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Papai Noel que tentou matar publicitária vai a júri nesta quinta-feira
08/02/2006 | 23:36
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Quando viu o Papai Noel distribuindo balas aos carros à sua frente, a publicitária Renata Guimarães Archilla, 21 anos, pensou, ao volante de seu Palio: “Oba, vou ganhar balas.” Ganhou três, dundum, no rosto, despejadas pela pistola 7.65 do Papai Noel, e não morreu por incrível milagre. Quatro anos depois do inexplicado atentado, o PM José Benedito da Silva, acusado de ser o Papai Noel malvado do dia 17 de dezembro de 2001, irá a júri nesta quinta-feira pela segunda vez.

A incomum brutalidade da tentativa de assassinato perde em extravagância para uma suspeita que, para o promotor Roberto Tardelli, é certeza: a morte de Renata, uma moça suave e bonita, teria sido encomendada por seu avô, Nicolau Archilla Galan, e seu pai, Renato Grenbreck Archilla, como corolário de uma história de conflitos que começou em 1978, quando sua mãe Iara Lúcia engravidou em meio a um relacionamento arrebatado com Renato.

No dia do crime, o delegado Olavo Reino Francisco, que investigava o atentado, disse não ter dúvidas de que tinha sido um crime de encomenda e lançava suspeitas sobre a longa batalha judicial de Renata para ser reconhecida pelo pai. José Benedito mora e trabalha em Sorocaba, onde Nicolau tem fazenda e haras e, segundo o promotor, já executou trabalhos temporários para a família Archilla.

José Benedito foi preso duas semanas após o atentado, depois que a polícia localizou um carro que, por duas semanas, tinha feito campana na rua onde Renata morava, seguindo-a para registrar seus hábitos, nos preparativos para o crime. O Corsa preto, placa CLK-3430, estava registrado em Sorocaba, em nome de José Benedito.

Numa conversa breve por telefone, Renato Archilla disse que as acusações do promotor Tardelli são “um absurdo”.

Milagres – No dia do atentado, Renata ia para o trabalho, na Agência Click, nas torres do Shopping SP Market, no Morumbi, e parou num sinal. De onde parou, na fila do meio, em terceiro lugar, ela viu, à direita, um Papai Noel mal ajambrado distribuindo balas aos motoristas. Quando ela brecou, o Papai Noel parou de distribuir balas e veio em sua direção; quando cruzou a frente do carro, sacou a pistola e ela intuiu um assalto. Fechou o vidro correndo, escudando-se no insufilm escuro.

O Papai Noel não conversou: chegou junto à janela do motorista e deu três tiros cirúrgicos. “Não há dúvida, foram tiros de execução”, assegura Tardelli, amparado por sua experiência.

No primeiro júri, José Benedito foi condenado a 3 anos por lesões culposas. Segundo Renata, o primeiro tiro entrou pela bochecha esquerda, explodiu-lhe a arcada superior, arrancou os dentes e aninhou-se a milímetros da coluna vertebral, no primeiro milagre. Ela viu estrelas e submergiu em torpor. Instintivamente, ergueu a mão esquerda para abrir o olho e enxergar, sentir-se viva. Nesse momento, deu-se o segundo milagre: o segundo tiro ricocheteou no relógio de aço que a mãe lhe dera antes de morrer e destroçou tendões da mão.

A cabeça pendeu para trás e logo veio a terceira bala, que pipocou no lábio superior, atravessou o assoalho da boca e alojou-se a milímetros da jugular, completando o terceiro milagre. No quarto tiro, o quarto milagre – a pistola travou. “Nunca vi alguém levar três tiros na cabeça e sair vivo. Quem for ateu e vir este caso tem de começar a acreditar em Deus”, admite o promotor Tardelli.




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