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Supermercados mostram imagem de defensores dos consumidores
Do Diário do Grande ABC
31/01/1999 | 18:05
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Os supermercados estao aproveitando a primeira ameaça de volta da inflaçao, desde o início do Plano Real, em 1994, para mostrar a nova imagem que querem passar aos consumidores: a de defensores deles.

Nos outros planos econômicos, os empresários do setor sempre estiveram no papel de viloes. Embora insistissem em afirmar que apenas repassavam os reajustes efetuados pela indústria, era nas prateleiras dos supermercados que o consumidor sentia que o dinheiro ficava mais curto no bolso.

"Nao tem espaço no mercado para aumento de preço", diz o presidente da Associaçao Brasileira dos Supermercados (Abras), José Humberto Pires de Araújo. Ele diz que as empresas do setor vao resistir aos aumentos e trocar de fornecedor, se for necessário. Mesmo assim, garante que nao haverá desabastecimento.

"Tem muitas marcas de cada produto; pode faltar uma ou outra, mas nao haverá falta generalizada", afirma. Os líderes do setor, Carrefour e Pao de Açúcar, avisaram esta semana que vao recusar "aumentos abusivos".

O Carrefour publicou anúncios nos jornais e colocou cartazes nas lojas avisando que vai manter as promoçoes programadas e divulgar, no espaço reservado às mercadorias na prateleiras, o nome do fornecedor que se recuse a entregar produtos pelo preço combinado.

A medida repercutiu tanto no mercado que outras empresas também se esforçaram para garantir aos consumidores que nao aceitarao elevaçao de preço.

O Pao de Açúcar foi além e está exigindo, antes de aceitar o aumento, que o fornecedor envie a planilha de custo de produçao. "O varejo tem de servir como um dique, só deixando passar o mínimo possível", diz o diretor- executivo-comercial do grupo, Valdemar Machado. Ele admite que o papel que a empresa quer assumir é semelhante ao da antiga Superintendência Nacional de Abastecimento (Sunab).

É uma guinada na posiçao da empresa, que, em planos econômicos anteriores, foi acusada de aumentar preços, esconder mercadoria e incitar outros empresários a elevar preços.

Em 1986, no Plano Cruzado, o presidente do Pao de Açúcar, Abilio Diniz, foi acusado de remarcaçao, quando os preços estavam congelados.

Em 1989, no Plano Verao, Diniz teve de depor na Polícia Federal (PF), acusado de esconder 3,8 milhoes de latas de óleo de soja no depósito, enquanto o produto estava em falta nas prateleiras das lojas.

Em junho de 1994, o empresário defendeu o "realinhamento" de preços na última semana do mês, antes da vigência da Unidade Real de Valor (URV), preparatória para a mudança da moeda.

Há duas semanas, com a desvalorizaçao do real, Diniz disse ser "totalmente refratário a aumento por parte dos fornecedores". "Pode ter alguma correçao em alguns setores, mas nao há razao alguma para a volta da inflaçao", afirmou.

A queda-de-braço parece estar dando resultado: na última sexta-feira, os fornecedores de carne, que queriam aumento de 4%, estavam propensos a aceitar a manutençao dos preços para que a rede voltasse a comprar.

O presidente da Abras resume bem a posiçao dos empresários do setor. "Nao estamos fazendo isso porque somos bonzinhos", admite. "Queremos preservar o consumidor para podermos continuar vendendo", explica.

Ele acha que, com o mercado recessivo como está, qualquer elevaçao de preço implica reduçao de venda, uma vez que o dinheiro nao se multiplica no bolso do consumidor.

A Abras está trabalhando com a perspectiva de faturamento 2% menor no primeiro semestre deste ano. Com aumento de preços, a reduçao poderia ser bem maior.

A existência de um grande número de fornecedores deixa os varejistas tranqüilos em relaçao ao desabastecimento. "A cada cinco fornecedores na linha, temos outros cinco querendo entrar" diz Machado.

Essa tendência de concentraçao no varejo deve continuar este ano, na opiniao do presidente da Abras. Ele acha que o processo vivido em Sao Paulo, com a incorporaçao das redes médias pelas grandes empresas que estavam no mercado ou empresas estrangeiras vai agora se repetir no Rio e, depois, se disseminar pelo restante do País. "O mercado brasileiro tem muito potencial e todas as grandes redes de fora estao interessadas", afirma. Ele acha que a crise, ao contrário de afastar, até estimula a vinda desses empresários. "Querem aproveitar e comprar agora que os preços estao melhores", diz.




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