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Luiz Marinho ensaia primeiros passos na política
Maurício Klai
Do Diário do Grande ABC
14/04/2002 | 19:17
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Eleito pela terceira vez presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Luiz Marinho – a exemplo do que fizeram Lula, Vicentinho e Meneguelli – prepara-se para ensaiar os primeiros passos na política. Já aceitou o convite de disputar a suplência do deputado federal Aloízio Mercadante (PT). “Consultei o Sindicato e a militância e eles me apoiaram”, afirmou. Nesta entrevista à reportagem do Diário, Marinho faz pesadas críticas à gestão do presidente Fernando Henrique Cardoso, recusa o título de novo líder regional – conforme apontou o presidente nacional do partido, o deputado federal José Dirceu – e comemora a receptividade do empresariado à possibilidade de Lula eleger-se presidente do Brasil após três tentativas sem sucesso.

O presidente do Sindicato também detalha o Plano de 7 Metas recém-elaborado para o setor automotivo no Brasil. Nele, defende a retomada com vigor do projeto do carro a álcool – capaz, segundo ele, de gerar empregos e dar impulsão ao setor no país ante à instabilidade dos preços do petróleo – apresenta o contrato coletivo nacional de relações de trabalho no setor e retoma a proposta de renovação da frota nacional. “Proposta esta que o Fernando Henrique achou excelente em 1998, mas sua equipe não colocou em prática.”

DIÁRIO – Com o assassinato do prefeito de Santo André Celso Daniel, o presidente nacional do PT, José Dirceu, citou seu nome como o de uma nova liderança para a região. Qual a sua interpretação? O sr. se considera apto para substituir Celso no papel de interlocutor regional?
LUIZ MARINHO – No patamar que se encontrava, Celso é uma figura quase que insubstituível, não só para a região mas para o país, uma autoridade internacional. Mas vamos ter de dar continuidade ao trabalho mesmo com a ausência dele. E isso será feito por meio dos outros prefeitos do partido em meio ao processo de crescimento da presença regional. Minha tarefa não é disputar espaço para substituir Celso. Aliás, acho que não é tarefa de ninguém na região mas sim compartilhar com essas e outras lideranças a tarefa de dar continuidade ao legado deixado por ele.

DIÁRIO – Pela terceira vez à frente do comando do Sindicato dos Metalúrgicos do Grande ABC, entidade que representa 100 mil trabalhadores. Que lições o sr. tirou do sindicalismo que pretende aplicar na política?
MARINHO – Para este terceiro e último mandato, temos a idéia de dar continuidade ao processo de renovação de quadros, dar oportunidade para outros líderes crescerem. Se o Lula continuasse na presidência do Sindicato, talvez nós não tivéssemos Meneguelli, Vicentinho, Guiba, eu. Temos de dar vazão para que outros venham participar deste processo de crescimento. As lições que o movimento sindical dá a cada um que participa dele são no sentido de tirar proveito, acima de tudo, da valorização que tem de ser dada à construção coletiva. Quem sai do movimento sindical e vai para a vida parlamentar no começo sofre porque acaba indo muito para o lado individual.

DIÁRIO – Que papel o sr. terá na campanha de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República? O sr. recebeu algum convite para coordenar a campanha pela região?
MARINHO – No momento, participo da comissão que elabora o programa de governo. No encontro nacional, antes da morte do Celso, ele, se não me engano, me indicou para fazer parte da comissão para a elaboração do programa, coordenada por ele. Esta é minha participação no momento.

DIÁRIO – O sr. já afirmou a intenção de disputar eleições. Neste caso, falamos das eleições municipais ou da próxima nacional? Que cargo o atrai?
MARINHO – Tenho uma disciplina coletiva forte. Não tomarei nenhuma decisão individual para esta ou aquela opção. Tudo foi colocado de forma natural. Não tenho vontade de ir para a direção nacional da CUT. Acho muito trabalhoso. Recebi o convite do Mercadante para que eu seja candidato a suplente dele. Discuti isso com o sindicato e a militância e meu nome está à disposição para esta tarefa. Sei que você vai insistir sobre a eleição para prefeito de São Bernardo, então já adianto o que foi colocado. Trabalhamos desde a eleição do Vicentinho para prefeito com a idéia de ele ser candidato a deputado federal e candidato a prefeito em 2004. Evidente que depois da próxima eleição, dependendo dos resultados, poderá haver nova discussão. Com a eleição do Lula presidente, as coisas poderão estar colocadas de outra forma, a continuidade da tarefa do Vicentinho no Congresso, por exemplo, e a necessidade de encarar a candidatura a prefeito de São Bernardo. Se isso for colocado desta forma, não fugirei do desafio. Mas o que é decisivo para mim é que não haverá absolutamente nenhum processo de disputa entre o Vicentinho e eu em torno da candidatura.

DIÁRIO – O sr. falou em seguir o caminho natural da política. Tendo em vista a escola que tem percorrido – a mesma de Lula e Vicentinho – o sr. tem em mente algum dia disputar a Presidência ou governo do Estado?
MARINHO – Isso nunca me passou pela cabeça. Agora, o futuro é muito incerto. Vamos imaginar que um dia seja colocada esta possibilidade. Só aí será o momento de pensar nisso.

DIÁRIO – Com o aumento do desemprego na indústria, a cobrança e pressão sobre o Sindicato são proporcionais. O sr. poderia analisar essa situação limite sob a ótica de um governo de Lula e de um governo de José Serra?
MARINHO – Vejo o governo Lula como o das grandes negociações nacionais, envolvendo os vários setores da sociedade para planejar as ações que o país necessita. Por exemplo, nós estamos agora em vias de entrar num problema sério em relação ao petróleo, com relação à disparada do preço. Somos quase auto-suficientes na produção desta matéria-prima. E poderíamos ser totalmente, se houvesse uma política de complementação da produção do petróleo nacional com a indústria do álcool, que estamos quase aposentando. Daqui a pouco as duas empresas que produzem carro a álcool, a Fiat e a Volkswagen, resolvem abandonar o projeto. Agora é evidente que vamos ter de escolher setores onde será preciso promover enfrentamentos. Se tem renda suficiente no Brasil e ela está concentrada na mão de poucos, alguém vai ter de abrir mão de parte do que tem. Vamos ter de escolher esses setores e promover o enfrentamento e os choques de distribuição de renda. Quanto ao Serra, ele é uma incógnita, porque é governo. E por ser governo, sabemos a priori o que foi a gestão Fernando Henrique durante oito anos.




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