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Sem-terra montam vigília em frente ao Fórum de Porto Velho
Do Diário do Grande ABC
25/08/2000 | 16:05
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Desde a noite desta quinta-feira, os sem-terra começaram a se mobilizar para mais uma etapa do julgamento do massacre de Corumbiara, no Tribunal de Justiça do Estado, em Porto Velho. O primeiro ônibus trazendo os sem-terra chegou por volta das 18h30 de qunta à capital de Rondônia.

O encontro deles com o pequeno grupo do movimento, que já estava na capital, aconteceu na praça Marechal Rondon, em frente ao Tribunal. As 19h30, começaram a preparar alguns objetos que seriam utilizados a partir das 22h, horário em que deram início a uma vigília, como manifestaçao contra os acontecimentos na Fazenda Santa Elina, em Corumbiara, no dia 9 de agosto de 1995.

De acordo com declaraçoes de alguns sem-terra, a chegada deles à capital de Rondônia estava demorando devido a uma operaçao de revista montada pela Polícia Rodoviária Federal nos municípios de Ji-Paraná e Candeias do Jamari. Segundo eles, a polícia demorou cerca de duas horas para examinar o ônibus e todos os objetos que nele estavam.

'A Polícia Rodoviária implicou com a placa do ônibus que estava meio torta. Um deles falou que podia apreender o ônibus por isso,' afirmou um dos trabalhadores.

Antes de começar a vigília, houve um desentendimento para saber se o carro de som poderia ficar ou nao dentro da praça. Os integrantes da Central Unica dos Trabalhadores (CUT) avisaram à Polícia Militar de que naquele dia, às 17h, a juíza Sandra Maria de Souza havia dado permissao para que o carro ficasse na praça. A resposta dos policiais foi de que nao foram informados da decisao da Justiça, permitindo que o carro ficasse ali, desde que nao atrapalhasse o andamento do julgamento no dia seguinte (nesta sexta-feira). 'Nós estamos aqui para garantir, nao apenas a segurança das pessoas que estarao dentro do Fórum na hora do julgamento, mas também os próprios manifestantes e todos os sindicatos presentes. Por isso, é melhor que nao haja nenhum baderneiro de fora que queira prejudicar o trabalho de vocês', afirmou o tenente da Polícia em serviço.

Segundo os representantes da CUT, os sem-terra queriam uma manifestaçao pacífica, que começou com a leitura de frases, poemas e pensamentos escritos pelos próprios manifestantes, relacionados à indignaçao provocada pelo massacre de Corumbiara. Segundo eles, ``os maus políticos é que fazem a guerra e, com estes no poder, o Brasil nao terá um futuro melhor, pois só pensam em seu benefício próprio'. Um dos sem-terra criticou o governo de Fernando Henrique Cardoso, classificando-o de neoliberal, ``que tira o direito do povo de se manifestar'.

Todos os manifestantes e curiosos presentes na praça Marechal Rondon assistiram a uma comovente simulaçao dos sem-terra. Com os nomes das vítimas do conflito escritos nas camisas, à altura do peito, e nas cruzes que carregavam, nove sem-terra deitaram-se no gramado da praça simulando o momento da morte dos companheiros e o enterro das vítimas, entre elas uma menina de 7 anos de idade, que também foi representada por uma outra criança durante a simulaçao. Logo em seguida, todos acenderam velas, fizeram um minuto de silêncio e foram colocando-as uma a uma na palavra Justiça escrita com giz no chao da praça.

Durante a manifestaçao dos sem-terra, estiveram presentes a presidente do Partido dos Trabalhadores (PT-RO), Fátima Cleide; e representantes do Sindicato dos Servidores Federais (SINDSEF); a presidente da CUT(RO), Maria Santiago; e a deputada federal (PT-SC), Luci Chuinaski. Segundo a deputada, todas as entidades e políticos brasileiros que sao dignos e preocupados com o bem-estar da populaçao estao 'de olho' no estado de Rondônia devido ao massacre de Corumbiara, episódio que teve uma grande repercussao no exterior.

De acordo com a deputada, os crimes praticados durante o conflito foram comandados pelo Estado e pela Polícia Militar. ``Eles deveriam estar sentados no banco dos réus e dar alguma explicaçao'. Alguns deputados federais, afirma Luci, estao redigindo um documento pedindo a anulaçao do julgamento, por acharem que, desde o começo, inclusive durante a perícia, foi marcado por articulaçoes políticas. Além disso, a deputada classificou a atitude do promotor Tarcísio Leite de Mattos de antidemocrática e racista. 'Este promotor nao tem mais credibilidade lá fora e nem aqui neste Estado', completou.




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