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Renault quer ter 8% do mercado em 2016
Wagner Oliveira
Enviado a Florianópolis
11/05/2011 | 07:09
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Claudinei Plaza/DGABC


A Renault vai muito bem, mesmo que o atual momento pelo qual passa o Brasil preocupe o presidente da montadora francesa, Jean-Michel Jalinier.

Inflação, alto custo do aço, câmbio desfavorável, mão de obra cara, falta de infraestrutura, entre outros fatores, são problemas que, segundo o executivo, embaralham o jogo e trazem enormes desafios para que o País mantenha sua taxa de crescimento.

Mas nada disso impediu a montadora de lançar o Sandero repaginado, que sofreu mudanças estéticas internas e externas, com preço até R$ 3.000 - na versão Stepway - abaixo do que vinha sendo praticado antes da reformulação.

A ação agressiva é mais uma aposta clara da Renault no Brasil, País onde passou a colher muitos frutos. Até abril, a montadora cresceu cerca de 14,2%, enquanto o mercado subiu 3,98%. Para manter o ritmo, Jalinier começa até o fim de junho o terceiro turno na fábrica de São José dos Pinhais (PR) com a contratação de mais 1.000 pessoas - fora sistemistas, que também deverão dar novos empregos.

Com o novo turno de trabalho, o presidente da Renault espera atingir produção de 200 mil veículos neste ano - cerca de 20% a mais que os 178 mil produzidos em 2010. A fábrica trabalhará ao ritmo de 300 carros por dia ou 45 por hora. Com isso, a Renault do Brasil espera passar de terceiro para o segundo lugar em vendas dentro da atuação global do grupo francês.

Para continuar agradando aos consumidores, Jalinier confirmou a chegada do Duster para antes do fim do ano. Ele disse que a revitalização do Sandero também é outro passo decisivo para a marca seguir ampliando sua fatia de vendas no mercado nacional, onde já tem 5% de participação.

O lançamento do sedã Fluence, no ano passado, também foi um dos grandes acontecimentos para a marca.

Ontem à noite, em Florianópolis, o executivo estava andando no crossover Koleos. Existe a possibilidade da vinda do carro, mas Jalinier não tocou no assunto. Para quem tanto quer e precisa aparecer no mercado nacional, não seria surpresa a chegada do modelo no próximo ano. O executivo também falou que a Renault precisa de mais produtos ao longo dos próximos anos. Ele quer desenvolver uma picape média no País.

Abaixo, os principais trechos da entrevista que o executivo concedeu ao Diário, enquanto preparava a apresentação do novo Sandero à imprensa nacional reunida na capital de Santa Catarina.

DIÁRIO - Como marca que buscou o caminho da generalização - produtos diversificados para vários públicos -, a Renault encontrou sua vocação no Brasil?
JEAN-MICHEL JALINIER - Sim. Estamos num bom caminho agora. Nosso desafio é ter uma rede que atenda a diversos perfis de consumidor. Numa cidade, temos que estar num bairro de classe média para atender o cliente do Fluence. Na outra ponta, não podemos deixar de atender bem o consumidor do Clio, automóvel bastante satisfatório vendido a partir de R$ 23 mil. Atualmente, temos uma rede de 178 pontos de venda - cobrindo entre 70% e 80% do território nacional. Até o fim do ano, chegaremos a 200 concessionárias, mantendo sempre a rentabilidade do negócio. Mas o ideal seria termos 300. Esta é nossa meta.

DIÁRIO - Com uma rede maior, o senhor precisará de maior produção?
JALINIER - Iniciamos em junho o terceiro turno de produção, com a contratação direta de 1.000 colaboradores. Fornecedores que estão instalados próximos à fábrica em São José dos Pinhais também deverão contratar. Vamos atingir produção de 200 mil carros ao ano, 300 por dia ou 45 por hora. É um bom salto. A Renault do Brasil hoje é a terceira maior operação do mundo - perdemos para a França e Alemanha. Acho que podemos terminar 2011 na segunda colocação, ao emplacar vendas de 200 mil veículos neste ano.

DIÁRIO - O custo Brasil é um desafio para a Renault?
JALINIER - Olha, existem muitos problemas. O aço vendido no Brasil é o mais caro do mundo - tanto que decidimos importar 15% dessa commodity da Coréia, que, acreditem, apesar da distância, chega aqui 15% mais barato que o aço brasileiro. A mão de obra no Brasil está muito cara também. Com todos os encargos, um engenheiro aqui está ganhando a mesma coisa que um profissional nos Estados Unidos e Europa. Para um país em desenvolvimento, não faz sentido. Além disso, problemas de infraestrutura, dólar desvalorizado e a inflação em alta são outras preocupações. Como não podemos repassar tudo para o preço final do veículo em razão de o mercado estar muito competitivo, buscamos compensar com eficiência na produção. É assim que conseguimos lançar o novo Sandero com preços de R$ 1.000 a R$ 3.000, dependendo da versão, menores que a geração anterior. Este carro representa mais de 40% das vendas da Renault no Brasil.

DIÁRIO - Qual o impacto da entrada dos concorrentes asiáticos, principalmente coreanos e chineses, para a Renault, uma marca que ainda busca afirmação no Brasil?
JALINIER - É mais um desafio para nós. Com uma campanha agressiva de marketing e bons produtos, a Hyundai é um concorrente difícil. Assistimos à chegada da chinesa JAC também com muita agressividade. Na qualidade, a Renault está um passo à frente de muitas dessas marcas novatas. Acho que nosso desafio é manter sempre este passo à frente com produtos que o consumidor brasileiro deseje. Vamos continuar oferecendo carros que o consumidor quer e com preços muito atrantes.

DIÁRIO - Por que muitos consumidores ainda têm em mente que a Renault é uma marca de carros importados?
JALINIER - Pesquisas internas mostram que 80% dos brasileiros já sabem que somos uma marca que produz localmente. Mas esse índice não nos agrada, pois já estamos no Brasil há 13 anos. O caminho é seguir trabalhando, aprendendo o jeito de fazer negócios e vender carros para os brasileiros. É nisso que estamos melhorando a cada dia. Assim, vamos superar também esse desafio.

DIÁRIO - Em que região do Brasil a Renault se destaca mais?
JALINIER - Por estarmos instalados no Paraná, nossa maior participação está no Sul do Brasil, região em que detemos 10% do mercado. No restante, de modo geral, temos 5% de participação. Nossa meta é crescer mais no Estado de São Paulo. Digo que o Estado de São Paulo é o segundo maior mercado da América Latina, depois do Brasil, pois sozinho, detém 30% das vendas nacionais. Já a cidade de São Paulo, com 10% das vendas, seria o terceiro mercado em importância. Precisamos crescer mais nesses ‘dois mercados'.

DIÁRIO - A Nissan e a Renault têm atividades e estratégias semelhantes?
JALINIER - Não. O grupo trabalha com atividades industriais complementares, mas cada marca tem sua estratégia de comercialização diferente. Cada uma cuida do seu negócio. Além da fábrica em que produziremos 200 mil carros neste ano, dividimos outra com a Nissan no mesmo complexo de São José dos Pinhais, onde produziremos neste ano 60 mil veículos. Lá produzimos picape e comerciais leves.

DIÁRIO - Caso o senhor precise aumentar ainda mais a produção no Brasil quais seriam as opções?
JALINIER - Podemos aumentar a fábrica do Paraná, mas ainda temos as fábricas da Argentina e do México. Com o atual custo de produção no Brasil, temos que analisar muito as duas outras opções. Infelizmente!
DIÁRIO - Qual será o tamanho do mercado neste ano?
JALINIER - Olha, ainda não sei precisar. O tsunami no Japão vai causar impactos, pois já se reflete na dificuldade de alguns componentes importados que têm participação japonesa. O mundo todo vai ter uma redução neste ano em razão desse problema, inclusive aqui. Nossa meta é seguir com o crescimento alcançado no primeiro trimestre.

DIÁRIO - Para o senhor que é um executivo experiente, viajado, qual a diferença de vender carro no Brasil de outros países?
JALINIER - A diferença está na expectativa que o consumidor brasileiro tem do produto. Como aqui ele paga quase o dobro em relação a um consumidor da Romênia, por exemplo, o brasileiro quer um veículo muito mais bem acabado. Na França, um trabalhador com rendimento médio precisa de 4,5 salários para comprar um Sandero. No Brasil, com a renda média, são necessários 50 meses. O investimento é muito maior, então a expectativa do consumidor em relação ao produto é muito mais exigente.

DIÁRIO - O que o senhor acha quando dizem que a Renault é uma fabricante de carro Dacia no Brasil ?
JALINIER - Não é verdade. O que fazemos é aproveitar todas as sinergias dentro do Grupo Renault. Mas lembremos que fazemos um desenvolvimento local de todos os modelos. Um Sandero vendido na Europa não é o mesmo daqui. Há vários componentes, como design externo, painel e assentos, por exemplo, que são todos desenvolvidos para atender ao gosto local.

DIÁRIO - Qual participação de mercado o senhor gostaria que a Renault atingisse?
JALINIER - Nossa meta é chegar a 8% em 2016, quando o País deverá estar vendendo anualmente cerca de 4,5 milhões de unidades.

DIÁRIO - Dá para chegar, mesmo com a entrada de novos competidores?
JALINIER - Certamente não será fácil. Mas vamos persistir. Temos que manter o ritmo forte e apresentar produtos. Temos que ter uma linha cada vez mais completa. Precisamos, por exemplo, de uma picape média. Não sei quando chegará, mas está nos planos.

 

 

 

 




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