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Dançando nas férias
Juliana Ravelli
Do Diário do Grande ABC
23/01/2011 | 07:11
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Marina Brandão/DGABC


Turma escolhe ralar no balé durante período de descanso

O trabalho começa cedo. Quem demora para se arrumar levanta às 6h30; os práticos enrolam um pouquinho mais no colchão. Às 7h30, a mesa do café da manhã está pronta. É bom todos se apressarem, pois a aula tem início às 9h. Esse é apenas o princípio de um dia longo e cansativo que só acaba à noitão. Normal seria se isso acontecesse durante o ano letivo, mas essa é a rotina de uma galera que abre mão das merecidas férias para fazer o que mais gosta: dançar.

Setenta e cinco bailarinos entre 10 e 19 anos, da Cia. Estável Promodança, estão desde o dia 5 em São Caetano para passar o período de folga fazendo aulas e ensaiando. O resultado de tanto esforço será apresentado gratuitamente nos dias 28, 29 e 30, no Teatro Paulo Machado de Carvalho, na mesma cidade.

Apesar de amador, o grupo trabalha feito gente grande durante quatro semanas. Nem mesmo aos sábados e domingos os estudantes são dispensados. A cada dia seguem uma programação de aulas com diferentes professores e ensaios das coreografias que serão apresentadas ao público.

"Queremos passar a ideia de como é a convivência em uma grande companhia internacional. É também a oportunidade de verem se é isso mesmo o que querem para a vida", diz Mauricio de Oliveira, diretor da Promodança.

 

É LEGAL!

Como convencer quem não faz balé de que é o máximo dançar até mesmo nos meses destinados a ficar com as pernas para cima? "Todas as minhas amigas reclamam. Falam que sou louca e que desperdiço minhas férias. Não ligo. Tenho de aproveitar cada pequena oportunidade", afirma Bruna Lincon, 16 anos, de Santo André. A garota é um dos destaques dos espetáculos.

Quem vê Thereza Kalmar, 16, de São Caetano, ensaiar sorrindo percebe que ela e os amigos estão na sala de aula porque curtem muito fazer aquilo, apesar de todo o sacrifício - incluindo os famosos calos e bolhas nos dedos e broncas dos professores. "Nos primeiros dias a gente fica com dores em todos os músculos, mas vale a pena. É uma experiência de vida, antes de tudo."

Larissa de Almeida, 17, de São Caetano, não pensa em ser bailarina profissional; quer fazer jornalismo. Mesmo assim, não se arrepende em passar o mês inteiro no balé. "É como se fosse uma terapia. A gente se desliga do mundo", afirma.

 

Fuzuê nos alojamentos divididos entre meninos e meninas

Grande parte dos bailarinos que participam dessa maratona não mora no Grande ABC; por isso, passa o mês num alojamento em São Caetano. Os meninos ficam separados das meninas em prédios distintos. Apesar disso, nenhuma das turmas consegue evitar a bagunça. É sapatilha para um lado, roupa para o outro.

A justificativa para o fuzuê não poderia ser outra: falta de tempo. "A gente chega aqui muito cansada e só se joga no colchão", conta Gabriela Amezaga, 16 anos, uma das veteranas - esta é a quinta vez que participa do projeto.

Vira e mexe alguém derrama lágrimas no travesseiro. Ana Carolina Bardaçon, 14, veio de Rolândia, no Paraná, para o curso. Uma catapora quase arruinou os planos uma semana antes da viagem. "Era meu sonho vir para cá. Sempre via o grupo dançar e achava maravilhoso." Mesmo assim, não tem como evitar: "Às vezes, tenho vontade de chorar. Sinto muita saudade".

Thales Gea, 15, é de São Manuel, interior de São Paulo. A primeira vez que participou do projeto, também estranhou ficar longe dos pais. "Não saía muito de lá. Minha vida mudou bastante depois que comecei a fazer balé."

O alojamento tem regras rígidas. Desorganização até que é tolerado, mas cuidados com higiene e limpeza do espaço são obrigações. Além disso, às 23h todos devem estar na cama, e as luzes são apagadas. "As mães vieram voluntariamente (para ajudar), não são nossas empregadas", lembra Gabi.

Indisciplina nas aulas e baixo rendimento nos ensaios resultam em broncas terríveis. Nesses casos, corre-se o risco até de perder o lugar nas coreografias. Exige-se ainda boas notas na escola. "Se o rendimento escolar cair, tem de se afastar da companhia", diz Mauricio de Oliveira. Entretanto, quem realmente deseja se profissionalizar na dança esforça-se para não desperdiçar a oportunidade.

 

Rumo ao exterior

Mesmo quem nunca colocou sapatilhas nos pés sabe como o balé é difícil. Mais complicado do que os passos e o trabalho intenso é profissionalizar-se na dança, missão que exige persistência.

Sem muitas opções no Brasil - apesar de existirem excelentes companhias clássicas, como a do Theatro Municipal do Rio de Janeiro e a São Paulo Cia. de Dança -, a alternativa é conseguir oportunidade no Exterior.

Em busca do sonho, Márcio Teixeira, 16 anos, de São Caetano, trabalha em bufês nos fins de semana vagos para juntar dinheiro para pagar taxas de inscrição de festivais. Alguns concursos concedem bolsas de estudos em companhias internacionais.

Anualmente, a Cia. Estável tem garantido vagas em importantes companhias alemãs para quem se destaca. Muitos bailarinos, que participaram do projeto, também estão dançando nos Estados Unidos, Canadá, México, Itália, França e Argentina.

 

AGENDA DO ESPETÁCULO

O grupo de férias irá encerrar a temporada de estudos com a apresentação de Raymonda e Quebra- Nozes, além de coreografias contemporânea e livre, no Teatro Paulo Machado de Carvalho (Alameda Conde de Porto Alegre, 840, tel.: 4220-3924), nos dias 28 (20h), 29 (16h e 19h30), e 30 (15h). A entrada é gratuita. Os ingressos já podem ser retirados na Escola de Bailado Laura Thomé (Rua João Ramalho, 100).




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