Política Titulo
Marta e Maluf evitam ataques no último debate
Do Diário OnLine
28/10/2000 | 01:23
Compartilhar notícia


O tom do último debate antes do segundo turno das eleiçoes para a Prefeitura de Sao Paulo, realizado na noite desta sexta-feira, nos estúdios da Rede Globo de Televisao (Brooklin, zona Sul da capital), foi mais ameno do que o apresentado nas duas ediçoes anteriores dos encontros na TV entre os candidatos (um no primeiro turno e outro no segundo, ambos na TV Bandeirantes). Marta Suplicy (PT) e Paulo Maluf (PPB) trocaram farpas, mas nao elevaram os timbres de voz ou partiram para ofensas pessoais.

Prova disso foi a pouca atuaçao do mediador do debate, o jornalista da TV Globo, Carlos Nascimento. A intervençao mais relevante dele foi no segundo bloco. Maluf citou uma afirmaçao de 17 de janeiro de 1998, em que o vice na chapa do PT, Hélio Bicudo, descarta a candidatura de Marta Suplicy à Prefeitura. Ela pediu direito de resposta e Nascimento negou, alegando que nao houve ataque pessoal na explanaçao de Paulo Maluf.

O debate teve perguntas com temas obrigatórios, definidos pela Rede Globo - corrupçao, violência, saúde, revitalizaçao do Centro da cidade -, e livres, em que um candidato questionava diretamente o outro sem se prender a determinaçoes da organizaçao.

O primeiro bloco foi justamente iniciado por uma questao específica, feita por Carlos Nascimento. Ele perguntou sobre a "máquina da Prefeitura contaminada pela corrupçao". Maluf, que teve primazia em sorteio realizado pelos assessores, afirmou que em seus quatro anos de gestao na Prefeitura, de 1992 até 1996, nao houve propagaçao de corrupçao nas Administraçoes Regionais. Ele disse que nao houve denúncia de corrupçao sem puniçao imediata e citou as ARs de Ipiranga, Moóca e Vila Maria como as três únicas que nao foram alteradas. Maluf afirmou que nomeará representantes da sociedade civil, nao remunerados, para fiscalizar as Regionais e impedir casos de propina, como a Máfia dos Fiscais.

Marta, por sua vez, disse que as ARs sao o centro da corrupçao na cidade há oito anos - nas gestoes de Maluf e Celso Pitta (PTN). Ela contou que vai aplicar a Lei Orgânica do Município e criar subprefeituras no lugar das Regionais. A petista mencionou o aumento da bancada do PT na Câmara e alegou que esta eleiçao representou uma "decisao histórica para a cidade", com os vereadores corruptos sendo "varridos" da Casa.

Aproveitando o gancho dos vereadores, Marta perguntou como Maluf pretendia governar tendo a maioria da Câmara como oposiçao. O pepebista saiu do assunto e afirmou que os problemas da cidade nao vêm de apenas oito anos, mas sim 12, incluindo a gestao de Luiza Erundina (na época pelo PT). O ex-prefeito citou casos como os "11 mil fantasmas da CMTC" e o "escândalo de Interlagos" e mandou Marta se referir à "administraçao ruinosa" do partido.

Na sua vez, Maluf perguntou sobre a parceria da Bolsa Mercantil de Futuros com a Prefeitura para gerar empregos: "Quantos foram gerados?" Marta respondeu que seria de 120 mil empregos e que investiria nos jovens com baixa escolaridade. Ele contestou os dados e afirmou que apenas mil empregos foram gerados em quatro anos.

No tema segurança, Marta questionou Maluf sobre a Guarda Civil e afirmou que o pepebista nao abriu as 10 mil vagas prometidas em 92. Ele retrucou que "em área de segurança, quem tem que dar explicaçoes é a senhora". Na primeira oportunidade, o candidato citou o projeto de Marta que prevê reduçao de pena para condenados em crimes leves que estudarem na cadeia. Paulo Maluf perguntou sobre uma segurança municipalizada e a rival falou que nao quer atacar só as conseqüências, mas também as causas da violência com projetos sociais. "Nós vamos enfrentar o problema em duas frentes".

O segundo bloco começou com Marta levantando o tema da habitaçao popular, mais especificamente o Cingapura. Maluf falou que ergueu 100 mil apartamentos, enquanto ela contestou o dado. A petista afirmou que o projeto é um "outdoor", bonito para quem o vê nas vias públicas e igual às favelas por dentro. Maluf citou o Cingapura da favela Zaki Narchi e Marta lembrou que o local sofreu um incêndio na semana passada. "Esse é o argumento para nao votar na Marta Suplicy. Ela quer destruir tudo de bom que eu consegui", defendeu-se o ex-prefeito.

Em tom de deboche, Maluf perguntou o que seriam as parcerias constantemente abordadas pela candidata no programa eleitoral. Ela citou o projeto Renda Mínima como exemplo, em que pretende juntar recursos do Estado e da Uniao para ajudar famílias carentes. O pepebista retrucou que parceria é o "nome que dona Marta dá para fugir do fracasso e botar a culpa nos outros". A petista reforçou que manterá o diálogo com o governador e o presidente para levantar mais dinheiro.

A saúde foi o último tema do segundo bloco e um dos momentos mais apimentados da discussao. Marta estava lendo todas as perguntas, enquanto o pepebista nao usava anotaçoes para abordar a rival. Quando ela questionou se Celso Pitta seria o responsável pela quebra do Plano de Atendimento à Saúde (PAS), o candidato atacou: "a senhora veio tao despreparada para o debate que tem que ler todas as perguntas que os assessores escreveram para a senhora".

Depois do golpe, Maluf respondeu que o PAS funcionava perfeitamente em sua época e Marta alegou que o sistema serviu de "loteamento de cargos" para o PPB. Na tréplica, nova investida de Maluf: foi quando ele citou a declaraçao de Hélio Bicudo, repudiando a candidatura de Marta. A petista ainda chamou o PAS de "arapuca de fazer dinheiro", enquanto o rival afirmou que ela seria o "caos" na saúde pública.

A revitalizaçao do Centro da cidade deu início ao terceiro bloco. Maluf respondeu a Marta que assumiu a Prefeitura após o PT, com a regiao "enfestada" de camelôs que vendiam "toda sorte de contravençoes". Marta citou o loteamento do Centro com a Máfia dos Fiscais na gestao do adversário e o pepebista disse querer evitar "um erro maior": a eleiçao da petista.

A invasao de prédios públicos por sem-teto foi abordada por Maluf como a soluçao de Marta para povoar e revitalizar o Centro, mas ela respondeu que pretende adotar um "mix populacional" levantar a regiao - colocando classe pobre e média para conviver na área.

Marta ainda chamou o rival de "Robin Hood às avessas - que rouba dos pobres para dar aos ricos" aos citar as obras públicas erguidas por Maluf, enquanto ele chamou o PT de "inimigo dos trabalhadores" por acabar com obras públicas que geram vagas de emprego. O pepebista insistiu na manifestaçao do PT favorável à libertaçao dos seqüestradores canadenses do empresário Abílio Diniz, ao passo que a candidata preferiu esclarecer o projeto que prevê diminuiçao de pena para os detentos que estudarem.

No quarto e derradeiro bloco, da consideraçoes finais, Marta Suplicy encerrou o debate com um discurso de "esperança", Paulo Maluf (PPB) insistiu em duas perguntas nao respondidas sobre os seqüestradores. O pepebista pediu ainda para ser eleito para "corrigir um erro", a Prefeitura de Celso Pitta (PTN), e evitar outro: a vitória de Marta Suplicy.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;