Coutinho não rascunha nenhuma fachada para apresentar o seu Brasil. Babilônia 2000 só confirma isso. Documentário finalizado em 2000, se aclimata entre duas favelas cariocas num intervalo menor que 24 horas. Esse decreto de obrigatoriedade toma como meio ambiente os morros do Chapéu da Mangueira e da Babilônia e se restringe à manhã, à tarde e à noite de 31 de dezembro de 1999.
O porquê de tanta restrição é compreensível, senão necessário. Babilônia 2000 pretende ilustrar quais os anseios e as esperanças dos moradores da periferia sobre a entrada em 2000, anunciado como divisor das águas do século e do milênio. Coutinho não exerce as funções de um Didiér moderno, não faz de sua obra uma enciclopédia sobre as mazelas e, em contrapartida, as utopias de uma das bases da pirâmide social no Rio.
Não há genéricos rotulados na multidão de entrevistados em Babilônia 2000. Cada um por si no momento de falar. Essa é a máxima do filme, em que o cineasta de Santo Forte atua como outro espectador. Maestro somente na ilha de edição, quando costurou as dezenas de depoimentos colhidos durante todo um dia. Personagem somente quando deixa aparecer as equipes de filmagem, para atestar sua veracidade, quando não sua cumplicidade.
É essa a conclusão a que Coutinho quer chegar e a que pretende mostrar aos espectadores. Tudo aquilo é real, mesmo que romanesco ou burlesco. Tudo aquilo é parte de um Brasil, que ainda precisa ser apresentado da forma mais imparcial e racional possível a outros tantos Brasis.
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