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Jacques Tati em mostra e livros
26/01/2010 | 07:00
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O roteirista francês Jean-Claude Carrière trabalhou com cineastas excepcionais como Luis Buñuel ("A Bela da Tarde"), Peter Brook ("O Mahabharata") e Milos Forman ("Sombras de Goya"), mas é de um homem alto, circunspecto e quase sempre com cachimbo na boca de quem ele se recorda com carinho especial. "Jacques Tati foi o diretor que me abriu as portas do cinema", afirma Carrière, lembrando-se de um dos principais realizadores franceses (1907-1982), conhecido por seu humor visual minimalista. "Com Tati, aprendi os primeiros truques da arte cinematográfica".

Carrière volta no tempo e relembra de "Meu Tio", o segundo livro de sua carreira, publicado em 1958. Trata-se de uma versão em palavras do clássico de Tati, lançado antes, mas no mesmo ano. Ou seja, Carrière fez o caminho inverso: levou para o texto um filme já existente. Uma transposição que não perde seu frescor, como atesta a edição brasileira a ser lançada pela Cosac Naify na semana que vem, com tradução de Paulo Werneck (176 págs., R$ 37).

Na carona deste romance, a editora lança ainda o livro-imagem "Na Garupa do Meu Tio", no qual o ilustrador David Merveille oferece engenhosa sequência de cenas também retiradas do filme, oferecendo um terceiro olhar sobre uma obra inesgotável. "É um trabalho muito difícil, pois os filmes de Tati são quase mudos, praticamente sem diálogos", lembra Carrière.

De fato, Jacques Tati era um fino observador do cotidiano - para muitos, o Antonioni do humor. A partir de monsieur Hulot, seu personagem fetiche e interpretado por ele mesmo, o cineasta expunha os limites do mundo. Gentil, distraído, inseparável do seu cachimbo, Hulot, sempre de capa, guarda-chuva e sapatilha de balé, tornou-se figura emblemática por meio do qual Tati, um ex-jogador de rúgbi e mímico, elegia a solidão e a incomunicabilidade para investir contra a massificação e despersonalização dos tempos modernos.

É o que se observa em "Meu Tio" e também em "As Férias do Sr. Hulot", "Playtime - Tempo de Diversão" e "As Aventuras de Sr. Hulot no Tráfego Louco", filmes que compõem mostra especial dedicada ao diretor que estreia hoje, no Centro Cultural São Paulo.

A abertura é justamente com "Meu Tio", o que permitirá interessante comparação com a versão de Jean-Claude Carrière. E a primeira conclusão garante a perenidade do livro: não se trata de uma simples transposição. "Eu não podia fazer isso, pois seria um trabalho menor e preguiçoso", comenta o roteirista. "Preferi eleger um personagem secundário, que é o menino que vive entre dois mundos: o dos pais, fanáticos por limpeza e modernidade, e o do tio Hulot, que mora em um barulhento mas alegre conjunto de casas empilhadas. Assim, o romance se passa quando o garoto já é um adulto e se recorda dos tempos de infância".

Jacques Tati Mostra de cinema. De hoje até domingo. Centro Cultural São Paulo - Rua Vergueiro, 1.000, São Paulo. Tel.: 3397-4002. Site: www.centrocultural.sp.gov.br. Entrada franca.




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