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CCBB lança megaevento sobre Arthur Bispo do Rosário
Everaldo Fioravante
Do Diário do Grande ABC
21/07/2003 | 18:40
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Sergipano, negro e pobre. Arthur Bispo do Rosário (1911-1989) não se considerava artista plástico e, por isso, jamais aceitou convite para expor sua frenética produção: 1,1 mil trabalhos riquíssimos do ponto de vista estético e muito comoventes. Diagnosticado esquizofrênico-paranóico, Bispo passou 51 anos num entra-e-sai em manicômios. Segundo ele, sua missão na Terra não era artística, mas sim a de reconstruir o mundo, como lhe disseram as vozes divinas no delírio que teve em 1933. Assim, dedicado à tarefa, utilizou sucata e sobras para criar objetos, miniaturas, assemblages, bordados, mantos e estandartes. Louco ou gênio (ou os dois), hoje sua obra é respeitada internacionalmente.

A primeira mostra individual de Bispo foi em 1989, na Escola de Artes Visuais do Parque Laje, no Rio. Nos anos 90, ganhou retrospectiva no Museu de Arte Moderna da mesma cidade e foi consagrado na Bienal de Veneza. Na Mostra do Redescobrimento Brasil + 500, no ano 2000, em São Paulo, ganhou destaque. E um ano depois teve trabalhos em exibição no Museu Guggenheim de Nova York, nos Estados Unidos. Este ano, Bispo é o tema do disputado Calendário Burti.

E 2003 reserva ainda um megaevento sobre o artista, com início em 2 de agosto e em cartaz até 12 de outubro no CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil) de São Paulo (Tel.: 3113-3651). Ordenação e Vertigem, de caráter interdisciplinar e sob coordenação geral de Jane de Almeida e Jorge Anthonio e Silva, reúne atrações nas áreas de artes plásticas, fotografia, música, cinema e dança, cada uma com um especialista como responsável. A entrada franca vale para boa parte da programação. Essa é a primeira vez que o CCBB-SP, inaugurado em abril de 2001, realiza atividades multidisciplinares voltadas a uma única temática.

O evento, apresentado na segunda-feira à imprensa, conta com uma seleção de obras de Bispo que dialogará com composições de artistas contemporâneos como Nelson Leirner, Leonilson, Marepe e a andreense Sandra Cinto. A curadoria é de Agnaldo Farias. A parte de cinema, coordenada por Carlos Augusto Calil, tem longas, médias e curtas-metragens, como a série Imagens do Inconsciente, de Leon Hirszman.

O segmento de dança é responsabilidade da bailarina e coreógrafa Vera Sala, que preparou o que ela chama de Corpo-Instalação. São apresentações em uma estrutura (andaimes de ferro e plataformas de vidro) montada no saguão do centro cultural. Já a área de fotografia, coordenada por Rubens Fernandes Junior, reúne imagens de profissionais como Gal Oppido e Márcia Xavier.

O curador de música é Arrigo Barnabé, que criou a peça Missa: In Memoriam Arthur Bispo do Rosário. O segmento tem ainda outras atrações, como o show de Hermeto Pascoal e Tetê Espíndola.

Outro segmento do evento, batizado como Ciclo de Idéias, reúne intelectuais como Olgária Mattos e Nicolau Sevcenko em palestras e debates. “Toda vez que o Bispo é assunto de algum evento, só se debruçam sobre o veio da obra do artista esquizofrênico. A nossa intenção é dar logicidade ao caos”, afirma Jorge Anthonio e Silva.

“A obra do Bispo ultrapassa o pensamento que muitos têm, a idéia do louco que produz arte”, diz Jane de Almeida.




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