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Em 'show', Arpeggiata põe até público para dançar
02/12/2016 | 09:00
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Divulgação


No mundo da música dita clássica, o repertório dos concertos gira em torno da produção do passado. Cabe perguntar por que ela não consegue sair do estado museológico com que é praticada, em rituais engessados nos quais a plateia pode no máximo aplaudir - e no momento certo. Como romper essas amarras e, apesar da distância histórica em que foi composta, fazer esta música nos tocar como se tivesse sido criada hoje?

As respostas têm vindo da tribo dos que praticam a música historicamente informada. O norte-americano Bruce Haynes, que morreu em 2011, aos 68 anos, foi oboísta e musicólogo. E fez uma lista dos dogmas da vida musical que nos engessam: "Grande respeito pelos compositores, representado pelo culto aos gênios e à originalidade; reverência quase bíblica às ''obras'' musicais; obsessão com as intenções originais do compositor; a prática de se ouvir música como um ritual; e o hábito de ouvir repetidamente um número limitado de obras".

Entre outros adoráveis pecados contra esses dogmas, Haynes "cometeu" o de compor mais meia dúzia de concertos de Brandemburgo. Isso é injetar vida à prática musical. É o que o público viu e curtiu muito, participando ativamente do espetáculo Mediterrâneo, na quarta-feira, dia 30, no Sesc Bom Retiro. Empunhando sua imponente teorba, Cristina Pluhar, nascida 55 anos atrás em Graz, na Áustria, comandou uma incrível noitada de música improvisada sobre canções, melodias e danças do século 17 de cidades que rodeiam o Mediterrâneo, como as italianas e a grega Salento.

Foi a estreia no Brasil da Arpeggiata, grupo fundado em 2000 por Cristina em Paris. Uma hora e meia de música vivíssima, com ótimos improvisos de Francesco Turrisi ao cravo. Doron Sherwin pilotou um maravilhoso corneto - instrumento do Renascimento, com bocal de trompete e corpo de madeira como a flauta, com orifícios - de sonoridade aveludada e ao mesmo tempo brilhante. Os improvisos ao corneto foram particularmente impressionantes, assim como os do percussionista Sergey Saprychev.

Pelos nomes dos integrantes, vocês já perceberam que Arpeggiata é uma espécie de nações unidas reunidas por Cristina, que vem pinçando talentos no mundo inteiro. Desde a chacona inicial de Maurizio Cazzatti, o público foi seduzido por esta música ao mesmo tempo tão distante e tão próxima de nossos ouvidos. Deliciosos dialetos napolitanos e do sul da Itália frequentam as canções, que tiveram no contratenor Vincenzo Capezzuto e na soprano Céline Scheen intérpretes de primeira linha. E, cereja no bolo, a bailarina Anna Dego puxou até um espectador no final para uma frenética tarantela.

O melhor de tudo isso é que Arpeggiata faz no total quatro shows (sim, shows) em unidades do Sesc: nesta sexta, dia 2, no Bom Retiro; no sábado, 3, em Santos; e domingo, 4, em Sorocaba. Imperdível.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.




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