A gravidade da face mais cruel das crises asiática e russa pode ser medida pelas palavras de Márcio Pochmann, professor da Unicamp. "Em termos de emprego, assistimos ao fim da segunda década perdida. E ainda é nossa pior taxa de desemprego em 100 anos", aponta o pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Mercado de Trabalho (Cesit). "Chegaremos a dezembro com uma renda per capita igual a de 1980."
Em sua avaliaçao, Pochmann enxerga nos números de 1998 novo perfil tanto do desemprego como dos desempregados. "O desemprego nao é apenas da crise, ele é derivado do modelo econômico, que nao é gerador de empregos. E o processo de reestruturaçoes, fusoes e entrada de estrangeiros está atingindo um setor protegido até entao, a classe média de boa qualificaçao profissional", acentua. É a classe média, identifica Pochmann, o segmento da sociedade que ficará com a corda no pescoço no ano que acaba de começar.
O desemprego acumulado em 1998, segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), deve ficar em 7,5% - dois pontos percentuais acima do ano anterior, ou mais 345 mil trabalhadores nas seis maiores regioes metropolitanas do país. Cerca de 10% das vagas da indústria foram cortadas só entre janeiro e outubro. De acordo com os especialistas, ao mesmo tempo em que a crise enxugava postos de trabalho crescia o número de pessoas à procura de uma vaga (engrossando a Populaçao Economicamente Ativa) - um choque que só fez aumentar as filas de emprego.
Diante desse quadro, Shyrlene Ramos de Souza, responsável pela Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE, acha que o primeiro trimestre pode registrar taxa histórica de desemprego. "Se chegamos a novembro (7,04%), quando o desemprego sempre diminui, no mesmo patamar do pior mês, janeiro (7,25%), é sinal de que a situaçao está crítica e a taxa pode dar novamente um salto na passagem de ano. De 97 para 98, o desemprego cresceu 50% em um mês."
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