Economia Titulo
Mudança no câmbio eleva preços da cesta básica
Leone Farias e Evando Nogueira
Da Redaçao
30/01/1999 | 16:52
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A desvalorizaçao cambial provocou uma alta de 0,59% no custo da cesta básica no Grande ABC medido pela Craisa (Companhia Regional de Abastecimento Integrado de Santo André) entre os dias 18 e 25 de janeiro. Depois de várias semanas com um comportamento estável, a Craisa registrou um aumento médio de 1,04% no grupo alimentaçao - que responde por 86% da composiçao do índice. Nesse segmento, os reajustes mais expressivos ficaram por conta do pao francês, com 14%, e da carne, que foi aumentada em 5%. A farinha de trigo aumentou 3,17%, o café, 2,98% e o açúcar, 2,33%. "Esses produtos sao influenciados pelas cotaçoes de preços internacionais, uma vez que sao commodities", disse o economista do Imes (Instituto Municipal de Ensino Superior), de Sao Caetano, Osmar Domingues. Na semana passada, a variaçao foi de 0,16%.  

A tendência de alta na variaçao dos preços deve se manter nas próximas semanas, quando os produtores deverao repassar para revendedores - e estes, para os consumidores - os custos provenientes da alta do dólar. Para o coordenador do IPC (Indice de Preços ao Consumidor) da Fipe (Fundaçao Instituto de Pesquisas Econômicas), Heron do Carmo, a projeçao de inflaçao para janeiro é de 0,5% e de 7% para o ano. No mês que vem, ele calcula que o IPC (Indice de Preços ao Consumidor) deverá ser ainda menor do que o de janeiro e encerrar o mês em 0,2%. Segundo ele, em fevereiro, as liquidaçoes de artigos de vestuário devem ser mais freqüentes e os efeitos da alta dos combustíveis e das tarifas de ônibus já terao sido praticamente absorvidos. Com isso, qualquer pressao de alta por conta da desvalorizaçao será mais do que compensada pelos preços dos itens que estarao em queda.  

Segundo os analistas, o arroz deverá ter o preço majorado nas próximas semanas. "O aumento do arroz é uma tentativa das indústrias de repassar parte dos custos de importaçao, já que hoje a boa parte do produto é importado dos Estados Unidos, Asia e Mercosul", disse o analista de pesquisa da Craisa, Joao Tadeu Pereira. 

 Entre os hortifrutigranjeiros, o reajuste na regiao chegou a 29,44% para a alface, enquanto que os ovos (-2,93%), batata lavada (-8,21%) e banana nanica (-6,08%) tiveram reduçao de preço. O óleo de soja e a margarina também estao custando mais para o consumidor, com aumento médio de 1,75% e 0,60%, respectivamente. O leite longa vida teve retraçao de 2,9%.  Segundo especialistas, os pecuaristas estariam deixando o gado no pasto para provocar a alta da carne. O coxao mole (carne de 1ª) teve um reajuste médio de 5,46% e o acém (carne de 2ª), de 4,88%.  Um dos ícones do Plano Real, o frango, já deverá apresentar altas de preço em pouco tempo. Segundo a Apinco (Associaçao Brasileira dos Produtores de Pinto de Corte) o preço do frango irá aumentar, nao por conta da queda do real, mas por causa do forte calor, que está causando alta mortalidade na criaçao. De acordo com a Apinco, nao houve aumento de preços até agora, e sim uma recuperaçao parcial de perdas registradas entre 31 de dezembro de 98 e 12 de janeiro de 99. No dia 31 de dezembro, o produtor estava recebendo R$ 0,90 pelo quilo do frango vivo e no dia 12 de janeiro, R$ 0,60, de acordo com a Apinco. Quarta-feira, o frango vivo era cotado a R$ 0,75 no mercado paulista.

  Para Heron do Carmo, o reflexo da desvalorizaçao da moeda nos preços ainda é pequeno e restrito aos itens ligados à cotaçao do dólar. "Os poucos dias de desvalorizaçao da moeda estao se refletindo nos preços, mas nao há nada de escandaloso ou que dê sinais de desestabilizaçao", disse Heron do Carmo, ressaltando que o lado real da economia é mais ponderado do que o financeiro. É que a conjuntura de vendas fracas, renda contida do consumidor e incerteza com relaçao ao emprego estao brecando os reajustes.  

O brasileiro nao poderá nem mesmo se refrescar com sua cerveja neste verao a preços módicos. Isto porque as cervejarias já estao estudando possíveis aumentos de preços. Segundo o superintendente do Sindicerv (Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja), Marcos Mesquita, o malte e o lúpulo - essenciais na produçao - sao quase que totalmente importados. "Cerca de dois terços do malte e 100% do lúpulo vêm de fora. Esses dois produtos representam aproximadamente 15% de nosso custo de produçao." O dirigente disse, entretanto, que a competiçao existente no mercado deverá funcionar como um redutor do nível e da velocidade dos eventuais aumentos de preços. Foco de resistência - Mesmo com a impressao de que a inflaçao voltará com força total, existem setores que estao se organizando para nao deixar que isso aconteça. O comércio varejista, liderado pelas grandes redes, já informou que pode até mostrar aos consumidores o nome dos fornecedores que tentarem reajustar os preços de suas mercadorias. Um hipermercado afirmou que nao irá adquirir os produtos, mesmo que seu estoque seja pequeno, e caso haja falta deles, colocará o nome dos fornecedores nas prateleiras vazias.  Segundo Domingues, a queda de braço entre fornecedores e grandes redes do varejo deve levar a uma série de negociaçoes, que atenuarao o impacto do aumento de preços. "O reflexo da desvalorizaçao deverá ser mais sentida em fevereiro, mas ainda é difícil prever de quanto será a inflaçao."




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