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'Anaconda': mais 5 delegados e 8 agentes da PF são suspeitos
10/11/2003 | 23:33
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A análise das escutas telefônicas feitas pela Polícia Federal (PF) aponta para o suposto envolvimento de mais cinco delegados e oito agentes da PF no esquema de intermediação de sentenças judiciais descoberto durante a Operação Anaconda. Um relatório confidencial da área de inteligência da PF também mostra diálogos citando os juízes federais Ali e Casem Mazloum, além de policiais civis de São Paulo e membros do Poder Judiciário do Estado.

O relatório transcreve trechos de conversas entre policiais com o agente César Herman e o delegado aposentado Jorge Luiz Bezerra da Silva. Os diálogos mostram o tráfico de influência exercido por Jorge Luiz em inquéritos em tramitação em Estados como Tocantins, Piauí e Pará. Numa das conversas, por exemplo, mantida entre o delegado aposentado e sua secretária, ela dita uma minuta de um requerimento que seria enviado a um delegado federal da ativa para ser usado em um processo de lavagem de dinheiro.

O grupo tinha ramificações e controlava casos envolvendo empresas de grande porte em vários Estados brasileiros. Para isso, mantinha um grupo de informantes, identificado no relatório da PF como subgrupo do primeiro nível hierárquico. "Os informantes possuem a função de se infiltrarem em companhias telefônicas, órgãos da Justiça, Ministério Público, polícias e outras instituições, para que os intermediadores tenham acesso a dados cadastrais de pessoas físicas ou jurídicas, alvarás de autorização de monitoramento, dados de procedimentos criminais diversos, inquéritos e outros procedimentos administrativos", revela o documento da inteligência da PF.

Nesse rol são listados seis agentes da própria PF e dois do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic). As escutas feitas pela PF com autorização judicial revelam diálogos que confirmam o envolvimento de policiais no esquema de corrupção. No dia 2 de agosto do ano passado, por exemplo, dois integrantes do grupo conversam sobre umas quantia (R$ 10 mil) que teriam que levar a algum lugar para "resolver" casos com policiais. Um dos interlocutores afirma que "teria em mãos um trunfo, para o caso de os investigadores apontarem algum outro fato."

Dois outros delegados federais que estão sendo investigados fazem parte do primeiro escalão do grupo, conforme o relatório da inteligência. O terceiro seria um facilitador dentro do esquema, mas fontes da PF admitem que o número de agentes envolvidos pode ser bem maior do que o apurado até agora.

Num diálogo mantido entre Herman e um interlocutor, no dia 19 de março deste ano, o policial parece falar sobre uma negociação que supostamente teria passado por uma das divisões da PF. "Isso é para liberar o pedido, viu? Se sujar por cinco conto (sic), três conto (sic)! Fala para ele esperar até a semana que vem, tá? Ou o Nivaldo vai resolver ou vai pra Fazendária (Divisão de Polícia Fazendária da PF). Com quem tá agora, se tentar mexer não vai resolver e vai desgastar mais", afirma Herman a seu interlocutor. A conversa era em torno da prisão de bolivianos e coreanos envolvidos com trabalho escravo em São Paulo. Na negociação, o agente afirma para seu interlocutor que não havia dinheiro envolvido na questão, um recado que ele manda repassar a um deputado, sem citar nomes.




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