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Rota do Frango com Polenta faz uma miscelânea de alegria
Illenia Negrin
Do Diário do Grande ABC
07/06/2004 | 22:22
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Tudo o que parece ser, é. Se um desavisado entrar num restaurante da Rota do Frango com Polenta, em São Bernardo, num sábado à noite, pode achar que errou de endereço. Que está invadindo uma festa de casamento, ou um jantar dançante fechado só para convidados, ou ainda o aniversário de alguém que não conhece. O que ele ainda não sabe é que, num sábado à noite, ninguém é penetra na avenida Maria Servidei Demarchi. Tem espaço para todo mundo, e todo mundo se diverte. É tudo ao mesmo tempo, e mais o que ele quer que seja, até um jantar a dois. A única coisa que não se pode esperar é silêncio. O caos, minimamente organizado, acolhe desde a mãe da noiva até o bebê de 7 meses, que dorme tranqüilamente no berço portátil, enquanto os pais sacodem na pista de dança.

A balada começa às 20h e os aposentados Myriam, 72 anos, e Wladmir de Barros Barbosa, 77, são um dos primeiros a chegar ao restaurante São Francisco. São casados há 41 anos, e freqüentam o restaurante há 15. Esperam outros casais inaugurarem a pista para adentrar ao salão, e, enquanto isso, vão bebericando uma taça de vinho tinto. “Sou do tempo em que se aprendia a dançar em casa”, afirma Wladmir. Myriam garante que não irão embora antes da uma da manhã. “Hoje quero dançar até”. Quando chega a hora, Wladmir levanta, vai até a esposa, puxa delicadamente a cadeira, segura sua mão e a convida para dançar. “Sem o ritual, não tem graça”, ensina.

O ritmo vai esquentando aos poucos. Primeiro, o bolero. Depois, o samba, muito samba. O buffet self service lotado de gente com o prato nas mãos. Todas as mesas têm um pratinho de polenta. De repente, a banda interrompe a “Aquarela do Brasil”, inicia a marcha nupcial e todo o restaurante volta os olhares para a entrada. A noiva, imponente como todas elas, chegou. Os convidados dela puxam a salva de palmas. Os outros clientes também aplaudem. A cena se repetiria mais duas vezes, porque só no último sábado o restaurante reservou três partes do salão para festas de casamento diferentes.

Um deles reuniu duas noivas e 400 convidados. Marcia Maria Cavalcanti, decidiu se casar no mesmo dia em que o irmão, Marcello de Jesus Santos. Ele conta que já frequentava o restaurante, e que o fato de dividir o espaço com outras pessoas não tira o brilho da festa. “É um jeito de todo mundo participar, mesmo que a gente nem se conheça. Todo mundo comemora junto”.

Em instantes, tudo volta ao normal. Só que agora a pista de dança fica bem mais cheia, e os casais vão perdendo o espaço. Rodinhas são formadas, e quem olha para o salão vê moças elegantemente vestidas de longo, homens de terno, e os “avulsos”, de calça jeans e camisa para fora da calça. Bailarinos sobem ao palco e ensinam coreografias de axé e funk. Quando tudo pára mais uma vez. É a hora de a noiva jogar o buquê. Os que não são da festa - mas estão nela - se retiram educadamente, liberando espaço para os convidados. Um, dois, três... e a noiva atira o ramalhete para trás. Acerta uma mesa de pessoas que ela nunca vira na vida. Paciência, a senhora de verde perdoa a falta de mira da moça e entrega o troféu para alguém que, pelos trajes, era mais íntimo do casal.

Longe das luzes e da barulheira do salão, o adolescente Inácio Ferreira, de 17 anos, não vê a hora de a festa terminar. Ele é guardador de carros. Ou melhor, de centenas de carros que estão no estacionamento, cobertos pela névoa trazida pelo frio. Não ganha salário fixo, e depende das gorjetas dos clientes para sobreviver. O sábado à noite é o melhor dia da semana, quando ele volta para casa com os bolsos cheios de notas de um real. Cerca de 35. Quer encerrar logo o expediente, porque nesta quarta também é dia de casa cheia.

Mas no domingo ninguém dança. É o dia em que o dois-para-lá-dois-para-cá é substituído pelos movimentos dos braços. Garfadas e mais garfadas, para dar conta de uma variedade imensa de comidas. Dia em que olhos e a boca trabalham dobrado, para dar descanso aos pés.




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