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Imprensa israelense noticia a morte de Arafat; hospital nega
Do Diário OnLine
Com Agências
04/11/2004 | 21:48
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A segunda maior emissora privada de televisão de Israel e a rádio militar noticiaram nesta quinta-feira que o presidente da ANP (Autoridade Nacional Palestina), Yasser Arafat, 75 anos, está clinicamente morto. A informação foi negada por um porta-voz do hospital militar de Percy (Paris) - onde o líder árabe está internado há seis dias - que, no entanto, reconheceu que o estado de saúde de Arafat é crítico e piorou muito nas últimas 24h. Ele está na UTI (Unidade de Tratamento Intensivo), entubado, desde quarta-feira.

Segundo uma das fontes médicas francesas, o líder palestino está em estado de "morte cerebral" e em um "coma profundo de nível 4", ou seja, irreversível. No entanto, um paciente em coma pode ser mantido vivo com a ajuda de aparelhos.

A informação da morte de Arafat foi atribuída inicialmente ao primeiro-ministro de Luxemburgo, Jean-Claude Juncker. Pouco mais tarde, por meio de um assessor, ele se retratou pela notícia equivocada. "Desmentimos a informação. Juncker acaba de falar com presidente da República Francesa, Jacques Chirac, que lhe confirmou que Arafat não está morto", explicou o porta-voz.

Antes mesmo da retratação por parte de Juncker, a morte de Arafat foi imediatamente negada pelo premiê palestino, Ahmed Qorei (Abu Alaa), que está em Ramallah (Cisjordânia); pelo ministro da Comunicação da Palestina, Azam al-Ahmad; e por um porta-voz do hospital de Percy.

"A situação de Arafat tornou-se mais complexa", declarou à imprensa o general Christian Estripeau, médico-chefe do serviço de saúde do Exército francês. "Ele permanecerá hospitalizado no estabelecimento de Percy, onde foi transferido na tarde de quarta-feira a um serviço adaptado para sua patologia. Yasser Arafat não morreu", insistiu o general.

Crítico - A condição real de Yasser Arafat é motivo de mistério. Fontes médicas francesas confirmaram nesta quinta-feira que o estado de saúde é "extremamente grave" e que ele tem chances remotas de sair do coma. Já em Ramallah, um membro do Comitê Executivo da OLP (Organização pela Libertação da Palestina) afirmou que o presidente está sendo submetido a transfusões de sangue contínuas por causa da destruição de suas plaquetas.

Apesar das inúmeras informações sobre o agravamento do estado de saúde de Arafat, alguns membros da delegação palestina que o acompanha em Paris até tentaram desmentir o fato. Nabil Abu Rudeina, o principal conselheiro do presidente, apressou-se a negar que o líder esteja "inconsciente ou em coma". Já o ex-ministro palestino de segurança Mohamed Dahlan disse que o estado de saúde dele "ainda é delicado", mas tentou minimizar a transferência para a UTI.

Apesar das seguidas negativas, a preocupação da delegação palestina na França, que foi camuflada na quarta-feira, tornou-se mais evidente nesta quinta. A transferência de Yasser Arafat para a UTI, na véspera, foi precedida de perdas de consciência e crises de vômito.

No hotel do centro de Paris onde estão hospedados os conselheiros palestinos que acompanham o dirigente, ninguém esconde a preocupação pela súbita piora do estado dele. Os assessores evitam a imprensa, falam baixo, não se separam de seus telefones celulares e mostram uma enorme inquietação em seus semblantes.

Alerta - Outra prova do agravamento da saúde de Arafat é a reunião de emergência convocada para esta quinta-feira pelo Comitê Executivo da OLP, em Ramallah. A audiência foi presidida pelo secretário-geral da OLP, Mahmud Abbas (Abu Mazen), ex-primeiro-ministro palestino. Em pauta esteve a sucessão no comando da ANP, que deverá ser assumida em definitivo pelo atual premiê, Ahmed Qorei (Abu Alaa), após a morte de Arafat.

Os serviços de segurança palestinos já foram postos em alerta para enfrentar possíveis distúrbios, em caso de falecimento de Arafat. "As forças de segurança foram postas em estado de alerta e todos seus membros devem estar preparados para qualquer eventualidade", afirmou um funcionário de segurança do primeiro escalão, que pediu para não ser identificado. "Nos ordenaram que estejamos preparados para intervir em caso de violação da ordem pública e para proteger as instituições palestinas legítimas", acrescentou.

A Autoridade Palestina teme que o caos se apodere dos territórios palestinos, com o risco de confrontos entre diversos grupos armados.

Enquanto isso, Qorei já deve assumir algumas atribuições de segurança e economia que eram exercidas por Arafat. Assim, a transição de poder dentro da ANP vai se confirmando paulatinamente.

A doença do presidente e sua saída brusca da Cisjordânia multiplicaram as especulações sobre a nomeação de uma nova direção palestina, uma hipótese que os colaboradores da ANP se esforçam em desmentir. Mas vários membros da administração palestina já estariam articulando o retorno do presidente à Cisjordânia, para que ele morra 'em casa' – atendendo um último desejo de Arafat.

O governo israelense também se mobilizou diante do agravamento da saúde Arafat, principal adversário do premiê Ariel Sharon e considerado um 'obstáculo' para a negociação da paz entre israelenses e palestinos. O ministro da Defesa, Shaul Mofaz, vai analisar o quadro com os chefes do serviço de inteligência do Exército, do Mossad (serviço secreto) e do serviço de segurança interna (Shin Beth).

As Forças Armadas israelenses na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, assim como na fronteira libanesa, também já foram postas em estado de alerta, disse uma fonte de segurança.

Já o chefe do Estado-Maior israelense, Moshe Yaalon, deve reunir os comandantes responsáveis pela segurança nas áreas palestinas. O objetivo é examinar diferentes medidas destinadas a prevenir possíveis confrontos com a população palestina, se Arafat vier a falecer.

Em Jerusalém, os dirigentes israelenses falam sem pudor da morte de Arafat. "Temos de nos organizar da melhor forma possível caso ele morra. Não há dúvida de que seu estado é grave", assegurou o ministro das Relações Exteriores israelense, Sylvam Shalom.

Já o líder da oposição israelense, Shimon Peres, disse que "é hora de respeitar Arafat, e não de especular sobre a saúde dele."

Sharon disse que só se pronunciará caso Arafat morra. A única coisa que deixou claro foi que o líder palestino não será enterrado em território israelense e nem em Jerusalém Oriental.

Indefinição - De acordo com um boletim médico divulgado pelo ministério francês da Defesa, os primeiros exames feitos no líder palestino confirmaram "anomalias sangüíneas" e problemas digestivos. A hipótese de leucemia foi descartada no primeiro momento.

Até esta quinta-feira, os conselheiros de Arafat estavam otimistas, pois o dirigente se encontrava consciente e animado, andava e comia com moderação e retomava pouco a pouco seu ritmo de vida. Mas a condição de saúde do líder da ANP agravou-se em questão de horas.

O chefe do Departamento político da OLP, Faruk Kaddumi, baseado geralmente em Túnis (Tunísia), chegou nesta quinta-feira a Paris para acompanhar de perto a evolução do quadro de saúde de Arafat.

Já Mahmud Abbas, o nº 2 da OLP, desistiu da viagem a Paris, que foi anunciada na véspera, depois de saber que o líder palestino não poderia receber ninguém. Então ele decidiu voltar do funeral do presidente dos Emirados Árabes Unidos, Zayed Ben Sultan Al-Nahyan, em Abu Dhabi, direto para a Cisjordânia, onde está localizado o comando da ANP.




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