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Izar se contradiz em depoimento à CPI dos Fiscais
Do Diário do Grande ABC
29/05/1999 | 15:33
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O vereador José Izar (PFL) entrou em contradiçao neste sábado, ao depor na CPI da Câmara Municipal que investiga irregularidades na administraçao municipal. Em cerca de duas horas e meia, Izar, que é acusado de ser o principal beneficiário de um esquema de propinas na Administraçao Regional da Lapa, negou as acusaçoes, limitando-se a afirmar "desconheço", "só soube pro meio da imprensa" e "se soubesse, teria tomado as providências necessárias". O vereador pode ser cassado pela Câmara. Ele já foi indiciado pela polícia por concussao, formaçao de quadrilha, prevaricaçao e peculato.

"O depoimento de Izar colide com o de outras testemunhas e, inclusive, com provas materiais. A partir de agora, vamos analisar todas as versoas para emitir um parecer", afirmou o presidente da CPI, José Eduardo Cardozo (PT). Izar tem até o dia 2 de junho para apresentar sua lista de testemunhas de defesa e até 7 de junho para entregar a defesa por escrito. No mesmo dia, serao ouvidas as testemunhas de defesa.

O vereador, em depoimento, omitiu alguns detalhes da versao que havia apresentado na polícia ao delegado Romeu Tuma Junior, na semana passada. Apesar de afirmar repetidamente na CPI que "nao toleraria que um funcionário, dentro ou fora da regional, trabalhasse em campanhas políticas", Izar havia dito na polícia que, certa vez, encontrou o chefe de fiscalizaçao da Lapa Amauri Rippa, acusado de integrar o esquema, no comitê político de Willians José Izar, irmao do vereador e candidato a deputado estadual, "participando da campanha". Nesse momento, o vereador voltou atrás. "Nao sei se ele fez campanha. Eu o encontrei por volta das 20 horas, e ele falou que estava de licença ou coisa parecida. E já nao era horário de trabalho."

Apesar de ter indicado o assessor Gilmar de Almeida Lima para a regional da Lapa, Izar afirmou desconhecer que ele prestasse serviços eleitorais para Willians, até mesmo durante o horário de serviço, conforme o depoimento de várias testemunhas e do próprio Gilmar.

Izar também nao soube explicar o episódio envolvendo o afastamento de Rippa da regional, determinado pelo ex-administrador Osvaldo Cuoghi, e seu posterior retorno, por meio de pedido do vereador. "Um amigo meu disse que o Amauri estava sendo injustiçado. Fui averiguar na regional e nao encontrei provas contra ele, aí telefonei e enviei memorando ao secretário das Aministraçoes Regionais (Alfredo Mario Savelli) explicando o caso".

Izar afirma ter pedido ao secretário nova averiguaçao. Dias depois, Rippa voltou à regional. Questionado sobre como foi feita a averiguaçao, o vereador respondeu: "Fui à regional e, por cerca de meia hora, perguntei às pessoas próximas a Rippa se elas sabiam de algum problema, e elas negaram".

Izar também deu versao contrária à da polícia ao explicar suas relaçoes com alguns dos envolvidos no caso. Ele negou conhecer o ambulante José Vital da Rocha, conhecido como Zé do Amendoim. "Nao conheço essa pessoa". Minutos depois, quando as perguntas retornaram ao nome do camelô, ele mudou de opiniao. "Desculpem, havia me esquecido. Eu conversei com ele no sindicato dos ambulantes uma vez, numa reuniao com amigos dele". O ambulante, acusado de participar de um esquema de venda de Termos de Permissao de Uso (TPUs) falsificados a ambulantes, afirmou que o vereador tinha influência na regional da Lapa.

Outro personagem "esquecido" por Izar é José Rafael Barcha proprietário da serigrafia Brasilk, que afirma ter sido obrigado a fazer a campanha de Willians Izar para obter seu alvará de funcionamento. Barcha afirma ter encontrado José Izar em uma churrascaria, no dia em que seu imóvel foi liberado após a extorsao, junto com Willians. O vereador confirmou esse encontro na polícia, mas hoje disse que "nao conhecia" Barcha.

Alguns outros pontos, segundo integrantes da CPI, nao foram bem explicados pelo vereador. Um deles foi a questao da utilizaçao de carros emprestados pela concessionária Companhia Metropolitana na campanha de Willians. Izar nega o fato, alegando conhecer o dono da empresa. "É meu amigo e, de vez em quando, emprestava alguns carros para meu uso particular e em trabalho político meu, nao em campanha eleitoral".

Após essa declaraçao, o presidente da CPI, José Eduardo Cardozo, apresentou um documento que teria sido enviado ao assessor Gilmar de Almeida Lima, cobrando a devoluçao de três carros "que haviam sido cedidos em acordo feito com o vereador José Izar e a Administraçao Regional da Lapa para campanha eleitoral". Um dos veículos cobrados, segundo documentaçao, teria sido abastecido em janeiro em um posto de gasolina. Na nota fiscal consta o nome de José Izar.

O vereador irritou-se, disse que desconhecia o fato e que Lima poderia ter feito o empréstimo por conta própria. Izar afirmou várias vezes que o assessor "faltou com a verdade", e acenou, inclusive, com a possibilidade de acioná-lo judicialmente.

Ao final do depoimento, Izar se disse "aliviado". "Nao há provas concretas de que eu recebi um real sequer, estou com a consciência limpa."

Ainda neste sábado deve ser ouvida a vereadora Maeli Vergniano (sem partido), acusada de utilizar a Administraçao Regional de Pirituba para se beneficiar.




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