Automóveis Titulo
Restauração dá vida a sonho com rodas
Sérgio Vinícius
Do Diário do Grande ABC
21/08/2001 | 17:56
Compartilhar notícia


A diferença entre adultos e crianças é o preço de seus brinquedos. Prova disso é que durante a infância, principalmente entre os garotos, um dos artigos mais recorrentes nas brincadeiras são os carrinhos – de corda, fricção, pilha, controle remoto. Quando a maioridade chega, muitos não esquecem seus antigos sonhos sobre rodas, que somente mudaram de tamanho e custo, mas proporcionam a mesma felicidade de outrora.

Devido a esse saudosismo, não são poucos os que investem tempo e dinheiro na aquisição de carros antigos – que estão há anos fora das linhas de montagem – para, depois, reformá-los. “Quem compra carros antigos em péssimo estado para recuperá-los traz esse sonho da infância”, diz Antônio Ferreira da Cruz, proprietário da oficina MP Lafer, de São Bernardo, especializada em reparação de carros antigos. “Normalmente, são adultos que sonham em ter um modelo que há muito abandonou as ruas, mas não o imaginário deles.”

Para quem deseja se aventurar nesse tipo de hobby, os especialistas afirmam que paciência e criatividade são qualidades recomendadas. “Muitas vezes, o interessado pode passar anos atrás de uma única peça”, afirma o ferramenteiro João Baptista Sanches, de Santo André, que comprou uma Romi-Isetta em 1984 e terminou de recuperá-la há pouco mais de uma semana. “Se não é possível encontrar o item original, moldar outra peça no lugar pode ser uma solução interessante”, afirma Sanches, com a propriedade de quem, depois de muita procura sem sucesso, adaptou saladeiras no lugar das calotas.

Outro quesito necessário para quem se aventura na renovação de carros antigos é a pesquisa – desde a teórica, em livros e revistas especializados, até em ferros-velhos. “Com um pouco de paciência, cerca de 90% das peças mecânicas de carros antigos podem ser encontradas”, diz Cruz. Segundo os hobbystas, o problema fica por conta dos itens de acabamento. Mas muitos deles, embora não sejam originais, podem ser moldados como réplicas em oficinas da região.

Fusca 66 – O perfil daqueles que reformam carros antigos poderia ser descrito como adultos bem-sucedidos, do sexo masculino, com mais de 40 anos, que realizam um sonho de infância ao adquirir o modelo para ser um segundo, terceiro ou até quarto carro.

Fernando Régis Saraiva, autônomo de Diadema, difere dessa descrição, a começar pela idade – ele tem 19 anos. Há pouco mais de 15 meses, Fernando adquiriu um Fusca 66, “caindo aos pedaços, mas com muitas peças originais”, e iniciou a restauração, sempre feita nas horas livres. Pouco tempo depois, o modelo estava quase impecável. “Renovei motor, assoalho, parte elétrica e até os pedais”, explica.

Entre as raridades do Fusca estão o volante original com o brasão de São Bernardo e o porta-luvas com um detalhe cromado que funciona como puxador. Além disso, o modelo traz outra característica histórica: foi o último a ter sistema elétrico de 6 volts – a partir de 67, o Fusca sairia de fábrica com 12 volts.

A paixão de Fernando pelas raridades também vem da infância. “Sempre gostei de carros antigos. Meu sonho era adquirir um Landau. Mas nunca o comprei porque não teria dinheiro para a gasolina”, afirma. Comprar o Fusca foi um “acidente”. “Embora eu aprecie veículos antigos, adquiri o Fusca por acaso.”

Fernando trabalhava no Centro de São Paulo quando viu um anúncio do modelo – “peça para colecionador, impecável, somente R$ 2 mil”. Ao encontrar o Fusca, ficou decepcionado com o estado do veículo. “Então, pensei: ofereço um valor menor, o proprietário irá rejeitar e eu vou embora sem o mico. O problema é que o proprietário aceitou minha oferta”, lembra. “Mas, hoje em dia, não me arrependo da aquisição”, afirma Fernando. Segundo suas estimativas, já gastou até agora, só nas reformas, mais do que pagou no carro. “E vou ter de desembolsar mais. Porém, vale a pena.”




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.

Mais Lidas

;