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Papa pedirá perdao pelos pecados da Igreja este domingo
Do Diário do Grande ABC
11/03/2000 | 15:18
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Um bispo, um monge e um professor - um voltado para os pobres, outro para os estudos e o terceiro, para a filosofia - têm todos em comum a fé católica e agora, também, um motivo a mais para acreditar na melhoria das relaçoes humanas em boa parte do mundo. Este domingo, em Roma, o papa Joao Paulo II pedirá perdao pelos pecados e mazelas de que a Igreja Católica se sente culpada ao concluir 2 mil anos de história.

Segundo os três católicos, é natural que, a todo pedido de perdao, corresponda, agora, por parte dos beneficiados, também um gesto de boa vontade em prol da paz.

Na assembléia-geral que vao realizar em Porto Seguro, de 26 de abril a 3 de maio, já se sabe, os bispos do Brasil vao lançar uma mensagem ao povo, cujo projeto prevê um pedido de perdao às populaçoes indígenas e negras.

E, agora, o bispo - que já foi presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - Dom Luciano Mendes de Almeida, 69 anos, arcebispo de Mariana (MG), vai mais longe.

Lembrando que também os judeus e cristaos-novos judaizantes sofreram perseguiçao no Brasil, sobretudo no tempo da Colônia, Dom Luciano concorda que a memória deles deve ser incluída nesse ato de contriçao.

Mas o bispo nao quis dizer se vai ou nao ajudar a incluir no pedido de perdao também os judeus (só nos primeiros 23 anos do século 18 foram presos pelo menos 288 cristaos-novos judaizantes, entre eles os pais de Antônio José da Silva, O Judeu, que seria executado em Lisboa, com apenas 34 anos).

O arcebispo de Mariana, que sempre se distinguiu pelo amor aos pobres e aos injustiçados, adianta, porém, seu pensamento: "Provavelmente alguma avaliaçao a respeito vai ser integrada na mensagem."

Dom Estêvao Tavares Béttencourt, monge beneditino, 80 anos, diretor do Instituto Superior de Teologia da Arquidiocese do Rio de Janeiro, faz só uma advertência: a de que, ao se falar de indígenas, negros, judeus, protestantes ou de quem quer que tenha queixas contra a Igreja Católica, "todos saibam reconhecer suas próprias faltas".

Entende o monge e teólogo beneditino que "nenhuma das partes conflitantes é apenas santa ou apenas pecadora". Acrescenta que "o normal seria que todos reconhecessem suas culpas e pedissem perdao".

O professor - Tarcísio Meireles Padilha, 71 anos, presidente da Academia Brasileira de Letras e da Sociedade Brasileira de Filósofos Católicos, além de membro do Pontifício Conselho para a Família - fala dos judeus como "nossos irmaos mais velhos" e diz ter esperança de que, ao pedirem perdao a índios e negros, "os nossos bispos saberao também lembrar os descendentes de Abraao".

Para o acadêmico, "é relevante, contudo, que os sucessivos pedidos de perdao que o papa tem feito nao podem servir de pretexto para o esquecimento das notáveis contribuiçoes que a Igreja, em 20 séculos de História, sempre prestou à Humanidade".

E o professor Padilha, comentando ainda a iniciativa de Joao Paulo II, conclui: "Nao existe instituiçao humana que nao tenha incidido em algum erro e cometido injustiças. É de se esperar que à corajosa iniciativa da Igreja Católica se sigam gestos igualmente magnânimos por parte de outras religioes e instituiçoes políticas."




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