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'Não deixamos o Neomater por amor', dizem funcionários
Michele Loureiro
Do Diário do Grande ABC
18/07/2009 | 07:00
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Um cenário raro se instalou no hospital Neomater, em São Bernardo. Mesmo sem receber os salários há 72 dias, os cerca de 540 trabalhadores se recusam a iniciar greve, mesmo sendo estimulados pelo sindicato da categoria.

"Não vamos abandonar o hospital neste momento de crise e jamais vamos deixar os pacientes sem atendimento", destacou um dos enfermeiros. "Nossa relação é de amor com os pacientes e com esta casa. Não se abandona a família em meio a dificuldades, temos certeza que esta maré negativa vai passar", afirmou outro trabalhador.

O hospital, que completa 31 anos em agosto, enfrenta graves dificuldades financeiras e tenta sair da crise há 40 dias, com a chegada de nova administração.

Para pressionar o Neomater, alguns sindicalistas acampam em frente o hospital e prometem não sair de lá até que os salários sejam pagos.

"Nós precisamos lutar pelo direito dos funcionários. Porém, não conseguimos entender porque eles não se mobilizam e pressionam a diretoria", destacou o diretor do SindSaúde ABC (Sindicato dos Trabalhadores em Saúde do Grande ABC), Anderson da Silva.

Segundo o diretor, uma das explicações pode ser o Conselho de Ética. "Na área da saúde isso é muito complicado. Abandonar o posto de trabalho quando se lida com vidas é considerado inadequado e alguns funcionários temem retaliações e, pior, têm medo de perder o direito de exercer a profissão", explicou o sindicalista.

Na opinião do dirigente, o hospital se aproveita da falta de mobilização dos trabalhadores. "Há cerca de cinco anos a empresa não deposita o FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço) dos trabalhadores. Isso é inadmissível", enfatizou.

Segundo o sindicato, há outras dívidas, como sete meses sem fornecimento de cesta básica e atraso no pagamento de vale-transporte. "A condução só está atrasada para quem não utiliza o ônibus fretado fornecido pela empresa. Ou seja, o hospital está pagando para os funcionários ‘trabalharem de graça'", afirmou Silva.

Entre as reivindicações do sindicato também está a ausência do pagamento da contribuição sindical há sete meses. "Eles descontam o valor dos trabalhadores, mas não nos repassam. Isso é apropriação indébita", acusou o sindicalista.

CONFUSÃO - Na manhã de ontem houve confusão na porta do hospital. Os sindicalistas impediram que uma máquina de ressonância magnética fosse retirada do local. "Nós vendemos o equipamento e pagaríamos parte das dívidas com os funcionários com este dinheiro", afirmou o recém-empossado diretor executivo do Neomater, Natan Vidal.

De acordo com a administração do Neomater, os sindicalistas colocaram um cadeado no portão e barraram a saída do equipamento. A polícia foi chamada ao local, algumas pessoas foram encaminhadas para a delegacia, mas ninguém foi detido. Não vamos deixar nada sair daqui enquanto não houver pagamento", prometeu Santos.

Enquanto o impasse com o sindicato parece não estar perto do fim, o Neomater pede socorro. Somente em salários, a empresa deve R$ 1.085 milhão. Mensalmente, o hospital que já foi referência em maternidade, realiza cerca de 250 partos. "O número já chegou a 600 no início de 2008", recordou o presidente do conselho e herdeiro do hospital, Ricardo Rocito Arenella. "O hospital pode fechar as portas se não tiver aporte jurídico, já que são necessários R$ 200 mil por dia para manter as operações", explicou.

Ontem, a administração entrou com um pedido na justiça, para que as dívidas com instituições bancárias sejam adiadas por um período de três a seis meses. "Não queremos dar calote, queremos uma chance para nos recuperar", enfatizou Arenella. O parecer judicial sai na segunda-feira.




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