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Incertezas em torno da vitória de Trump puxam alta do dólar

Na semana da eleição presidencial, moeda
norte-americana sobe 5% e chega a R$ 3,40

Vinícius Claro
Do Diário do Grande ABC
12/11/2016 | 07:20
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Marcello Casal Jr/Agência Brasil


Na semana da eleição presidencial norte-americana, o dólar iniciou movimento de escalada e fechou ontem em R$ 3,40 – alta de 5% na semana –, que só não foi maior devido às ações do Banco Central para contê-la, pois ao longo do dia a cotação passou dos R$ 3,50. O principal motivo da alta foi a vitória do candidato do Partido Republicano, Donald Trump. O resultado foi considerado surpreendente, já que grande parte das pesquisas apontava a democrata Hillary Clinton como favorita.

De acordo com o professor Ricardo Balistiero, coordenador do curso de Administração do Instituto Mauá de Tecnologia, o mercado gosta de atuar com previsibilidade. No entanto, é tudo o que as propostas de Trump não apresentam, nem durante nem após a eleição. Neste aspecto, Hillary oferecia mais. “A partir do momento em que ela não é eleita, o mercado tenta se proteger e corre exatamente para o dólar, que se valoriza no mundo todo.”

A Bovespa, na contramão, teve ontem seu terceiro pregão consecutivo de baixa, em nova onda de vendas de ações. Neste período, as perdas, que penalizam mais os mercados emergentes, somam 7,75%.

Balistiero explica que o caminho sinalizado pelo republicano é de adotar política econômica expansionista do ponto de vista fiscal, com aumento de gastos do governo. Assim, a inflação tende a subir, influenciando a taxa de juros, que também teria alta para conter o incremento dos preços. Assim, a moeda norte-americana continuaria em patamar elevado.

A economista Juliana Inhasz, professora da Fecap (Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado), também acredita que a proposta expansionista pode ter influência no câmbio. “Boa parte desse aumento do dólar reflete a incerteza do mercado, que começou a colocar na conta que o aumento nos juros americano é praticamente certo.” Segundo ela, as políticas que Trump propôs abordam redução de tributos e maior desembolso com infraestrutura, medidas que acabam por inflacionar a economia para atender esse tipo de política.

Já Sandro Maskio, coordenador do Observatório Econômico da Universidade Metodista, ressalta a possibilidade de política protecionista nos Estados Unidos, o que também gera aumento do dólar. “Uma das políticas anunciadas é a valorização da moeda norte-americana. Durante a crise de 2008, o governo dos Estados Unidos ampliou a base monetária, injetando bilhões de dólares para dar giro à economia. Isso fez com que a divisa se desvalorizasse.”

Maskio pondera que, a curto prazo, o impacto na economia brasileira deve ser na inflação, já que vai aumentar o preço dos produtos importados. A médio e longo prazos, ele crê que essa medida poderá fazer bem ao Brasil, principalmente ao setor produtivo. “Se começa a se tornar inviável importar, se tem estímulo para produzir aqui dentro.” Para isso, no entanto, algumas medidas que estimulassem o crescimento precisariam ser adotadas. “É preciso dar condições ao setor produtivo, financiar investimento para aumentar as plantas já existentes e abrir novas.”

TURISMO - O dólar turismo encerrou a semana em R$ 3,55 – alta de 4% em relação ao começo da semana (R$ 3,39). A professora da Fecap recomenda às pessoas que pretendem viajar que acompanhem o movimento do mercado para fazer a compra em momento em que o dólar não esteja em viés de alta.

Ao considerar que a cotação da moeda deva continuar subindo até o fim do ano, Juliana sugere que a compra seja feita o quanto antes. “Então as pessoas têm previsibilidade e não ficam reféns do mercado. Porque, se lá na frente chegar a R$ 3,80 ou R$ 3,90, quem tem viagem marcada terá de comprar de qualquer jeito.”

PROJEÇÕES - Para a economista, o dólar comercial deve se estabilizar perto de R$ 3,50. No entanto, ela explica que é muito difícil gerar expectativa em torno do câmbio. “De todos os indicadores econômicos macro, o dólar é o mais difícil de prever, já que há muitos fatores que podem interferir.”

Além disso, os especialistas ressaltam que o andamento da economia brasileira e sua recuperação, ou piora, também interferem no preço do dólar, que não depende apenas do mercado internacional. Balistiero aponta que alguns fatores como a operação Lava Jato podem influenciar a economia local. Ele também destaca que o Banco Central pode tomar algumas medidas para limitar sua valorização, como o swap cambial, ou a venda de dólares, que foi feita ontem. “Hoje o País tem reserva superior a US$ 360 bilhões.”

Ele destaca que não vê em Trump tanto poder para revolucionar a política norte-americana. “Não acredito que aquele personagem da campanha seja o que vai tomar posse. E o Partido Republicano e o Congresso podem frear algo mirabolante.”
 




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