É difícil ver Lázaro Ramos perder o tom em suas interpretações. Sem ser caricatural, ele já representou um leque de personagens que não põem em xeque o seu talento. Do debochado Foguinho de "Cobras & Lagartos" - que rendeu-lhe indicação ao Emmy de melhor ator em 2007 - ao pujante travesti Madame Satã.

Agora, com André de "Insensato Coração", o ator dá uma patinada. A caricatura chega a ser deslavada, o que, infelizmente, faz com que o personagem perca a profundidade.

André é prepotente, grosseirão e mulherengo, mas há uma tênue linha interpretativa que é capaz de passar a mensagem sem desumanizar o garanhão. José Mayer, que muitas vezes foi achincalhado pelo descaramento dos seus galãs, é a prova perfeita de que não é sensato subestimar o ‘machão'. Difícil é fazer com que ele convença. E isso o mocinho que é onipresente nas novelas de Manoel Carlos faz bem.

Ramos, ao longo dos capítulos, tem diminuido o excesso de caras e bocas que faz. No primeiro capítulo chegou a assustar. Agora, faz soar quase engraçado o drama do homem que não consegue apegar-se a uma mulher por conta do desmesurado amor-próprio. Tudo bem que há uma faceta cômica na situação, mas na hora que o personagem cair em si, perceber que não é o rei do universo e não tem mais o amor da Camila Pitanga, o ‘carão' não vai fazer sentido, e a trajetória de André, assim como sua possível redenção, não representará nada, porque tudo soará como se fosse um esquete do "Zorra Total".

Se o ator, que morre de vergonha de ter feito o filme protagonizado por Carla Perez, "Cinderela Baiana" (1998) - ele não gosta nem de ouvir falar sobre - não descobrir a tempo o quanto sua interpretação de André não condiz com seu talento, talvez arranje mais uma vergonha para a coleção.