família. Outras marcas foram encontradas na tela de proteção e no parapeito da janela do quarto dos meninos. A tela estava cortada. Os laudos mostram ainda indícios de que Isabella foi espancada antes da queda.

Na versão do casal Nardoni, Alexandre chegou com os filhos, desligou o carro e subiu primeiro com Isabella no colo, que estava dormindo. Depois de deixar a filha na cama ele conta que voltou até a garagem para ajudar Anna Carolina com os dois meninos. Ao voltar para o apartamento, Alexandre afirma que encontrou a porta aberta, a tela de proteção cortada e a menina caída no gramado do Edifício London.

Argumentos — Para o promotor de Justiça Francisco José Cembranelli, um dos responsáveis pela acusação no caso, o pai e a madrasta são culpados pelo crime. "É o que a prova mostra. A prova os compromete. Essa é a verdade nua e crua", disse ele, em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo de ontem. De acordo com a denúncia do promotor, a menina foi estrangulada pela madrasta e arremessada pelo próprio pai. "Isabella foi muito agredida e acabou defenestrada depois de uma sucessão de atos cometidos pelos acusados", afirma Cembranelli.

Já para o advogado Roberto Podval, "não há absolutamente como condenar nenhum dos dois". Ontem ao mesmo jornal, ele disse que o crime virou um espetáculo da Idade Média. "Parece aquelas mortes apregoadas em praça pública. As pessoas gostam de ver sangue. Não há preocupação de se fazer justiça, mas de vingar a morte da menina." Ele conta que o caso "está pautado na perícia que, desde o primeiro momento, parte da culpa do casal para chegar ao resultado". Em sua opinião, não será possível um julgamento justo e honesto.

Morte de Isabella — Isabella de Oliveira Nardoni, de 5 anos, foi morta na noite de 29 de março de 2008. A perícia concluiu que a menina foi atirada do sexto andar do prédio onde moravam seu pai, Alexandre, sua madrasta, Anna Carolina, e dois filhos pequenos do casal, na Vila Isolina Mazzei, Zona Norte de São Paulo. O crime comoveu o País e ganhou grande repercussão.




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